AGNES
Andar de um lado para o outro nunca foi algo que me acalmasse, mas eu não sabia o que mais fazer. O quarto tão silencioso parecia uma prisão disfarçada de luxo. Tudo parecia me observar. Era quase como se o próprio ambiente estivesse conspirando para me lembrar da confusão em que eu me meti.
Já passava das dez da manhã. O sol entrava suavemente pelas cortinas, projetando um brilho suave no chão de madeira polida, mas eu me sentia sufocada. A verdade era que eu mal tinha dormido. Cada vez que fechava os olhos, era como se a imagem de Álvaro aparecesse, aquele olhar intenso dele cravado em mim, me provocando, me desafiando. Não era só a lembrança do que aconteceu ontem à noite, era a tensão crescente entre nós, algo que eu não sabia como controlar.
Estava com fome, meu estômago roncava baixinho, me lembrando de que eu não tinha comido nada desde ontem. Mas a ideia de sair do quarto e encará-lo de novo me deixava nervosa.
"Será que ele pensa que eu estou... interessada?", me perguntei, sentindo o rosto esquentar. Eu não queria dar essa impressão. Só queria fazer a parte que me cabia nesse trato e ir embora o mais rápido possível.
Meu celular estava jogado na cama, mas não tinha coragem de mexer nele. A verdade é que fugir não era mais uma opção viável. Eu precisava resolver isso. Ou pelo menos, aguentar o tempo que fosse necessário. O problema era enfrentar Álvaro. Como agir depois de tudo? Eu ainda sentia o toque dele, a proximidade, o jeito que ele me puxou pela cintura, os lábios dele pressionando os meus, e aquele maldito calor que se espalhou pelo meu corpo sem a minha permissão.
"Agnes, você tá ficando louca", murmurei para mim mesma, passando a mão pelos cabelos, agora soltos, em um gesto ansioso. Mas antes que eu pudesse me afundar mais nos meus pensamentos, ouvi uma batida na porta.
Meu coração disparou.
— Vai morar aí dentro, Agnes? — A voz dele cortou o silêncio, carregada de um sarcasmo que me fez estremecer.
Eu congelei, incapaz de responder imediatamente. Quando tentei falar, a voz saiu trêmula, fraca.
— Não, eu... — Mal terminei de falar quando a porta se abriu, e lá estava ele, de pé, com aquele sorriso que me irritava e ao mesmo tempo me deixava desconcertada.
Álvaro entrou no quarto sem cerimônia, os olhos percorrendo o ambiente até se fixarem em mim. Ele estava com uma camisa preta, desabotoada no colarinho, e jeans escuros que moldavam seu corpo de uma maneira que só reforçava aquela aura de controle e autoconfiança. Tudo nele parecia projetar poder, e eu sentia a tensão subir, mais uma vez, dentro de mim.
— Você tá há uma hora parecendo uma barata tonta, andando de um lado para o outro... — Ele inclinou a cabeça levemente, com um sorriso que me fez corar. — Se só com um beijo eu te deixei assim, imagina se eu tivesse te apresentado meu pau.
A vergonha me atingiu como um tapa na cara, meu rosto pegando fogo. Não consegui evitar desviar o olhar, envergonhada, sem saber onde enfiar a cara. O pior de tudo era que ele estava certo. Eu tinha passado a manhã toda tentando processar aquele beijo, tentando não pensar em como meu corpo tinha reagido à presença dele.
— Como você sabe que eu tava assim? — perguntei, tentando soar firme, mas minha voz ainda traía a confusão interna.
Ele deu de ombros e apontou casualmente para a câmera que eu tinha descoberto no dia anterior. Era um gesto simples, como se fosse óbvio.
— Isso é sério? — perguntei, a raiva começando a surgir por entre a vergonha. — Você fica me espionando?
Ele revirou os olhos, como se estivesse cansado da minha surpresa.
— Relaxa, Agnes. É uma questão de segurança. — Ele deu mais um passo na minha direção, o sorriso sarcástico desaparecendo, substituído por algo mais sério. — Eu mal te conheço. Não dá pra confiar cegamente em alguém que aparece de repente na minha vida. Vai que você decide me apunhalar pelas costas enquanto durmo?
