As estrelas mais brilhantes que existem estão em teus olhos

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(Por Lingling)

Marquei de me encontrar com Orm fora do trabalho e ela sugeriu jantarmos em um restaurante, Awesome Thai, depois iríamos ver as estrelas no Hampstead Observatory, como ela havia me dito pelo telefone, a ideia foi bem interessante.

Passei o dia na empresa, checando de horas em horas o momento que sairia, adiantando o trabalho de boa parte da semana, angustiada por revê-la e continuarmos de onde paramos na noite anterior.

Os meus pensamentos foram interrompidos pela senhorita Michell, pelo telefone ela me perguntou se eu ainda precisaria de seus serviços e eu a agradeci por ter aceitado fazer hora extra, já que o administrativo da Bit Company não trabalha nos finais de semana, se eu não tivesse tantas pendências a resolver, eu nunca teria a convocado.

Vocês devem estar curiosos do porque eu não ter chamado a Orm para trabalhar, mas a explicação é bem lógica, não acham? Como eu conseguiria adiantar um único projeto com aquela mulher bem ao meu lado? Mesmo longe, ela continuava presente na minha cabeça.

Depois de agradecê-la, logo a dispensei e fiquei consumida por mais documentos.

No início da noite resolvi voltar pra casa, tinha dado o sábado e o domingo de folga para a Eclair, então pus-me a fazer algumas tarefas básicas.

Eclair mantinha tudo limpo e organizado, do jeito que eu gostava, além de ser uma excelente companhia e conselheira, ela era a minha funcionária mais antiga, porém também era uma amiga.

Eu escolhia a dedo quem trabalhava pra mim, justamente por causa da minha infância, eu era muito pequena quando ainda morava na Tailândia, mas me lembro do meu pai comentando com um de seus associados que a traição vem de quem menos esperamos.

Por isso ele não confiava em ninguém e foi por causa dele e da minha primeira relação que eu também deixei de confiar nas pessoas.

Eclair, Lacuna e naquele momento a Orm, eram as únicas exceções!

...

- Já estou em frente a sua casa – Falei pra Orm pelo celular.

- Estou saindo – Ela disse e desligou.

Esperei no carro por mais cinco minutos até vê-la fechar a porta e caminhar até mim, o meu coração disparou no exato momento em que ela debruçou sobre a janela e me deu um beijo no rosto.

Ela estava linda, cabelos soltos e um vestido rosa claro que lhe cobria até os joelhos, uma maquiagem leve e brincos de argola dourados, combinando com sua pequena bolsa e colar.

Confesso que pensei em puxá-la para o meu colo e colocar as minhas mãos por baixo daquele vestido, no entanto eu sorri e destravei a porta do passageiro, segurando firmemente o volante:

- Pronta? – Perguntei brincalhona.

- Sim – Ela sorriu abertamente.

Dirigi até o restaurante onde nós nos sentamos em uma mesa aos fundos, enquanto nos deliciamos de um bom e velho prato típico da nossa terra natal, Pad Thai, conversamos um pouco sobre as nossas vidas:

- ... No começo, o Teodore foi um cara incrível, ele só demonstrou esse lado que você conheceu quando teve a primeira crise de ciúmes – Ela confessou – Eu não podia olhar para os lados que ele já me acusava de estar flertando com outro homem.

- E como você conseguiu ficar com um homem assim?

- Hoje em dia nem eu sei Lingling, mas naquela época eu acreditava que o amava, então surgiram as ameaças, as perseguições, as humilhações – Ela suspirou triste ao lembrar e eu apertei a sua mão lhe dando coragem para prosseguir – A minha mãe bebia muito e não repara em nada e eu mudei o meu comportamento.

- Como assim?

- Eu tinha muitos amigos e de repente fui obrigada a me afastar, quase saí da faculdade por causa dele, eu morria de medo do que ele era capaz de fazer se me visse conversando com um amigo, hoje eu não tenho mais amigos – Ela lamentou – Mas dei um basta nesse relacionamento na segunda vez que ele levantou a mão pra mim.

- Ele te batia? – Perguntei chocada.

- Duas vezes Lingling – Ela confessou – Uma porque ele me viu abraçando um carinha da faculdade, mas o rapaz era gay e estava sofrendo porque tinha rompido com o namorado e na segunda vez porque me viu saindo de um bar a noite – Uma lágrima escapou de seus olhos – Eu tinha acabado de entrar para buscar a minha mãe e ele nem quis me ouvir.

- Ele é um doente! – Disse rangendo os dentes de raiva.

- Ele é, mas eu só enxerguei isso depois que ele me marcou com vários hematomas.

- Não sei o que eu faria se o visse agora – A minha raiva só aumentou do ex de Orm – Como ele ousou tocar em você assim? Ele já fez algo além disso?

- Já – Ela abaixou a cabeça constrangida – Mas eu não quero falar disso, me conta mais sobre você... – Ela me olhou de forma estranha, o que me fez pensar no que ela poderia estar omitindo, porém ela trocara o assunto e eu fingi me conformar.

- Ah... – Fiquei alguns minutos pensando no que dizer, não queria falar sobre a minha família, então segui por outro caminho – Fui criada aqui na Inglaterra por uma empregada de meus pais.

- E...

- E não tive tantos amigos como você, só o Lacuna, aquele que você viu na empresa.

- Você sente falta dos seus pais?

- Sinceridade? – Ela afirmou com a cabeça – Não, hoje em dia são meros estranhos que não me fazem falta, mas até os meus 15... 16 anos, eu senti.

- E porque eles não te criaram?

- Trabalho sempre foi a prioridade na vida deles – “Além do crime organizado, assassinatos, extorsão, suborno, corrupção entre tantos outros atos ilícitos” pensei.

- O trabalho deveria vir em segundo lugar, eles deveriam ter te valorizado – Ela sorriu, porém os seus olhos continuaram opacos.

- Pode ser, mas já passou – Fui confiante – Ficou pra trás.

- Já sei – Ela ergueu a taça em que bebia água com gás – Vamos brindar ao hoje, ao agora... O que você acha? Vamos brindar a nós?

- Ao nosso presente – Ergui a minha taça – E ao nosso encontro mágico – Respondi bebendo um gole do meu vinho.

Terminamos a refeição e voltamos para o meu carro, dirigi até o observatório, contudo o local estava fechado, então perguntei se ela queria ir a outro lugar acreditando que a Orm ficaria triste novamente, mas ela sorriu e me pediu para levá-la ao Clapham Common.

Caminhamos de mãos dadas até o coreto, em seguida Orm correu sentido à um dos lagos do parque e se sentou num banco vazio.

Poucas pessoas passeavam ali naquela hora, a maioria eram casais jovens.

Quando me aproximei dela, Orm levantou um dos dedos para o céu aberto e escuro, milhares de estrelas dominando a imensidão do céu e a leve brisa da noite tornaram o momento especial demais pra mim:

- Cada estrela têm a sua própria luz Lingling – Ela falou admirando o céu – Pena que a maioria já estejam mortas.

- Como assim? – Perguntei e ela me olhou ainda sorrindo.

- Assim como nós, as estrelas também nascem, vivem e morrem e algumas que vemos brilhando no céu são apenas imagens atrasadas do que um dia elas foram.

- Entendi – Agachei-me diante da Orm e fiquei admirando o seu rosto por alguns segundos – Sabia que a estrela mais linda deste universo imenso está aqui?

- É? – Ela me olhou curiosa – Onde? Qual delas você acha mais linda? Me mostra.

Eu me ergui e toquei em seu rosto, acariciando a sua face com delicadeza, Orm fechou os olhos e segurou as minhas mãos:

- Os seus olhos Orm... Os seus olhos pra mim tem o brilho mais intenso e mais bonito que eu já vi na minha vida!

Eu me inclinei e a beijei suavemente, rendida em uma emoção pura que me deu satisfação, não era somente o meu desejo que me mantinha ao seu lado, eu pude sentir... Era algo maior.

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