Capítulo 24

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AGNES

Desde que Álvaro saiu do meu apartamento, deixando aquele buquê de girassóis sobre a mesa, uma sombra de dúvida me perseguiu. Embora as fotos e vídeos dos tabloides confirmassem que ele estava em um cruzeiro com amigos, algo dentro de mim continuava me empurrando a questionar tudo. Talvez fosse paranoia, talvez a tensão dos últimos dias estivesse se infiltrando nos meus pensamentos, mas eu não conseguia apagar a sensação de que algo estava terrivelmente errado.

Eu passei horas nas redes sociais, investigando cada detalhe, vasculhando perfis, conferindo datas, postagens e até mesmo comentários. Álvaro parecia estar exatamente onde disse que estava, fora do meu radar e longe de Belo Horizonte. Ele não poderia ser o stalker. Mas, ainda assim, a dúvida permanecia. E se, de alguma forma, ele estivesse manipulando tudo? Com o poder e os recursos que ele tinha, não seria impossível. Meus olhos fitavam o vazio da tela enquanto essas perguntas ecoavam na minha mente.

Quando as mensagens começaram a se tornar mais ameaçadoras, o pavor tomou conta. Não eram mais apenas ameaças disfarçadas de elogios ou comentários sobre minhas roupas. O tom mudou. Agora, era como se alguém estivesse me observando de perto, muito mais perto do que eu poderia suportar.

A primeira mensagem que me deixou com o coração na boca dizia: "Você acha que está sozinha, mas eu vejo tudo." Engoli em seco, sentindo o estômago revirar. Ignorei a mensagem, apaguei-a, bloqueei o perfil e tentei continuar com a minha vida. Mas as coisas ficaram piores.

Era tarde da noite, e eu estava deitada, tentando dormir, quando o celular vibrou na mesa de cabeceira. A princípio, pensei que fosse alguma notificação qualquer, mas o nome que piscou na tela me fez paralisar: Specter1989. Uma chamada. Como ele consegue desbloquear o próprio perfil? Eu já mudei de senhas várias vezes. Meu coração disparou. Atendi a ligação com as mãos trêmulas, hesitante.

— Estou mais perto do que você imagina — uma voz grave e baixa sussurrou do outro lado da linha. — Você sabia que não é recomendado deixar calcinha pendurada no box?

Meu corpo inteiro congelou. A respiração falhou, e por um segundo, o silêncio no meu quarto parecia ensurdecedor.

— Quem é você? O que você quer? — perguntei, mas a linha estava muda novamente.

Desliguei o telefone, ofegante. Olhei ao redor do quarto, o silêncio se tornando sufocante. Quem quer que fosse, sabia demais. Sabia onde eu estava, sabia que eu estava sozinha, sabia até onde coloco a minha calcinha. E, pior, parecia estar dentro da minha casa de algum modo.

Minha mente começou a correr com cenários. Levantei da cama em um pulo e comecei a verificar todas as portas e janelas, me sentindo ridícula, mas também desesperada. A cada tranca que eu confirmava estar segura, uma leve sensação de alívio me atingia. Mas quando cheguei ao banheiro, o alívio sumiu.

A janela estava entreaberta.

Eu não me lembrava de ter deixado aquilo assim. Minhas mãos tremiam ao tocar a borda da janela. Fechei com força, tentando afastar os pensamentos. Foi então que notei algo estranho. A calcinha preta que eu tinha certeza de que estava pendurada no box, secando desde a última vez que a lavei, agora estava em cima da pia. Um calafrio percorreu meu corpo. Cheguei mais perto, com o coração disparado.

— Não... — sussurrei para mim mesma, mas a visão diante de mim confirmou o que eu mais temia.

A calcinha estava lá, dobrada de forma cuidadosa, mas havia algo mais. Uma mancha viscosa, evidente, brilhando à luz fraca do banheiro. Era esperma.

Meu estômago revirou, e o pânico tomou conta de mim. Era como se todas as minhas barreiras mentais tivessem desmoronado de uma vez. A presença daquele líquido na minha calcinha era a prova de que alguém tinha estado dentro do meu apartamento, mexendo nas minhas coisas... observando cada movimento.

Com as mãos trêmulas, peguei meu telefone. Não sabia o que fazer além de ligar para a única pessoa que parecia ter os recursos e a disposição para me ajudar. Álvaro. Eu não queria, mas, ao mesmo tempo, não tinha outra escolha. O medo era sufocante, e a única pessoa que poderia fazer algo a respeito estava a poucos toques de distância.

— Álvaro... — minha voz saiu tremida quando ele atendeu. — Por favor, você precisa vir aqui. Agora.

Ele não fez perguntas. Talvez tenha sentido o desespero na minha voz. Eu desliguei e esperei, cada segundo parecendo uma eternidade.

Em menos de 20 minutos, ouvi o som da campainha, e corri até a porta. Quando a abri, lá estava ele, vestido de forma casual, com uma camisa de manga comprida e calça jeans. Seus cabelos estavam bagunçados com rosto marcado pelo cansaço e os olhos ligeiramente inchados.

— O que aconteceu? — perguntou, com a voz rouca de quem acabara de acordar.

Eu não consegui segurar. Minhas pernas pareciam ceder, e eu o abracei com força, sentindo o choro descer em um soluço pesado. Toda a tensão, o medo, o desespero, tudo saiu de uma vez.

— Calma, tá tudo bem... — Álvaro tentou me acalmar, passando as mãos pelas minhas costas em um gesto suave. — Eu tô aqui.

— Tem alguém aqui, Álvaro... tem alguém... — minha voz era quase inaudível.

— O que você viu? — ele perguntou, agora mais alerta, me afastando suavemente para me encarar.

Eu puxei-o para o banheiro, mostrando a cena grotesca. A calcinha com a mancha. O olhar de Álvaro se endureceu, o ar ao redor dele ficou pesado.

— Quem quer que seja, ele esteve aqui dentro... — minha voz falhou, e eu caí no choro de novo.

Álvaro respirou fundo, seus olhos escuros avaliando a situação. Ele ficou em silêncio por um momento, como se estivesse tentando absorver tudo.

— Você não vai ficar aqui sozinha — afirmou, com a voz firme. — Eu vou dar um jeito nisso, mas agora você precisa sair daqui.

Eu concordei, porque naquele momento, qualquer solução parecia melhor do que ficar naquela casa. Eu não sabia mais em quem confiar, e a única pessoa que estava ao meu lado era o homem que eu havia acusado de ser meu perseguidor.

NA MIRA DE UM STALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora