34- Mensagem na garrafa

445 47 3
                                    

— Bom dia, bom dia, bom dia! — Falei entrando na casa de Larissa.

— Finalmente! — Rafael diz e vem me cumprimentar.

— Ah bonita, finalmente! — Kakau diz puxando minha bolsa de mim — Bora, estamos terminando o café das meninas, vai lá acordar sua afilhada! — Ela diz autoritária e eu apenas me rendo e vou até a sala. Kauã estava no batente da porta conectando sua caixa de som, as outras meninas estão acordadas, apenas Helene dorme. Larissa e Rafael chegam na sala com um envelope, Kakau para do meu lado e sussurra que quando a aniversariante acordar a gente começa a cantar parabéns.

Kauã coloca um som estrondoso e as meninas começam a cutucar Helene que acorda de cara fechada e se senta ainda confusa. Todos começam a cantar parabéns e logo a menina de touca de cetim sorri ao ver a surpresa.

Depois do parabéns Rafa e Lari entregaram o envelope. Helene nem lê em voz alta, apenas sai correndo para seu quarto, seguimos-a até lá. Ao abrir a porta Helene se deparou com um piano belíssimo, a pequena corre e abraça os pais e vem até mim sorridente pulando.

— Dinda agora eu posso aprender a tocar piano e a gente fazer dueto — Ela diz sorridente e me abraça.

Não consigo mais imaginar minha vida ficando mais uma vez dois anos longe da minha família. Depois dessas semanas com eles, antes mesmo de ir para Saquarema, eu já estava muito feliz de reestabelecer meu vínculo com meus familiares, de me sentir pertencente à um lugar, mesmo depois de ter sumido daqui, de sentir o amor que só senti com eles, a amizade que sempre nutri durante a vida com meus primos, que mesmo durante esse tempo ausente, não mudou. Minha família paterna é extremamente hostil, inclusive nem meu pai é próximo deles, eles nunca fizeram questão de serem próximos de mim, e isso que fui a primeira neta/sobrinha, dos meus avós e tios paternos. Por conta disso eu achava estranho no início da minha mudança para Itália, sentia falta desse apoio familiar, primos, tios, tudo, eu só tinha meu pai, e de vez em quando minha madrinha.

Durante todo o almoço de aniversário da Helene ela não desgrudou de mim, e honestamente, não me importo de ficar para lá e para cá, se isso deixar minha afilhada feliz, isso que importa! Antes do parabéns Helene sumiu e eu pude parar para conversar com meus primos.

— O que vocês tão falando? — Perguntei pegando a cerveja da Kauanne das suas mãos.

— Das fanfics que estão criando da sua "namo" — A cacheada diz e eu franzo as sobrancelhas. Kauã me passa seu celular e eu caio em um limbo de pessoas fazendo postagens da Gabi e Rebeca.

Não posso mentir, talvez, somente talvez, aquela pontinha de ciúme se instaurou em mim. Mas, tudo bem, eu sei o que está acontecendo na minha vida, e não tenho motivos para criar um caos sobre.

— Ah, é a vida né!? — Falei sorrindo e entreguei o celular.

— Ai que saco, esqueci que você não é ciumenta — Jordane diz e eu rio.

— Gente, eu sei o que rola na minha vida, o pessoal da internet não — Respondi e eles riram. Acho que disfarcei bem o incomodo no meu estomago de ver pessoas apoiando outra pessoa com Gabi, mas faz parte.

Continuamos conversando até Helene aparecer convidando todos para o parabéns. Passa por Jordane e cochicha algo. Ela vai para perto da mesa do bolo e invés de ficar em pé, puxa uma cadeira e Rafael surge de dentro da casa com seu violão e entrega para a filha. Fico confusa até ela me chamar. A família toda dela está ali, nós pelo lado da família materna, e seus tios, primos, avós e etc, da família de Rafael, todos olham com expectativa. Eu ando até a mais nova. Helene pede para eu me sentar no chão, assim eu faço.

— No seu aniversário, dinda, eu não consegui te ver, ai pensei nessa surpresa! — Ela diz e todos colocam mais expectativa ainda. Quando Helene começa a tocar os acordes de "never grow up" meu coração aperta e meus olhos marejam automaticamente — Madrinha, mesmo hoje em dia eu não ouvindo muito Taylor Swift, essa música parece já ter nascido comigo! — Ela fala e começa a cantar, e eu começo a chorar.

A Resiliência da Alquimia | Gabi GuimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora