AGNES
Sair daquele leilão foi como respirar depois de quase se afogar. O ar noturno do Rio de Janeiro me envolveu assim que cruzamos as portas pesadas, e eu senti o peso da noite me puxar de volta à realidade. Eu não sabia ao certo o que esperar, mas estar ao lado de Álvaro, depois de tudo o que tinha acontecido, me trouxe uma sensação contraditória de alívio e tensão.
— Posso pegar minhas coisas no hotel? — perguntei, ainda tentando encontrar a normalidade em meio ao caos que foi a noite.
Álvaro lançou um olhar rápido para mim antes de responder.
— Não se preocupe, vou mandar alguém buscar suas coisas e levar para o meu apartamento. — A forma como ele disse isso foi direta, mas não grosseira.
Eu sentia que ele estava no controle, mas não de uma maneira que me deixasse à vontade.
Assenti, sem vontade de discutir, e seguimos até o carro. Sentei ao lado dele no banco do carona, sentindo o couro frio sob mim. Minutos depois, a cidade passava como um borrão pela janela, mas meu foco estava completamente em Álvaro. Eu o observava de soslaio, tentando decifrar quem ele realmente era. O cheiro amadeirado da colônia dele, aquele mesmo aroma que senti quando ele colocou o paletó sobre meus ombros, ainda pairava no ar, criando uma estranha familiaridade.
— Onde você mora? — ele perguntou, a voz firme, porém suave, quebrando o silêncio.
Seus olhos não se moviam para mim, mantinham-se focados na estrada à frente.
— Em Belo Horizonte, mas nasci e cresci em Monte Belo, uma cidadezinha pequena de Minas. — Minha voz saiu baixa, hesitante.
Era sempre estranho falar sobre casa, ainda mais agora que eu sentia que estava tão distante de tudo.
— Mora sozinha? — Ele lançou um rápido olhar para mim dessa vez, como se estivesse estudando cada palavra que eu dizia.
— Sim... — fiz uma pausa, desviando o olhar para minhas mãos. — Não falo com a minha família. A gente brigou.
As palavras saíram com um gosto amargo, mas era a verdade. Uma verdade que preferia manter enterrada, mas ali estava ela, exposta.
Álvaro assentiu, sem forçar o assunto, o que me trouxe um breve alívio.
— Quantos anos você tem? — ele continuou, mudando o rumo da conversa, mas ainda mantendo um tom neutro.
— Vinte e três — respondi, tentando me recompor.
— Já faz tempo que é influencer? — Ele parecia mais interessado agora, como se quisesse me entender melhor.
Respirei fundo antes de responder.
— Há uns cinco anos. Quando eu fiquei com um cantor famoso, sem saber que ele era casado, e tiraram fotos minhas. Foi um escândalo. Mas... eu usei os limões para fazer uma limonada. — Sorri de canto, uma tentativa de alívio, de deixar a conversa menos pesada.
Álvaro riu suavemente e assentiu novamente.
— Bom, parece que você soube tirar proveito da situação.
Eu ri, um riso leve, mas que escondia toda a confusão interna. Havia algo nele que me intrigava. Queria saber mais, então tomei coragem.
— Posso saber mais sobre você? — perguntei, virando-me um pouco no banco para encará-lo.
— Claro — ele respondeu sem hesitar, como se já esperasse por essa pergunta.
— Quantos anos você tem? — Eu estava curiosa, afinal, ele não parecia tão mais velho, mas havia algo nos seus olhos, uma seriedade que denunciava uma experiência maior.