14- Entre Amarras e Liberdade

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Capítulo 14: Entre Amarras e Liberdade

Freya caminhava pelos jardins em silêncio, o frescor da noite envolvendo seus pensamentos como uma brisa leve, mas constante. A lua estava alta no céu, lançando sombras suaves sobre as flores, mas o peso em seu peito parecia crescente. A conversa com Aveline ainda ecoava em sua mente, e o ciúme evidente nos olhos dela não deixava Freya em paz.

Ela havia escolhido Aveline. Disso, Freya não tinha dúvidas. Cada momento ao lado dela era intenso e verdadeiro, algo que Freya nunca havia sentido com outra pessoa. Mas aquela intensidade trazia suas próprias complicações. Aveline era rainha, prometida ao rei Aldric, e, com isso, vinha o peso de expectativas e responsabilidades. E agora, com o ciúme de Aveline transbordando, Freya sentia que as correntes que as prendiam estavam ficando mais apertadas.

Ela suspirou, relembrando o momento em que Aveline apareceu do nada, depois da conversa com Elora. Freya não podia negar que Elora era bonita e atenciosa, e sim, talvez tivesse havido um breve momento de flerte inocente, mas nada mais. Elora não era quem Freya queria. Isso era claro como o céu estrelado acima dela. No entanto, o ciúme de Aveline revelava algo que Freya temia: a insegurança de sua amante diante de algo que, para ela, era natural.

"Ela não confia em mim completamente," Freya pensou, sentindo uma pontada no coração. A relação com Aveline era diferente de tudo que já tinha vivido, mas também trazia desafios. O ciúme de Aveline parecia uma corrente que, embora suave, estava começando a prendê-la de uma maneira que Freya não gostava. Freya sempre fora uma alma livre, alguém que vivia de acordo com seus próprios termos. O amor que sentia por Aveline a fazia querer estar ao lado dela, mas não à custa de perder a si mesma.

"Eu deveria ter visto isso chegando," ela murmurou para si mesma, caminhando até uma pequena fonte no centro do jardim. A água refletia as estrelas, e Freya se sentou na borda, observando o reflexo distorcido. "Aveline não está acostumada a sentir que pode perder algo. Ela é rainha, sempre no controle... mas o que nós temos a coloca em um lugar vulnerável. E o medo dela de me perder a está consumindo."

Aquela constatação a perturbou. Freya sabia que a situação entre elas era delicada, mas não havia como negar que o amor de Aveline, embora ardente, começava a sufocar.

Ela lembrou-se do olhar nos olhos de Aveline quando mencionou Elora, o leve tremor na voz da rainha. Aveline estava com medo. Medo de que Freya pudesse se interessar por outra pessoa, medo de que ela fosse embora. E, em parte, esse medo vinha da própria natureza de Freya, de sua necessidade de liberdade e espaço. A rainha estava acostumada a ter controle sobre tudo ao seu redor, mas Freya não era alguém que podia ser controlada.

"Ela precisa entender que não estou aqui para ser possuída," pensou Freya, mordendo o lábio. "Estou aqui porque escolhi estar. Mas isso não significa que vou me prender às correntes que ela pode tentar colocar em mim."

Freya sabia que Aveline a amava, mas o ciúme era um sinal de que algo mais profundo estava em jogo. Talvez fosse o medo de que, no fim das contas, Freya não pudesse dar a Aveline o que ela realmente precisava: estabilidade, segurança, a promessa de um futuro previsível. Freya não era uma garantia de nada. Ela era tempestade, liberdade, imprevisibilidade. E isso, por mais emocionante que fosse, também era um desafio para alguém como Aveline.

"Ela nunca vai admitir, mas parte dela quer me prender," Freya sussurrou, olhando para o céu. "Ela quer que eu fique com ela, mas quer que eu me encaixe no mundo dela, nas suas regras. E eu... não sei se posso fazer isso."

Ela pensou na promessa que havia feito a Aveline na noite anterior, sobre estar ao lado dela, apesar de tudo. Freya sabia que suas palavras haviam sido sinceras. Mas o que ela não havia dito era o quanto estava disposta a sacrificar sua própria liberdade por esse amor. Como alguém que sempre prezou pela própria independência, o medo de se perder em Aveline também estava presente.

— Freya? — uma voz interrompeu seus pensamentos.

Ela se virou e viu Aveline parada à distância, os olhos ainda carregados de preocupação. A rainha deu alguns passos em sua direção, hesitante.

— Posso me sentar? — Aveline perguntou, com a voz mais suave do que de costume.

Freya assentiu, fazendo espaço ao seu lado na fonte. O silêncio entre as duas era carregado, como se ambas soubessem que havia mais a ser dito, mas não soubessem por onde começar.

Finalmente, Aveline quebrou o silêncio. — Sobre o que aconteceu hoje... Eu fui injusta com você. Não devia ter agido daquele jeito.

Freya olhou para Aveline, surpresa pela admissão. — Você estava com ciúmes.

— Eu estava — admitiu Aveline, desviando o olhar. — Mas não tenho o direito de me sentir assim. Eu sei que você é livre para fazer suas próprias escolhas, e eu... — Ela respirou fundo. — Eu só tenho medo de perder você.

Freya observou Aveline em silêncio por alguns segundos antes de responder. — Não vou mentir, Aveline. O que temos é intenso, mas também complicado. Eu escolhi estar com você, mas isso não significa que eu possa viver sob desconfiança.

Aveline franziu o cenho. — Não desconfio de você, Freya. Só... — Ela pausou, tentando encontrar as palavras certas. — Só fico com medo de que você se canse de mim. De que eu não seja o suficiente.

Freya suspirou e tocou o rosto de Aveline suavemente. — Você é suficiente, mas precisa entender que eu sou assim. Eu sou livre, Aveline. Não posso ser presa por inseguranças ou ciúmes. Se isso acontecer, não seremos mais quem somos, e tudo isso vai desmoronar.

Aveline fechou os olhos por um momento, absorvendo as palavras de Freya. Ela sabia que Freya estava certa. Amá-la significava aceitar sua natureza, sua liberdade. E talvez fosse isso que a assustava tanto — o fato de que, ao contrário de tudo o que conhecia, Freya não era algo que ela podia controlar ou segurar.

— Eu vou tentar — disse Aveline finalmente, abrindo os olhos. — Vou tentar confiar mais em você. Só me prometa que, se algum dia você quiser ir... você vai me dizer.

Freya sorriu, um sorriso triste, mas verdadeiro. — Prometo. Mas, por enquanto, eu estou aqui. Isso é o que importa.

As duas ficaram em silêncio, lado a lado, sob a luz da lua. Não havia garantias para o futuro, mas naquele momento, elas tinham uma à outra. E para Freya, isso era tudo o que ela podia oferecer.

Entre Coroas e Segredos: O Romance Proibido de Aveline e FreyaOnde histórias criam vida. Descubra agora