7- O Olhar do Rei

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Capítulo 7: O Olhar do Rei

O rei Aldric estava no salão principal, observando os preparativos para seu casamento com Aveline. Os servos iam e vinham, carregando flores e adornos, enquanto conselheiros ajustavam os últimos detalhes do grande evento que uniria os dois reinos. Para todos os presentes, Aldric era a imagem da serenidade. Seu sorriso era calmo, suas palavras sempre corteses e, para os outros, ele parecia estar exatamente onde deveria.

Mas por dentro, Aldric estava inquieto.

Ele sempre fora um homem de princípios, educado desde a infância para liderar com justiça e honrar seu reino. Seu casamento com Aveline era mais do que uma simples união entre duas pessoas; era uma aliança política cuidadosamente planejada, destinada a trazer estabilidade e prosperidade para ambos os reinos. Era o futuro, o destino que ele abraçara sem questionar.

Porém, nas últimas semanas, algo mudou. Aveline parecia distante. O brilho em seus olhos, que antes transparecia uma força calma, agora parecia obscurecido por algo que Aldric não conseguia identificar. Ele via como ela se retraía durante as reuniões, como seus sorrisos eram mais curtos e suas respostas mais contidas.

“Será que está nervosa com o casamento?”, pensou Aldric. Afinal, as pressões sobre uma rainha eram imensas, e ele entendia isso. Ele próprio sentia o peso da coroa, mas algo em seu coração dizia que havia mais em jogo do que nervosismo pré-nupcial.

Aldric observou Aveline de longe naquela tarde, enquanto ela atravessava o salão, cumprimentando alguns membros da corte de forma distraída. Havia uma rigidez em seus ombros, uma tensão que Aldric não conseguia ignorar. Era como se ela estivesse escondendo algo. E então ele notou outra coisa.

Freya.

Sua irmã mais nova tinha passado a estar constantemente ao lado de Aveline. Não que isso fosse incomum – Freya sempre foi sociável e curiosa – mas ultimamente, Aldric percebia que a presença de Freya ao redor de Aveline não era a mera proximidade de uma futura cunhada. Os olhares que trocavam, a forma como Freya ria de algo que apenas as duas pareciam entender, como Aveline relaxava sutilmente na presença dela… Aldric não conseguia afastar uma sensação incômoda de que havia algo ali, algo que ele não estava entendendo completamente.

Decidido a não ignorar seus instintos, Aldric chamou seu conselheiro mais próximo, Lorde Thorne, para uma conversa particular.

— Thorne, preciso de sua opinião sobre uma questão — disse Aldric, com sua voz firme, mas baixa, para garantir que ninguém mais escutasse.

Lorde Thorne, um homem sério e leal, que servira à família real por anos, fez uma leve reverência antes de falar. — Sempre ao seu dispor, Vossa Majestade. O que o preocupa?

Aldric hesitou por um momento, tentando formular suas palavras com cuidado. — É sobre Aveline. Há algo... algo que não consigo entender. Ela tem se mostrado diferente ultimamente, mais distante. Tenho a sensação de que há algo em sua mente, algo que ela não está compartilhando comigo.

Thorne assentiu lentamente, suas sobrancelhas franzidas em consideração. — Pode ser a pressão do casamento, Majestade. Unir dois reinos não é uma tarefa simples. As expectativas sobre ela são imensas.

— Eu sei — Aldric respondeu, sua voz grave. — Mas não acho que seja apenas isso. Tenho observado Freya perto dela... Elas têm passado muito tempo juntas. Mais do que o comum.

Thorne manteve sua expressão neutra, mas Aldric sabia que o conselheiro era perspicaz. — Vossa Majestade está sugerindo que há algo mais entre elas? Algo que transcende a mera amizade?

Aldric respirou fundo, seus pensamentos fervilhando. Era difícil para ele sequer considerar essa possibilidade, mas a ideia estava crescendo em sua mente como uma sombra persistente.

— Eu não sei, Thorne. É difícil dizer. Mas minha intuição diz que há algo errado. E se for o caso... se Aveline estiver escondendo algo de mim, preciso saber. Nosso casamento é mais do que pessoal, é um símbolo de aliança. Se há algo que possa ameaçar essa união, tenho o dever de descobrir.

Thorne ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre as palavras do rei. — Se me permite, Majestade, talvez seja prudente abordar Aveline diretamente. Ela é uma mulher forte, mas também sensível. Forçar a questão pode trazer consequências indesejadas, especialmente se for apenas um mal-entendido.

Aldric sabia que Thorne tinha razão. Aveline sempre fora franca e honesta com ele, mas se estivesse passando por algo mais profundo, talvez não quisesse sobrecarregá-lo com isso. No entanto, havia algo em seus olhares, em suas interações com Freya, que o incomodava profundamente.

— Você tem razão, Thorne. Eu vou falar com ela — respondeu Aldric, finalmente. — Mas vou esperar o momento certo. Não quero que ela sinta que estou pressionando. No entanto, preciso que você fique atento. Se notar algo incomum, quero que me informe imediatamente.

Lorde Thorne fez uma leve reverência. — Claro, Majestade. Estarei atento.

Quando Thorne se afastou, Aldric ficou sozinho em seus pensamentos, olhando para o horizonte pela grande janela do salão. Uma leve brisa passou por ele, e o rei fechou os olhos por um instante, tentando dissipar a crescente inquietação em seu peito.

Ele amava Aveline. Ela era mais do que uma aliança política para ele. Ao longo dos meses, ele havia aprendido a admirar sua força, sua sabedoria, e até seu silêncio pensativo. Mas agora, algo parecia estar escapando entre seus dedos. Ele não podia ignorar o que sentia, nem os sinais que via, por mais sutis que fossem.

Naquela noite, deitado em sua cama, Aldric refletiu sobre tudo o que havia acontecido. Ele sabia que o momento de confrontar Aveline estava chegando, e temia o que poderia descobrir. Mas, acima de tudo, ele temia perder a mulher que acreditava conhecer tão bem.

Com o coração pesado e a mente agitada, o rei fechou os olhos, tentando ignorar a sensação incômoda de que a situação estava prestes a mudar drasticamente.

Entre Coroas e Segredos: O Romance Proibido de Aveline e FreyaOnde histórias criam vida. Descubra agora