AGNES
Passei o dia tentando me distrair, mas a cada hora que passava, a ansiedade só aumentava. Eu caminhava de um lado para o outro no apartamento, abria e fechava a mala, mexia no celular, só para não pensar no fato de que estava sozinha naquele lugar gigantesco, esperando Álvaro voltar. A Ingrid já tinha ido embora há horas.
A pesquisa que eu fiz de manhã ainda estava viva na minha mente. Ele era filho do presidente do Brasil, um nome poderoso com um histórico de acusações, ligações com milícias e outros crimes graves. Não sabia o que esperar, mas a verdade era que eu estava aterrorizada. No entanto, eu não podia ficar presa no medo. Precisava entender o que estava acontecendo. Precisava entender quem realmente era Álvaro e por que ele estava tão envolvido em tudo aquilo.
À noite, quando finalmente ouvi a porta da frente se abrir, meu coração acelerou. Eu estava na sala de estar, deitada no sofá, assistindo a “Dez Coisas que Odeio em Você”. O filme rodava na TV enquanto eu, perdida em meus pensamentos, fingia que prestava atenção. Álvaro entrou na sala, ainda com aquela postura firme, mas havia um traço de cansaço em seu olhar.
Ele parou por um instante, me observando, antes de caminhar até o sofá e se sentar ao meu lado. Senti a presença dele ao meu lado como uma carga elétrica que percorreu meu corpo. Tentei manter a calma, mesmo com o medo e a curiosidade fervilhando dentro de mim.
— O que você está assistindo? — perguntou, seu tom casual, mas ainda assim carregado de uma curiosidade silenciosa.
— É um filme de comédia romântica, “Dez Coisas que Odeio em Você” — respondi, tentando soar normal. — É sobre uma garota que não pode namorar até que a irmã mais velha encontre alguém. Aí um cara é pago para sair com a irmã mais velha, mas ele acaba se apaixonando por ela.
— Interessante — murmurou, fixando os olhos na tela.
— É um dos meus favoritos — continuei, tentando relaxar. — Tem uma mistura de humor e drama que sempre me prende. Sem falar que o protagonista é... — dei uma risadinha para descontrair, sentindo o calor subir pelo meu rosto. — Bem, digamos que ele ajuda na experiência.
Álvaro ergueu uma sobrancelha, com um olhar curioso.
— Ah, é? — perguntou, inclinando-se um pouco mais para perto, o tom de voz carregado de uma leve provocação. — E o que exatamente ele faz para ajudar tanto assim?
Eu ri, um riso nervoso, consciente do quanto minha admiração pelo personagem parecia boba comparada ao ambiente tenso em que estávamos.
— Bom, ele é o tipo de personagem que não se importa com o que os outros pensam. Faz o que quer, do jeito que quer. — Eu o encarei, sentindo meu rosto queimar sob o olhar atento de Álvaro. — E ele também tem aquele charme de bad boy que... — fiz uma pausa, encolhendo os ombros como se isso explicasse tudo. — É irresistível. Você sabe como é, né?
Álvaro deixou escapar um riso abafado, que parecia ecoar pela sala.
— Então, você gosta de bad boys? — perguntou, sua voz agora carregada de um humor leve, mas os olhos fixos nos meus, como se estivesse tentando decifrar cada palavra minha.
Engoli em seco, tentando manter o tom casual, mesmo sentindo meu coração disparar.
— Digamos que eles têm um certo apelo... — brinquei, balançando a cabeça. — Mas só na tela, ok? Na vida real, prefiro evitar encrenca.
Ele assentiu, um sorriso discreto brincando em seus lábios. Havia algo naquele sorriso, algo que me fazia questionar se ele não estava se divertindo um pouco às minhas custas.