Capítulo 11

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AGNES

Álvaro me encarava, seu olhar profundo, carregado de algo que eu não conseguia decifrar totalmente. Eu sabia que ele era perigoso. Eu sabia do que ele era capaz. Mas, naquele momento, algo mais forte que o medo crescia dentro de mim. Era como se cada palavra, cada olhar dele, tivesse o poder de me desarmar de formas que eu jamais imaginaria. E isso me aterrorizava tanto quanto me atraía.

— Nós não podemos — murmurei, minha voz soando mais suave do que eu pretendia.

Ele riu de novo, um som baixo e rouco, e senti aquele mesmo arrepio subir pela minha espinha. O jeito como ele se inclinava ainda mais em minha direção, os olhos brilhando de um jeito que misturava perigo e desejo, me deixava completamente fora de mim.

— Nós não podemos? — ele repetiu com a voz baixa, como se estivesse provocando, tentando arrancar mais de mim.

Eu o encarei, tentando manter o controle. Foco, Agnes, eu repetia mentalmente para mim mesma, tentando afastar o turbilhão de pensamentos. Álvaro era um enigma que eu não deveria tentar resolver. Ele era parte de algo muito maior, muito mais sombrio, e eu deveria manter isso em mente.

— Isso mesmo — respondi, minha voz tentando soar firme, mas a proximidade dele me desconcentrava. — Isso daria uma tremenda confusão.

Álvaro se afastou um pouco, mas apenas o suficiente para me dar espaço para respirar, como se ele soubesse exatamente o efeito que tinha sobre mim. Seus olhos, sempre tão intensos, percorreram meu rosto por um instante antes de ele responder.

— E você acha que eu teria te colocado dentro do meu apartamento se não soubesse lidar com confusão? — ele perguntou, um leve sorriso brincando nos lábios, mas o tom de voz permanecia sério.

— Não — admiti, olhando para as minhas mãos por um momento. — Mas talvez eu não saiba lidar com confusões… amorosas.

Ele assentiu, seus olhos fixos nos meus, e por um momento ele ficou em silêncio, como se ponderasse as próximas palavras. Quando ele finalmente falou, a voz estava mais baixa, quase um sussurro.

— Eu nunca vou causar problemas para você que eu não possa resolver, Agnes.

Essas palavras ficaram no ar entre nós, ressoando em meus ouvidos. Havia algo profundamente verdadeiro nelas, algo que eu não conseguia ignorar. Era como se Álvaro estivesse admitindo que eu teria problemas se me envolvesse com ele, mas nada que não pudesse ser resolvido. E por mais que eu tentasse manter a distância emocional, por mais que eu soubesse o perigo que esse homem representava, havia algo nele que me atraía, que me puxava para perto.

Antes que eu pudesse responder, Álvaro se levantou lentamente, como se precisasse de espaço para processar o que quer que estivesse passando pela cabeça dele. A gravata que ele havia afrouxado mais cedo agora estava completamente solta, e ele a jogou sobre o braço do sofá. O movimento era casual, mas cada detalhe sobre ele, da maneira como os ombros largos se moviam à forma como ele passava a mão pelos cabelos, deixava claro que ele carregava uma tensão que ia além das palavras que tinha acabado de dizer.

— Você tem noção do que tá acontecendo lá fora? — ele perguntou de repente, virando-se para me encarar, a expressão mais séria agora, sem o traço de humor que antes pairava no ar.

Minha respiração falhou por um momento. Ele estava me perguntando diretamente. Estava querendo saber o quanto eu tinha ouvido, o quanto eu sabia.

— Eu... — Comecei a falar, mas a verdade era que eu ainda estava processando tudo. — Sei o suficiente. Sei que tem algo terrível acontecendo com essas crianças. E sei que você tá envolvido, de alguma forma.

Ele estreitou os olhos, avaliando minha resposta com um cuidado que me fez sentir como se estivesse pisando em terreno perigoso. A verdade era que eu sabia muito menos do que queria, mas o suficiente para entender que Álvaro estava no meio de algo maior do que eu poderia imaginar.

— Eu não tô envolvido nesse tipo de coisa — ele disse com firmeza, os olhos cravados nos meus, como se quisesse que eu entendesse aquilo de uma vez por todas. — Eu não sou santo, Agnes, mas tem coisas que nem eu posso aceitar. — O tom dele era definitivo, mas havia algo em sua expressão, algo no modo como ele olhava para mim, que mostrava uma vulnerabilidade que eu não esperava.

— Mas... a sua família... — Comecei, hesitante.

Ele balançou a cabeça, me cortando antes que eu pudesse continuar.

— A minha família tem muito poder, mas também tem muitos inimigos. O que você ouviu hoje, o que eu enfrento... — Ele fez uma pausa, passando a mão pelos cabelos de novo, claramente frustrado. — Eu tô tentando sair de um buraco que foi cavado muito antes de eu nascer.

As palavras dele me atingiram com força. Por um momento, eu não sabia o que dizer. Álvaro era perigoso, disso eu sabia. Mas ele também parecia estar preso em uma família cheia de segredos e alianças que o sufocavam, e isso o tornava mais humano do que eu estava preparada para admitir.

— Por que tá me contando isso? — perguntei, sem conseguir esconder a confusão em minha voz.

Ele deu de ombros, mas seus olhos estavam fixos nos meus, como se esperasse alguma reação da minha parte.

— Porque você tá aqui. E, de uma forma ou de outra, agora faz parte disso.

Minhas mãos tremiam levemente enquanto eu processava aquelas palavras. Eu estava no meio de algo muito pior do que o leilão, muito mais profundo do que as suspeitas que eu tinha sobre ele. E, no fundo, eu sabia que a única razão pela qual eu ainda estava ali era porque, de algum modo, ele havia decidido que eu podia saber. Que eu podia estar envolvida.

Mas por quê?

Antes que eu pudesse formular uma resposta, ele se aproximou de novo, os olhos fixos em mim, mas dessa vez a tensão entre nós parecia diferente. Havia algo mais íntimo, mais perigoso. A distância entre nós se encurtou, e senti meu coração bater mais rápido. Eu sabia que havia muito mais entre nós do que simples atração. Havia segredos, mentiras, e uma incerteza que me aterrorizava.

— Você não pode contar para ninguém o que ouviu hoje — ele murmurou, a voz baixa e carregada de uma intensidade que me deixou sem fôlego. — Eu quero te matar de tesão e não com tiros.

Deveria ficar com medo, mas, por alguma razão, me senti excitada com sua ameaça nada sútil.

Ele se inclinou, e o calor entre nós voltou a se intensificar. Minhas mãos tremiam, e senti a respiração dele, quente e pesada, roçar a pele do meu pescoço. Tudo dentro de mim gritava que eu deveria fugir, mas, ao mesmo tempo, a atração que eu sentia por ele me prendia naquele lugar, naquele instante.

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Instagram: ficsdacapitu

NA MIRA DE UM STALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora