XXII

56 2 0
                                    

Dmitri Ivanov


Dirijo cuidadosamente pelas ruas de Moscou enquanto escuto minha esposa falando ao meu lado. Desde que acordou, ela não parou um minuto de falar, que amei, já que acho incrível como sua voz consegue sair melodiosa.

— Quantos idiomas você fala? — perguntou.

— Cinco.

— Quais?

— Português, inglês, espanhol, árabe e italiano.

— Espere, então você…

— Sim, querida, eu entendi todos os xingamentos que essa boquinha linda proferiram a mim.

Seu rosto ficou avermelhado e segurei a risada. Apesar do momento descontraído, há cinco carros fazendo a nossa escolta. Depois de ontem à noite, percebi que estou falhando para que alguém ouse enviar uma mercenária para me matar.

Minha mente viaja para ontem à noite, quando estava no galpão.

— Não pode fazer isso com ela, Dmitri. Me prometeu que iria protegê-la.

— Isso foi antes dela resolver me matar.

— Deixa eu falar com ela. Por favor.

Encarei a garota que estava amarrada, com o nariz sangrando do murro que ganhou da minha babochka. Ela mantinha seu olhar firme, como um desafio.

Há muitos anos, Nikolai disse que se juntaria a mim, mas em troca, eu teria que proteger alguém. Irina Romano. E anos depois, a mesma garota que eu estava protegendo resolve me matar.

— Você tem dez minutos.

Saio do galpão e fiquei do lado de fora. A brisa da noite morna, muito agradável.

Eu nunca tive receio de morrer, afinal, eu não tinha o que me prendesse aqui. Mas agora é diferente. Agora tenho Sofhia. E o pensamento de nunca mais ver seu sorriso, nunca mais ouvir suas provocações, nunca mais tocar seu corpo, me apavora.

Nikolai apareceu na porta, com uma expressão séria, então provavelmente a notícia não era boa.

— Quem?

— Jafar.

Travei a mandíbula. Sabia que ele ainda seria um problema, só não sabia que seria tão cedo.

— Fale com o Maxim. Quero todas as armas dele desativadas.

— Independente de você travar o funcionamento das armas, ele é esperto, isso não será o bastante para contê-lo.

— Por enquanto isso vai servir.

— E os seus pais? — A voz melodiosa me tira de meus devaneios.

— Mortos.

— Como?

Olhei-a de soslaio. Nossos olhos se encontraram e acredito que ela pensou que eu não contaria, pois logo depois sua boca se abriu para fazer outra pergunta. Eu não queria contar. A verdade é que nunca contei o que aconteceu para ninguém, nem mesmo para minha irmã.

— Eles foram assassinados. Nunca descobri quem foi. Escondi a minha irmã para protegê-la daquela visão terrível. Depois fomos para o orfanato. Lá conheci Nikolai, fomos grandes amigos, apesar de não querer ninguém perto de mim, mas ele não me deixou em paz.

— Então… É.

— Pode perguntar Sofhia.

— Como se tornou líder da Bratva?

Vladmir não tinha filhos e ele não queria deixar tudo o que construiu para um qualquer. Ele auxiliava o orfanato, então decidiu fazer um teste com os garotos. Foi assim que ganhei algumas das minhas cicatrizes.

— Quantos anos você tinha?

— Sete.

Sofhia ficou um pouco em silêncio, talvez processando o fato de eu ter sofrido a minha primeira tortura aos sete anos.

— E a sua irmã?

— Vladmir não queria outra criança, então ameacei a diretora do orfanato para ela cuidar bem de Tatiana. Depois de alguns anos, Vladmir morreu e eu tirei minha irmã de lá.

— Quantos anos tinha quando assumiu?

— Dezesseis.

Essa fase da minha vida me traz lembranças ruins, porém, não me incomodo de contar para a garota sentada ao meu lado. Falar para ela é como tirar um peso dos meus ombros.

— E o coma?

Sabia que ela ainda iria perguntar sobre isso.

— O que quer saber?

— Tudo.

— Bem, eu fiquei em coma por três anos. Os médicos queriam desligar os aparelhos, mas Nikolai não deixou. O dia em que eu te vi foi o mesmo dia em que acordei. Fiquei vários meses fazendo fisioterapia. Quando comecei a melhorar, pedi para os melhores desenhistas retratarem você a partir das coordenadas que eu lhes dava, mas nenhum conseguiu, então decidi aprender a desenhar e eu mesmo fiz os desenhos.

— Quanto tempo tem isso? Do acidente.

— Dez anos.

Seu silêncio denunciou sua surpresa e continuou assim até chegarmos no edifício.

☠️🖤☠️🖤☠️🖤☠️


— E aí, o que achou? — perguntei após termos rodado o prédio inteiro.

— É... incrível. Eu-eu nem tenho palavras para expressar o que estou sentindo. — Ela olhou para mim e pulou em meus braços, enlaçando meu pescoço com seus braços. O que fez seus pés saírem do chão, devido a diferença de altura. — Obrigada, Dmitri.

Passei meus braços por suas costas, prendendo-a a mim. Assim que fiz isso, foi como se ela tivesse se dado conta do que estava fazendo, então ela se desvencilhou do meu abraço.

— Bem, agora podemos comer em algum restaurante, o que acha? — perguntei.

— Acho perfeito.

Pegamos o carro e dirigi até um restaurante que há muito tempo não ia. Foi engraçado, tirando a parte em que, do meio para o final do almoço, Sofhia ficou zangada pelo fato de a garçonete estar claramente dando em cima de mim. Ser um pegador no passado tem consequências não muito agradáveis no meu presente.

— Pare de encarar a garota como se quisesse matá-la, querida.

— Você já transou com ela, como queria que eu me sentisse?

— Se lembre, foi você que escolhi, foi com você que casei, é você que dorme todo dia ao meu lado, é você que carrega o meu sobrenome, não há motivos para estar zangada ou… — Ponderei por um momento. — Está com ciúmes e não quer admitir.

— Ciúmes de você? Vai sonhando, Dmitri.

Sorri. Sim, querida, você está com ciúmes.

Após comermos, deixei Sofhia em casa e fui até a fábrica para ver como estão as produções de armas e equipamentos. Reforcei a segurança, graças ao fudido do Jafar.

Sofhia continuará sendo minha, caso contrário, o mundo irá queimar.

~•~

O que estão achando da história? Me contem nos comentários, e me sigam no Instagram e no Tik Tok: @autoraevilqueen. Sempre posto alguma coisa relacionada ao livro ou a dark romance. Beijos.


Minha doce ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora