Capítulo 22

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AGNES

Acordei com a luz suave que entrava pela cortina branca do quarto pequeno do apartamento Renata e do Fábio. O ambiente era simples, minimalista, com as paredes brancas e o ar de tranquilidade que quase me fez esquecer o caos que estava a minha vida. Espreguicei-me, sentindo os músculos ainda tensos do dia anterior, e tentei afastar os pensamentos sobre tudo o que estava acontecendo.

Levantei da cama com cuidado, sem fazer barulho, e fui até o banheiro que ficava logo ao lado. O espelho oval refletia meu rosto cansado, os olhos azuis inchados pelo sono agitado e os cabelos loiros, sempre tão bem arrumados nas fotos, agora estavam emaranhados, caindo sobre meus ombros. Encarei-me por alguns segundos, notando as olheiras que começavam a se formar e a palidez da minha pele clara, antes de lavar o rosto com água fria, na esperança de afastar o torpor que me dominava. A água gelada me trouxe um pouco de alívio, mas, ao mesmo tempo, fez com que a realidade se impusesse de novo com toda a força.

Tomei um banho rápido, deixando a água escorrer pelo meu corpo como se quisesse lavar não apenas a sujeira, mas também as preocupações e medos. Era inútil. Vesti uma roupa confortável, uma camiseta larga e uma calça de moletom simples. Nada muito chamativo, afinal, estava na casa de um homem casado, e o último que eu queria era passar uma impressão errada, mesmo que Renata e Fábio tivessem sido extremamente acolhedores até agora.

Depois de me vestir, respirei fundo e saí do quarto, caminhando em direção à cozinha. O aroma do café fresco já invadia o ar, misturado ao cheiro do pão tostando na torradeira. Quando entrei na cozinha, vi Renata e Fábio preparando o café juntos. Eles eram lindos juntos, de uma forma que parecia fácil demais. Renata, com sua pele bronzeada, cabelos castanhos ondulados e aqueles olhos verdes que brilhavam sempre que ela olhava para ele. Fábio, alto, magro, com uma barba bem aparada e os cabelos pretos curtos. Eles eram a definição de um casal que combina em todos os sentidos.

— Bom dia, Agnes! Dormiu bem? — Renata me cumprimentou com aquele sorriso gentil, enquanto ajeitava a mesa com pães e frutas.

— Bom dia — respondi, tentando forçar um sorriso. — Dormi, sim. Obrigada por me deixarem ficar.

Fábio, que estava mexendo o café, levantou os olhos e me lançou um sorriso acolhedor.

— Claro, você é bem-vinda. Inclusive, chamei um amigo meu para verificar seu apartamento mais tarde. Ele vai fazer uma varredura completa pra ver se encontra mais alguma coisa, qualquer aparelho ou escuta. E, olha, eu sugeriria que você instalasse câmeras de segurança por lá. Pode ser que ajude você a se sentir mais segura.

Assenti, enquanto me sentava à mesa. A ideia de ter câmeras no meu apartamento me dava uma sensação de controle, mesmo que mínima. Mas, ao mesmo tempo, a paranoia de que eu já estava sendo vigiada aumentava.

— Talvez seja uma boa ideia... — murmurei, pegando uma fatia de pão e passando manteiga. — Só que contratar um segurança particular... Isso é um pouco fora do meu orçamento.

— Deixa isso pra lá — disse Fábio. — Eu e a Renata estamos aqui. Qualquer coisa, você nos chama. Não é incomodo nenhum.

Olhei para Renata, esperando algum sinal de desconforto, afinal, as mulheres sempre me olham com aquele olhar de julgamento, como se eu fosse uma ameaça. Mas, para minha surpresa, Renata apenas sorriu, acenando com a cabeça.

— Claro que pode contar com a gente, Agnes. Não tem porque ficar sozinha numa situação dessas — ela falou de forma tranquila, sem aquele olhar de julgamento que eu tanto temia.

Isso me fez lembrar de algo. A insinuação que Álvaro fez sobre eu ser garota de programa ainda ecoava na minha cabeça. Será que eu passava essa impressão para todos? Comecei a me perguntar se tudo isso que estava acontecendo, as mensagens, as câmeras, eram consequências de como eu me apresentava nas redes sociais. Talvez eu estivesse me expondo demais, me sexualizando demais. Talvez, de alguma forma, eu tivesse causado isso.

Enquanto tomávamos café, Fábio comentou sobre o trabalho, e Renata falava sobre seu home office. Eles eram o típico casal equilibrado, vivendo uma rotina tranquila. Depois de alguns minutos, Fábio se levantou, pronto para sair.

— Bom, vou pro trabalho. O amigo que chamei deve passar no seu apartamento mais tarde. Assim que ele terminar, te aviso — ele disse, se despedindo com um sorriso caloroso.

— Obrigada, Fábio — respondi, sentindo uma gratidão genuína.

Ele era gentil, e isso me confortava um pouco, mas o medo ainda estava lá, rondando meus pensamentos.

Renata ficou comigo, trabalhando de casa. Eu tentei me distrair, mas não consegui tirar da cabeça as imagens da câmera no meu apartamento, a sensação de estar sendo observada o tempo todo. Passei a manhã revisando minhas redes sociais, e a cada foto que via, sentia uma angústia crescer no peito. As fotos mais sensuais, os vídeos provocantes... tudo aquilo agora parecia errado, como se fossem janelas abertas para alguém me invadir, me perseguir.

Sem pensar muito, comecei a deletar as fotos. Uma por uma, as imagens em que eu estava mais exposta foram sumindo. Eu queria apagar aquela versão de mim, queria me proteger. Não sabia se isso ajudaria, mas era o que parecia certo naquele momento. Talvez, se eu me escondesse melhor, se me mostrasse menos, esse stalker desistisse de me perseguir.

Mal terminei de deletar as fotos, e meu celular vibrou em cima da mesa. Olhei para a tela, sentindo um calafrio percorrer minha espinha. Era uma mensagem de um número desconhecido.

"Não adianta se esconder nas casas dos seus amiguinhos. Eu posso tirar eles do caminho na hora que eu quiser."

Meu coração disparou. Senti o sangue gelar nas veias enquanto meus olhos percorriam aquelas palavras na tela. A ameaça estava ali, clara, direta. Fábio e Renata estavam em perigo, e isso era minha culpa.

Levantei os olhos e vi Renata do outro lado da sala, concentrada em seu trabalho. Por um segundo, pensei em contar a ela, mas hesitei. O que eu deveria fazer agora?

Respirei fundo, tentando acalmar os pensamentos, mas a realidade era implacável. Alguém estava me observando, alguém sabia onde eu estava, e não adiantaria me esconder. A sensação de impotência crescia a cada segundo, e eu não sabia mais a quem recorrer.

Eu estava realmente em perigo. E pior: estava colocando pessoas inocentes nesse jogo também.

NA MIRA DE UM STALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora