Capítulo 27

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AGNES

Continuei olhando as imagens, tentando me concentrar, mas parecia impossível. Álvaro ia perguntando sobre os dias em que eu tinha recebido mensagens ou sentido que havia alguém dentro do apartamento. Ele parecia anotar tudo mentalmente, e começamos a revisar as imagens das datas e horários que correspondem a esses momentos. A tela mostrava várias partes do condomínio: o hall de entrada, os corredores, as escadas. Mas não havia nada de suspeito, nada que indicasse alguém estranho entrando ou saindo do prédio.

— Você consegue lembrar mais alguma coisa, Agnes? — ele perguntou, a voz baixa e concentrada, enquanto mexia nas imagens, tentando encontrar alguma pista que pudesse ter escapado. — Alguém que você tenha visto nos dias em que recebeu aquelas mensagens, qualquer coisa fora do normal?

Respirei fundo, tentando puxar pela memória, mas tudo estava tão confuso. As últimas semanas tinham sido um pesadelo contínuo, e eu não conseguia separar o que era realidade do que era paranoia.

— Não lembro de nada — respondi, frustrada, me sentindo inútil por não poder ajudar mais. — Parece que ele sabe exatamente quando e onde não deve aparecer.

Álvaro continuou analisando as gravações, e então fez outra pergunta que me pegou de surpresa.

— E você tem inimizades? — Ele olhou para mim, os olhos fixos nos meus, como se tentasse ler meus pensamentos. — Alguém que possa estar fazendo isso só para te deixar paranoica, alguém que queira te assustar por algum motivo?

Pensei por um momento, considerando a pergunta. O meio da internet era tóxico e competitivo, e eu tinha acumulado alguns desafetos ao longo dos anos. Decidi ser honesta.

— Muitas — admiti, suspirando. — O mundo das redes sociais é cheio de intrigas, e as pessoas adoram se aproveitar umas das outras. A maioria dos meus desafetos são mulheres que não gostavam de mim por causa de algum desentendimento no passado, briguinhas bobas que viraram rixas eternas. E também tem alguns gays que tentaram tirar vantagem de mim. Só que eu fui mais esperta.

Álvaro arqueou uma sobrancelha, interessado na minha explicação.

— Como assim, "tirar vantagem"?

— Tentaram me usar para conseguir parcerias, contatos... essas coisas. Só que eu cresci com um amigo gay que era um trambiqueiro. Ele sabia todos os macetes que os outros usavam para manipular e se dar bem em cima dos outros. Aprendi muita coisa com ele, então nunca caí nesses golpes. Hoje, esse meu amigo mora ilegalmente nos Estados Unidos e vive ostentando uma vida de luxo que eu tenho certeza que consegue através de golpes.

Álvaro deu um sorriso de canto, como se estivesse apreciando a ironia da situação. Ele continuou passando os vídeos, mas seus dedos começaram a brincar com o coque que eu tinha feito no meu cabelo. Senti ele desmanchar o penteado, deixando meus fios soltos caírem pelas minhas costas. Seus lábios tocaram meu ombro, suaves e quentes, e um arrepio percorreu minha pele.

— Fico mais bonita assim? — perguntei, a voz saindo mais baixa do que eu pretendia.

— Fica — ele respondeu, os lábios ainda próximos ao meu ombro, o toque suave e provocante. — Eu prefiro assim, solto.

Me mexi um pouco na sua coxa, tentando ajustar a posição, mas só consegui fazer com que ele me puxasse mais para o colo dele, me prendendo com uma firmeza que era ao mesmo tempo carinhosa e possessiva. Senti o pau dele duro contra minha bunda, e um calor subiu pelo meu corpo.

— Você tem algum fetiche em câmeras de segurança? — provoquei, tentando quebrar a tensão com um pouco de humor.

Ele riu, um riso baixo e rouco, que vibrou contra a minha pele.

— Meu fetiche é você — ele disse, sem hesitar, a voz carregada de desejo.

O calor que eu sentia aumentou, e a mão dele começou a subir pela minha cintura, explorando meu corpo de maneira lenta e provocante. Quando seus dedos chegaram ao meu seio, ele começou a massagear de leve, e eu senti meu coração acelerar, a respiração ficando mais pesada. Era como se cada toque dele, cada movimento, fosse pensado para me deixar mais vulnerável, mais entregue.

Minha cabeça girava, dividida entre a paranoia de tudo o que estava acontecendo e a atração incontrolável que eu sentia por ele. Me permiti relaxar um pouco, deixar o momento me consumir, pelo menos por alguns instantes. Fechei os olhos, sentindo o toque firme da mão dele, o cheiro amadeirado que emanava de sua pele, o calor do corpo dele me envolvendo.

— Álvaro... — murmurei, sem saber exatamente o que queria dizer, só sabendo que precisava falar alguma coisa, qualquer coisa para não me perder completamente naquele momento.

Ele apertou meu seio com um pouco mais de força, e eu senti uma pontada de prazer misturada com o desconforto de saber que, por mais que eu quisesse, aquilo não resolvia a situação em que eu estava.

— Shh... — ele sussurrou, inclinando a cabeça para beijar o meu pescoço. — Deixa eu cuidar de você, Agnes.

Meu corpo cedeu um pouco mais, relaxando em seus braços. O toque dele, as palavras, tudo parecia me envolver como uma rede que eu não queria mais escapar. Senti as mãos dele deslizarem para debaixo do meu vestido, os dedos brincando com a pele nua das minhas coxas, enquanto ele continuava a beijar meu pescoço, mordendo de leve.

Era difícil pensar, difícil focar em qualquer outra coisa que não fosse o desejo crescente que ele me fazia sentir. Mesmo assim, uma parte da minha mente gritava, tentando lembrar do motivo pelo qual estávamos ali, das imagens, do stalker, de tudo o que eu precisava resolver.

— Álvaro, nós não podemos... — comecei, a voz embargada, mas ele não deixou que eu terminasse.

— Podemos, sim — ele murmurou, a voz baixa e firme. — Eu quero você, você me quer… O que tem de errado?

— Tem um doido me perseguindo… Não é o melhor momento.

— Vai ficar tudo bem. Eu tô cuidando disso, Agnes. E, enquanto eu cuidar, ninguém vai tocar em você.

As palavras dele tinham uma intensidade que eu não podia ignorar. Elas ecoavam na minha cabeça, me fazendo querer acreditar, me fazer sentir segura. E era isso que ele fazia, não era? Mesmo que eu tenha escolhido vir embora para Belo Horizonte, deixando-o sozinho no Rio de Janeiro, ele estava ali, tentando me proteger de uma ameaça que eu mal entendia.

Mas e se fosse ele o perigo?

Me afastei um pouco, só o suficiente para olhar nos olhos dele. Queria ver a verdade nele, queria encontrar algo que me desse a certeza de que eu não estava sendo enganada.

— Eu só quero... — comecei, a voz tremendo um pouco. — Eu só quero que isso acabe. Quero voltar a viver a minha vida, sem medo.

Ele subiu a mão pela lateral do meu corpo e acariciou o meu rosto, os dedos firmes, mas delicados.

— Eu vou acabar com a vida desse cara. — Ele fez uma pausa, inclinando a cabeça para perto, os lábios quase tocando os meus. — Confia em mim.

Eu queria confiar. Queria me entregar e acreditar que ele era a solução para tudo, que eu não estava apenas caindo em mais uma armadilha. Mas parte de mim ainda resistia, ainda se agarrava ao medo que crescia cada vez mais dentro de mim.

Ele percebeu a hesitação e, em vez de pressionar, simplesmente me segurou ali, me dando o tempo que eu precisava. Isso fez meu coração acelerar de novo, não de medo, mas de desejo. De uma vontade incontrolável de deixar tudo para trás e me perder nele.

— Eu... — comecei, mas as palavras falharam, e ele sorriu, um sorriso que era meio triste, meio cúmplice.

— Vai ficar tudo bem, Agnes — ele repetiu, a voz suave, quase um sussurro. — Eu prometo.

A promessa dele parecia carregar o peso de algo que ele ainda não tinha dito, uma verdade que ele guardava, e por mais que aquilo me deixasse desconfiada, eu não queria mais questionar. Pelo menos, não naquele momento.

Ele voltou a me puxar para perto, e dessa vez, eu deixei.

NA MIRA DE UM STALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora