Capítulo 5

913 166 20
                                    

AGNES

Sair daquele leilão foi como respirar depois de quase se afogar. O ar noturno do Rio de Janeiro me envolveu assim que cruzamos as portas pesadas, e eu senti o peso da noite me puxar de volta à realidade. Eu não sabia ao certo o que esperar, mas estar ao lado de Álvaro, depois de tudo o que tinha acontecido, me trouxe uma sensação contraditória de alívio e tensão.

— Posso pegar minhas coisas no hotel? — perguntei, ainda tentando encontrar a normalidade em meio ao caos que foi a noite.

Álvaro lançou um olhar rápido para mim antes de responder.

— Não se preocupe, vou mandar alguém buscar suas coisas e levar para o meu apartamento. — A forma como ele disse isso foi direta, mas não grosseira.

Eu sentia que ele estava no controle, mas não de uma maneira que me deixasse à vontade.

Assenti, sem vontade de discutir, e seguimos até o carro. Sentei ao lado dele no banco do carona, sentindo o couro frio sob mim. Minutos depois, a cidade passava como um borrão pela janela, mas meu foco estava completamente em Álvaro. Eu o observava de soslaio, tentando decifrar quem ele realmente era. O cheiro amadeirado da colônia dele, aquele mesmo aroma que senti quando ele colocou o paletó sobre meus ombros, ainda pairava no ar, criando uma estranha familiaridade.

— Onde você mora? — ele perguntou, a voz firme, porém suave, quebrando o silêncio.

Seus olhos não se moviam para mim, mantinham-se focados na estrada à frente.

— Em Belo Horizonte, mas nasci e cresci em Monte Belo, uma cidadezinha pequena de Minas. — Minha voz saiu baixa, hesitante.

Era sempre estranho falar sobre casa, ainda mais agora que eu sentia que estava tão distante de tudo.

— Mora sozinha? — Ele lançou um rápido olhar para mim dessa vez, como se estivesse estudando cada palavra que eu dizia.

— Sim... — fiz uma pausa, desviando o olhar para minhas mãos. — Não falo com a minha família. A gente brigou.

As palavras saíram com um gosto amargo, mas era a verdade. Uma verdade que preferia manter enterrada, mas ali estava ela, exposta.

Álvaro assentiu, sem forçar o assunto, o que me trouxe um breve alívio.

— Quantos anos você tem? — ele continuou, mudando o rumo da conversa, mas ainda mantendo um tom neutro.

— Vinte e três — respondi, tentando me recompor.

— Já faz tempo que é influencer? — Ele parecia mais interessado agora, como se quisesse me entender melhor.

Respirei fundo antes de responder.

— Há uns cinco anos. Quando eu fiquei com um cantor famoso, sem saber que ele era casado, e tiraram fotos minhas. Foi um escândalo. Mas... eu usei os limões para fazer uma limonada. — Sorri de canto, uma tentativa de alívio, de deixar a conversa menos pesada.

Álvaro riu suavemente e assentiu novamente.

— Bom, parece que você soube tirar proveito da situação.

Eu ri, um riso leve, mas que escondia toda a confusão interna. Havia algo nele que me intrigava. Queria saber mais, então tomei coragem.

— Posso saber mais sobre você? — perguntei, virando-me um pouco no banco para encará-lo.

— Claro — ele respondeu sem hesitar, como se já esperasse por essa pergunta.

— Quantos anos você tem? — Eu estava curiosa, afinal, ele não parecia tão mais velho, mas havia algo nos seus olhos, uma seriedade que denunciava uma experiência maior.

NA MIRA DE UM STALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora