Recapitulando II

15 2 0
                                    

Dmitri Ivanov

Me encontre.

Sua voz ecoou em minha mente como uma prece, e eu a atenderia prontamente.

Forcei meus olhos a se abrirem, o que foi deveras difícil. Parecia que meus olhos estavam com pedras enormes. Estava difícil. Tentar, doía, então a ouvi novamente.

Me encontre.

Não posso desistir, quero encontrar ela, saber quem ela é. Preciso dela.

Forcei ainda mais meus olhos a se abrirem, e quando consegui me arrependi instantaneamente. A claridade era tão forte que me senti olhando para o sol, a poucos metros de distância. Mexi meu pescoço, mas o movimento era incômodo.

Ouvi um resmungo. Pela pequena abertura nas pálpebras, observei que o lugar ficou escuro, mas não completamente. Abri os olhos vagarosamente, o adaptando à baixa luminosidade.

Vi a sombra de um homem. Ele tinha algo nas mãos, que aproximou do meu rosto.

— Levanta um pouco a cabeça. — Pediu.

Fiz o que ele mandou e então um canudo foi depositado em meus lábios.

— Beba.

Fiz o que pediu e só então percebi que minha garganta estava extremamente seca.

Há quanto tempo estou aqui?

Onde é aqui?

Quem é a mulher que eu vi?

Eu a conheço?

Por que eu não consigo me lembrar?

Essas perguntas rodeavam a minha mente. A única coisa que me lembrava era de… não, eu não lembro.

Soltei o canudo, quando já não havia mais nada.

Ele colocou o copo em uma mesa próxima e se sentou ao lado da cama.

— Não sei se você se lembra de mim, Nikolai.

Busquei em minha memória, sim, eu lembrava de um Nikolai. O garoto do orfanato, do que ele me pediu para trabalhar para mim. E então lembrei de um carregamento, um barulho alto, fogo e dor. Uma emboscada. Sofri uma emboscada!

Nikolai ajeitou a cama do hospital para que eu pudesse ficar sentado.

Abri a boca para lhe perguntar quem ousou tentar contra mim, mas a voz não saía, era como se eu tivesse calado há anos.

— O médico avisou que você poderia ficar sem voz, em você terá que fazer terapia vocal. Mas se lhe conheço bem, perguntará sobre quem fez isso, já resolvemos o assunto, estão todos mortos.

Balancei a cabeça em concordância.

— Vou chamar o médico e volto.

Ele saiu e eu fiquei olhando para nenhum lugar em especial. Fechei os olhos e lembrei dos seus lábios, da sua pele — parecia tão macia — suspirei.

Em pouco tempo, um homem de meia-idade apareceu, presumo que seja o médico.

— Olá, senhor Ivanov, é uma surpresa vê-lo acordado depois de três anos. Não sei se o senhor se recorda, mas sofreu um atentado, sete tiros para ser exato, um deles atingiu seu coração, o senhor sofreu uma queda e acabou afetando seu cérebro, mas já conseguimos resolver esse assunto. Graças ao senhor Nikolai, não desligamos o aparelho, ele é um ótimo amigo.

Olhei para Nikolai com um olhar de agradecimento, que ele entendeu e acenou levemente com a cabeça.

— Nesse tempo, algumas enfermeiras vieram aqui para fazer fisioterapia para que, quando acordasse, o impacto não fosse tanto. O senhor provavelmente ficará algum tempo sem falar até que o resultado da fisioterapia vocal comece a aparecer, se possível recomendo que comece amanhã mesmo.

Acenei.

Tenho muito o que fazer para compensar esses três anos.

Suspirei.

☠️🖤☠️🖤☠️🖤☠️

1 ano depois…

— Não… não é assim, os olhos são um pouco maiores.

O pintor refez, porém ficaram grandes demais. Eu já havia perdido as contas de quantos pintores famosos haviam passado pela minha casa. E todos fracassaram.

Dispensei o homem que saiu mais frustrado que eu por não conseguir fazer o desenho.

Era só o desenho de uma mulher, o que poderia dar errado nisso?

Peguei meu celular e pesquisei “aulas de desenho”. Se eles não conseguiram fazer, eu mesmo faria.

Fui até meu quarto e peguei uma folha de ofício e um lápis. Comecei com traços simples, assim como o homem mostrava no vídeo. Fui fazendo conforme o que conseguia me lembrar, o que era muito, seu rosto estava gravado em minha mente, assim como as tatuagens em minha pele. Eu pensava se ela realmente existe, se sim, qual seria seu nome? Onde mora?

Com esses pensamentos, terminei o desenho, fiquei surpreso ao olhar para a folha que antes estava branca e agora tinha o desenho de uma mulher que parecia olhar para mim. Mas ainda faltava algo. Faltava vida. Os olhos dela eram lindos demais para ficar sem cor.

Amanhã comprarei alguns lápis de cor.

☠️🖤☠️🖤☠️🖤☠️

5 anos depois…

Deito na cama, olhando para o teto repleto de desenhos. Todas da mesma pessoa. Ela. A mulher de olhos verdes penetrantes, que eu não sabia o nome.

Durante esses anos, viajei para diferentes lugares do mundo, mas não a encontrei.

Talvez só tenha sido um sonho idiota.

Mas… por que sinto como se devesse esperar?

Passo as mãos no rosto, tentando refrescar os pensamentos.

Preciso espairecer.

Me levantei, pegando a arma em cima da cômoda e saindo do quarto. Preciso fazer algo ou enlouquecerei.

★★★

★★★

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Minha doce Obsessão Onde histórias criam vida. Descubra agora