38 | Night of Escape.

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MAYA

Eu não conseguia tirar os olhos do celular, mas as palavras de Billie ecoavam na minha cabeça desde cedo. O silêncio entre nós era sufocante, como se algo estivesse prestes a explodir. Cada passo que ela dava pelo quarto, verificando o telefone e resmungando para si mesma, só aumentava o nó no meu peito.

– Você não vai falar nada? – As palavras escaparam da minha boca antes que eu pudesse me conter. Sabia que minha voz estava carregada de mágoa, mas não me importei.

Billie parou de andar, me encarando com uma expressão que misturava cansaço e irritação. – Falar o quê? Que você está me ignorando desde cedo? Que você mal consegue me olhar depois de tudo que aconteceu ontem?

Respirei fundo, tentando manter a calma. – Eu não estou te ignorando. Só... – Engoli seco, escolhendo as palavras com cuidado. – Eu preciso de espaço, Billie. Eu preciso respirar. Tudo isso... está me sufocando.

Ela levantou uma sobrancelha, descrente. – Sufocando? Eu estou tentando proteger você, Maya! Você acha que isso aqui é fácil pra mim? Ficar preocupada com você o tempo todo, lidando com o seu pai, com o perigo ao nosso redor?

– Eu não pedi para você cuidar de mim o tempo todo! – A raiva subiu de repente, como uma maré violenta, me fazendo levantar do sofá. Meu coração estava disparado. – Eu não sou uma criança indefesa, Billie!

– Não se trata de ser indefesa – ela retrucou, se aproximando. – Se trata de você estar no meio de um caos por causa do seu pai! Isso não é um jogo, Maya!

As palavras dela me atingiram como uma facada. O caos... Era isso que eu era para ela? Um problema a ser resolvido? Meu estômago revirou, e eu senti o gosto amargo da frustração.

– Você acha que eu não sei disso? – A voz saiu trêmula, e eu odiava me sentir assim, vulnerável. – Eu sei o que está acontecendo, mas você me trata como se eu fosse sua responsabilidade, como se eu não tivesse escolha!

Ela ficou em silêncio por um segundo, me observando. Quando finalmente respondeu, sua voz estava baixa, mas carregada de algo que parecia decepção. – Talvez eu só esteja tentando impedir que você faça algo idiota, como sempre faz.

Aquelas palavras me queimaram por dentro. Era isso que ela pensava de mim? Que eu sou um fardo, um erro prestes a acontecer?

Eu senti meus olhos marejarem, mas recusei deixar que ela visse minhas lágrimas. Eu não daria essa satisfação.

– Talvez eu precise fazer algo idiota – respondi, tentando soar firme, mesmo que por dentro eu estivesse despedaçada. – Talvez seja exatamente disso que eu preciso.

– Maya... – ela começou, mas eu já estava andando em direção à porta.

– Eu vou sair – declarei, sem olhar para trás. Eu precisava escapar dali, antes que as palavras me engolissem.

– Sair? Pra onde? – A voz dela estava dura, exigente, mas eu não queria mais ouvir.

– Não é da sua conta – rebati, apertando o celular com tanta força que meus dedos doíam. E, com isso, saí da sala, deixando Billie para trás.

Meu coração ainda estava acelerado quando me joguei na cama. As paredes do quarto pareciam se fechar ao meu redor, e o silêncio só tornava tudo pior. As lágrimas que eu havia segurado durante a briga começaram a escorrer silenciosamente. Eu queria gritar, chorar alto, mas me recusei. Já estava cansada de me sentir assim, impotente.

The Price Of Power | g!pOnde histórias criam vida. Descubra agora