38- Meu cotidiano está mudando...

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Nosso domingo foi gostoso e tranquilo, Gabi me apresentou para algumas colegas de time, o que me deixou ansiosa, mas nada demais, foi confortável no geral. Eu presenteei Gabi com a xícara com o "Nadal" dentro, ela amou. Cantamos, rimos, ficamos quietas abraçadas.

Mas ainda assim, como tudo isso, algo dentro de mim julgava Gabriela como estar diferente, não sei elaborar, mas ela tava estranha. Pode parecer maluquice, mas ela estava parecendo confusa, não sei. Ela não me tratou mal nem nada, mas estava aérea e tensa, queria perguntar, mas parece uma linha tênue em mim mesma, entre achar que posso soar chata, mas querer entendê-la. Então o máximo que consigo fazer nesse momento é perguntar se ela esta bem, e dizer que se ela quiser compartilhar algo comigo eu estou aqui para ouvi-la. Gabriela, é expressiva demais, consigo vê-la ponderar se fala algo quando digo que estou a sua disposição, mas a cacheada se mantém em silêncio afirmando estar bem. Em algum momento eu trago esse assunto à tona, mas agora acho melhor apenas observar.

Estamos jogadas lado uma da outra no sofá enquanto eu resolvo algumas coisas e Gabi lê. Fecho o notebook e coloco-o na mesa de centro. Gabriela continua concentrada no seu livro, ela de óculos, com uma roupa casual comum, o cabelo molhado recém finalizado, que visão.

— Alguém já te disse que você fica um sabor de óculos? — Soltei baixinho no silêncio que estávamos.

— Geralmente falam que eu fico bonita, ou linda ou gostosa, mas "um sabor" é a primeira vez — Ela brinca e e eu sorrio.

— Ai Gabriela — Disse sorrindo e ela voltou sua atenção para o livro. Momentos confortáveis como esse me fazem querer, sei lá, abraçá-la, beijá-la, me fundir com ela, só dizer que gosto dela, fazê-la gritar meu nome, implorar por mim, sei lá, tudo ao mesmo tempo talvez.

Com esse sentimento no peito me movimento até chegar próximo dela, ficar olhando-a de pertinho, ela finge ignorar minha presença, mesmo sendo impossível, por que estou literalmente com o nariz encostado nas sua têmpora, como um cachorro implorando por atenção de maneira silenciosa.

— O que é? — Ela diz virando o rosto, fazendo com que sua testa encoste na minha e ficamos tão próxima a ponto de nossos óculos quase rasparem um no outro.

— Deixa eu deitar em você para ler junto? — Falei manhosa e ela riu me roubando um selinho. Gabriela solta o livro para eu me acomodar entre suas pernas e então passa os braços em minha volta e abre novamente o livro. Eu não estava nem ai para o livro que ela está lendo, só queria sentir seu calor, seu perfume, e admirá-la mais de perto, afinal em algumas horas eu eu estarei pegando a estrada para voltar para Torino.

Como todos nós sabíamos que iria acontecer, o fatídico momento da despedida, dentre todas as outras vezes que nos despedimos para ficarmos dias/semanas separadas essa parecia doer mais, não sei porque, acho que talvez eu tenha me apegado demais a Gabi nesse meio tempo, e meus sentimentos por ela estão maiores que das outras vezes, obviamente é isso, mas eu vou dizer para mim mesmo que é somente minha TPM me fazendo ser sentimental, e tá tudo bem.

Pegar a estrada com todas as memórias que gravei desse final de semana, com tudo que foi dito, com os sentimentos mais puros confessados, com toda a cumplicidade entrelaçada entre nós, palavras não ditas gritando no silêncio da minha mente, é quase uma tortura. Cinco horas de viagem, cinco horas me ouvindo dentro da minha própria cabeça, cinco horas pensando em como eu tenho sentido tudo ao lado da Gabriela, cinco horas que eu penso serem as mais demoradas da minha vida, cinco perfeitas horas para me fazerem querer dar meia volta, bater na porta da Gabi e dizer tudo que eu quis dizer antes. Mas eu não vou.

Sei que eu deveria ter sentado com Gabi nesse final de semana e perguntado – "O que nós somos?" – Sei que deveria ter falado de talvez afirmar querer algo mais sério com ela, mas honestamente, não senti abertura para isso, senti que não era para ser agora, um erro, eu sei, meus sentimentos já estão bem definidos, mas algo em mim dizia para recuar, que iria dar errado, provavelmente meus traumas. Por isso, estou prometendo que no nosso próximo final de semana juntas irei falar isso, irei abrir meu coração para a Gabriela, independente de medo ou trauma.

A Resiliência da Alquimia | Gabi GuimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora