3- O Fogo do Desejo

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Capítulo 3: O Fogo do Desejo

Os dias seguintes ao encontro no jardim passaram como um borrão para Aveline. Cada manhã trazia novos preparativos para o casamento, mas a cada encontro com Freya, uma nova camada de desejo e confusão se acumulava dentro dela. A rainha sempre fora uma mulher de razão, guiada pelo dever e pela responsabilidade. Mas agora, algo mais forte e incontrolável começava a tomar conta de seus pensamentos.

Aveline sabia que sua relação com Freya estava indo além do que seria permitido. As conversas rápidas nos corredores do castelo, os olhares prolongados durante as refeições, tudo contribuía para um jogo perigoso que ela não sabia como parar. E, para piorar, parecia que Freya também estava disposta a seguir esse caminho.

Certa noite, depois de um jantar formal com a corte, Aveline se recolheu mais cedo que o habitual. A tensão das aparências estava começando a pesar, e ela precisava de um momento longe dos olhares atentos de Aldric e dos conselheiros. No entanto, assim que entrou em seus aposentos, um bilhete dobrado aguardava sobre sua mesa. Suas mãos tremeram levemente enquanto o desdobrava.

"Encontre-me nos jardins. À meia-noite. Freya."

Aveline sentiu o coração disparar. Era uma armadilha, ela sabia. Cada fibra de sua razão gritava que aquilo não deveria acontecer, que ela deveria rasgar o bilhete e esquecer o que havia lido. Mas a excitação, o perigo... tudo isso era inebriante demais para resistir.

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Quando o relógio do castelo marcou meia-noite, Aveline desceu pelas escadas laterais que davam acesso direto aos jardins. O ar noturno estava frio, e a lua cheia iluminava as árvores e flores, criando sombras misteriosas por todo o lugar. Cada passo era acompanhado pelo som de suas botas sobre a grama úmida, e a ansiedade em seu peito aumentava.

Ao se aproximar da fonte no centro do jardim, onde as flores mais belas cresciam, viu Freya, esperando. A jovem estava de costas, observando o reflexo da lua na água da fonte. Seus cabelos caíam como uma cascata brilhante, e sua postura relaxada contrastava com a tempestade de emoções dentro de Aveline.

— Eu sabia que você viria — disse Freya sem se virar, sua voz suave, quase um sussurro.

Aveline parou a alguns metros de distância, seu corpo tenso, cada músculo em alerta. — Isso... não deveria estar acontecendo, Freya.

Freya finalmente se virou, um sorriso brincando em seus lábios. — Por que não? Quem pode dizer o que deve ou não deve acontecer? — Ela deu alguns passos à frente, aproximando-se lentamente. — Você já viveu tanto tempo dentro das regras, Aveline. Talvez seja hora de quebrar algumas.

Aveline sentiu seu coração martelar no peito. Cada palavra de Freya era como uma faísca em uma fogueira que ela tentava apagar, mas que só crescia. — Você não entende... Eu sou a rainha. Estou prestes a me casar com seu irmão. Isso... é impossível.

Freya parou bem diante de Aveline, seus olhos brilhando com uma mistura de desafio e desejo. — Não me diga que nunca sonhou em ser livre, Aveline. Eu vejo nos seus olhos. Há mais dentro de você do que os deveres de uma rainha. E sei que você sente o mesmo que eu.

Aquelas palavras, ditas com tanta certeza, fizeram Aveline perder o fôlego. Freya estava certa. Durante toda sua vida, Aveline havia se sacrificado pelo bem de seu povo, pela estabilidade de seu reino. Mas e quanto a ela? Quem havia pensado em seu coração?

— Freya... — Aveline tentou protestar, mas sua voz falhou quando Freya se aproximou ainda mais, suas mãos tocando de leve o braço da rainha. O toque foi suficiente para fazer Aveline perder qualquer resquício de controle que ainda restava.

Antes que pudesse raciocinar, as mãos de Aveline já estavam sobre a cintura de Freya, puxando-a para mais perto. O cheiro doce de sua pele, o calor de seu corpo... tudo era irresistível. E quando seus lábios finalmente se encontraram, foi como se o mundo ao redor delas desaparecesse. Não havia mais reinos, obrigações ou casamento arranjado. Só havia o momento, só havia aquele beijo.

O tempo pareceu parar. O beijo começou suave, hesitante, como se ambas ainda estivessem lutando contra o que sabiam ser errado. Mas, em segundos, o desejo incontrolável tomou conta, e Aveline a puxou para mais perto, suas mãos segurando Freya com uma intensidade que ela jamais havia sentido antes. Freya, por sua vez, respondeu com a mesma paixão, envolvendo os braços ao redor do pescoço da rainha.

Quando finalmente se separaram, ambas respiravam com dificuldade. O silêncio que se seguiu era pesado, cheio de perguntas sem respostas, de um futuro incerto.

— Isso... não pode continuar — disse Aveline, sua voz tremendo, mas sem convicção.

Freya a olhou profundamente, os olhos brilhando com desafio. — Já começou, Aveline. Você pode fingir que nada aconteceu, mas nunca será a mesma depois disso.

A rainha desviou o olhar, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair. Ela estava dividida. De um lado, havia o dever, a coroa, o casamento com Aldric. Do outro, estava aquele sentimento avassalador por Freya, algo que a fazia sentir viva como nunca antes.

— E o que você quer que eu faça? — perguntou Aveline, finalmente encontrando o olhar de Freya. — Eu sou uma rainha, Freya. Eu tenho responsabilidades. Eu não posso simplesmente... fugir disso.

Freya deu um passo para trás, ainda sorrindo, mas agora havia uma tristeza em seus olhos. — Eu não estou pedindo que fuja. Estou pedindo que viva, Aveline. Por você, pelo que sente. Apenas uma vez, escolha algo que seu coração deseja, não o que o mundo espera de você.

Aquelas palavras ficaram no ar, pesadas, enquanto Freya se virava e começava a se afastar, desaparecendo entre as sombras das árvores. Aveline ficou ali, sozinha, lutando contra o turbilhão dentro de si. Ela sabia que Freya estava certa. Pela primeira vez na vida, ela queria algo para si mesma. Algo que ia contra tudo o que lhe fora ensinado, mas que parecia tão certo.

E, naquele momento, a rainha sabia que estava à beira de uma escolha que mudaria tudo.

Entre Coroas e Segredos: O Romance Proibido de Aveline e FreyaOnde histórias criam vida. Descubra agora