Coffee, Chaos and Others

21.

Era uma tarde clara e tranquila, o tipo de dia em que o calor do sol parecia acariciar a pele, mas a leve brisa que passava trazia o conforto de um frescor. As aulas haviam terminado mais cedo naquele dia, e os corredores da escola haviam se esvaziado em minutos. Os alunos, animados com o inesperado tempo livre, desapareceram pelas ruas em direção às suas casas ou aos seus encontros. Para Thomas e Newt, o destino imediato não era tão relaxante. Estavam dentro do carro de Mary, estacionados na frente da casa dela.

O interior do carro estava silencioso, mas não de um jeito confortável. Era um silêncio tenso, pesado, que só era quebrado pelo som ocasional dos carros passando na rua ou pelo leve zumbido do vento que entrava pelas janelas entreabertas. Thomas tinha os dedos firmemente enrolados em volta do volante, mas o carro permanecia desligado. Ele respirava profundamente, como se precisasse de todo o ar que conseguisse captar para enfrentar aquele momento.

Newt, sentado no banco do passageiro, olhava para Thomas com uma mistura de paciência e diversão. — Você ainda não ligou o carro — observou, com um tom despreocupado, mas levemente curioso. Já estavam ali, imóveis, por quase dez minutos.

Thomas suspirou, ajustando-se no banco do motorista pela terceira vez em menos de dois minutos. — Eu sei. Estou nervoso — admitiu, sua voz soando mais tensa do que ele gostaria.

Newt soltou uma risada suave, apoiando o braço na janela. Ele conhecia Thomas o suficiente para saber que ele não era o tipo de pessoa que lidava bem com o nervosismo, especialmente quando sentia que poderia falhar em algo. — Deu pra perceber — disse Newt, com um sorriso brincalhão. — Mas por quê? Não é como se fosse sua primeira vez.

Thomas olhou para Newt. — Porque a última aula que tive foi um desastre completo — ele suspirou, apoiando a cabeça no encosto do banco. — Sério, Newt, eu fiz tudo errado. Tô com medo de não passar na prova. E, tipo, eu nunca reprovei em um exame antes! Nunca. Eu sou o cara que passa em tudo, e não só passa, tira a nota mais alta. — Ele sorriu nervosamente, a insegurança começando a transparecer em seu olhar.

Newt encarou Thomas por alguns segundos antes de sorrir de forma encorajadora. — Tommy, você vai se sair bem. Como sempre.

O olhar de Thomas suavizou um pouco, mas ainda carregava uma certa ansiedade. Ele olhou para Newt com um brilho meio desesperado, como se estivesse buscando a aprovação dele para seguir em frente. Era o típico olhar de cachorrinho que Thomas costumava lançar quando estava realmente aflito.

Newt riu, jogando a cabeça para trás por um momento antes de voltar a encará-lo. — Mas, para se sair bem, você vai precisar ligar o carro, sabe? — provocou, rindo de leve, tentando aliviar o clima pesado.

Thomas, finalmente, esboçou um sorriso. Um sorriso pequeno, mas sincero, como se aquele momento tivesse permitido que a tensão se dissolvesse, pelo menos um pouco. — Tá — ele murmurou, mais para si mesmo do que para Newt.

Com uma respiração profunda, Thomas girou a chave na ignição. O carro deu um leve ronco quando o motor entrou em funcionamento. A vibração suave do motor preenchia o silêncio anterior, e, por um momento, parecia que até o ar ao redor do carro havia mudado, ficando mais leve.

— Temos ignição — ironizou Newt, imitando o tom de um piloto de avião.

Thomas soltou uma risadinha, ainda sentindo o peso da responsabilidade, mas agora com um toque de alívio. Ele deu uma olhada no painel, verificando os espelhos como se estivesse se preparando para a missão mais importante de sua vida. As mãos, antes suadas e nervosas, agora se ajustavam no volante com um pouco mais de confiança.

— Agora, só falta você tirar o carro da vaga — disse Newt, erguendo uma sobrancelha, claramente se divertindo com a situação.

Thomas respirou fundo novamente, seus olhos focados na rua à frente. — Fácil. Eu consigo fazer isso — murmurou para si mesmo, movendo a alavanca de marchas.