Eu cruzei os braços, tentando me manter firme, mas a sensação de ser vigiada o tempo todo me deixava desconfortável.
— E tem câmera no banheiro também? — perguntei, com uma pontada de sarcasmo.
Ele riu, um riso baixo, e balançou a cabeça.
— Não sou um doente, Agnes. Eu respeito a sua privacidade... dentro do possível.
Revirei os olhos, mas no fundo, saber que ele não estava invadindo aquele espaço pelo menos me deu algum alívio. Mesmo assim, o sentimento de invasão era difícil de ignorar. Eu não estava acostumada a ser vigiada desse jeito, como se cada movimento meu fosse uma potencial ameaça. A ideia de que ele sabia exatamente como eu estava agindo, me deixava desconcertada.
Suspirei, tentando me acalmar, olhando para baixo, ajeitando a blusa de manga longa preta e uma calça de tecido leve. Queria me sentir confortável, mas nada naquele ambiente parecia me permitir isso. Eu só queria esquecer o que tinha acontecido na noite anterior, mas a presença dele tornava isso impossível.
— Quer saber? — ele disse, mudando o tom de voz. — Vem comer alguma coisa. Tá na cara que você tá com fome.
Meu estômago roncou em resposta, quase como se estivesse concordando com ele. Eu estava faminta, mas ainda hesitava em sair do quarto. Contudo, o som do meu corpo traindo minha vontade foi alto o suficiente para que ele não deixasse passar.
— Vamos. Fiz um misto quente e tem suco na cozinha.
Sabia que resistir só prolongaria a minha agonia, então acabei assentindo, mesmo a contragosto. Segui Álvaro pelo corredor até a cozinha. Tudo no apartamento dele parecia frio, calculado, sem vida. Até a cozinha, que deveria ser o coração de uma casa, era impecável demais, sem a bagunça ou o calor que eu costumava associar a um lar.
Quando me sentei à mesa, ele me serviu um misto quente e um copo de suco, sentando-se em frente a mim. O silêncio entre nós era incômodo, mas necessário. Eu queria comer rápido, terminar logo e voltar para o quarto. A cada mordida, porém, sentia a tensão diminuindo, ainda que ligeiramente. O gosto simples do pão com queijo derretido e presunto era um alívio, algo familiar em meio ao caos.
— Tá gostoso — comentei, mais para quebrar o silêncio do que por qualquer outro motivo.
— Meu pau também é, Agnes — ele respondeu, com um sorriso irônico, me fazendo engasgar com o suco. — Talvez te faça engasgar também.
— Você é muito cara de pau.
Ele deu de ombros, rindo, enquanto eu me concentrava em terminar o lanche, mas logo ele voltou a falar, dessa vez com um tom mais sério.
— A gente podia sair pra almoçar depois. Tem um restaurante perto daqui que eu gosto muito.
Ergui o olhar, surpresa com a sugestão. A última coisa que eu queria era prolongar essa convivência mais do que o necessário.
— Não, obrigada. Eu só quero fazer a minha parte no trato e ir embora logo. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava.
Por um segundo, ele me encarou, e eu pude ver a expressão dele mudar. A brincadeira desapareceu dos seus olhos, substituída por uma frustração que ele não se deu ao trabalho de esconder.
— Fazer a sua parte no trato, é? — Ele se inclinou um pouco mais sobre a mesa, o tom de voz mais cortante agora. — Se você quer mesmo cumprir com a sua parte, então talvez a gente devesse parar de enrolar e você podia começar a foder comigo. Afinal, foi pra isso que você foi contratada, não foi?
As palavras dele me atingiram em cheio, como um tapa. Fiquei em silêncio, sem saber como responder. Ele falava com uma franqueza brutal, e isso me deixou sem chão. Eu sabia o que estava implícito no acordo que assinei, mas ouvir aquilo dito tão claramente, tão cru, me fez sentir como se tivesse sido exposta, reduzida a um simples objeto de desejo.
Eu queria gritar, queria me levantar e sair dali. Mas, ao invés disso, continuei sentada, presa entre o medo e a incerteza, sem saber qual seria meu próximo passo.
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