Mais linda que o pôr do sol em Southampton

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(Por Lingling)

Chegamos em Southampton em cima da hora, senti a viagem desgastante, pois Orm foi totalmente em silêncio, teve um momento em que ela cantou uma música que tocava na rádio local e essa foi a única vez que ouvi a sua voz em meu carro.

Fazia anos que não pisava naquele lugar, mas a visão do mar e da vegetação deixava o clima mais ameno, eu queria desfrutar um pouco mais dessa paisagem gostosa e então decidi dirigir mais devagar.

Olhei de soslaio para Orm, ela parecia uma criança feliz presenciando as coisas através da janela do veículo, isso me fez recordar de algo, então parei o carro no acostamento e digitei em meu celular um pedido que faria Orm ficar emocionada.

Ela nem questionou a minha atitude, já havia se acostumado em me ver sempre com o aparelho em mãos:

- É aqui? – Perguntou receosa logo após eu parar na porta de um restaurante.

- Sim, pegue os documentos que você revisou e me espera na entrada, vou manobrar o carro e já te encontro ok.

- Está bem – Ela assentiu e fez exatamente o que eu disse.

Quando entramos no restaurante, logo nos conduziram a nossa mesa onde um homem de cabelo grisalho nos esperava, almoçamos e em seguida mostrei as planilhas e o restante do projeto, ele apreciou o trabalho e concordou em assinar o contrato.

Ele foi embora e eu fiquei novamente sozinha com a Orm:

- Na próxima semana teremos que ir para a Espanha – Anunciei – Quero que você vá comigo, será uma viagem de uma semana.

- É o problema com a filial de lá? – Ela perguntou olhando para o tablet.

- Sim.

- A senhorita quer que eu marque as passagens pra quando? E em qual hotel deverei fazer as reservas?

- Orm, você pode marcar a viagem para segunda a tarde, pois terei de ir a empresa antes – Ela balançou a cabeça afirmativamente – Quanto ao hotel, não será necessário, tenho uma residência na Catalunha, na província de Barcelona.

- Sempre quis conhecer Barcelona – Ela falou entusiasmada – Mas nunca pude ir porque precisávamos economizar.

- Bom... Será uma oportunidade então de você conhecer a cidade – Sorri feliz com a empolgação dela.

- Então serão duas passagens e apenas um quarto de hotel – Ela sussurrou enquanto mexia no tablet – Bem, já estou providenciando aqui.

- Só um detalhe Orm – Eu falei chamando-lhe a atenção – Não será necessário fazer reserva em nenhum hotel, você vai ficar comigo.

- Mas...

- Nada de mas... – Logo fui dizendo, interrompendo o seu protesto – Minha casa é muito grande e eu tenho um quarto de hóspedes lá, assim teremos a nossa privacidade.

- Mas senhorita, eu não quero...

- Sem mas ok – Interrompi-a – Você estará indo a serviço da empresa, não quero que se desgaste a toa.

Ele me olhou de forma curiosa, porém ficou em silêncio e eu voltei a minha atenção ao celular, tomei uma xícara de café enquanto verificava se o meu pedido já havia sido entregue na Bit Company:

- Vamos Orm – Disse me levantando vendo-a fazer o mesmo – Podemos aproveitar que a tarde está agradável e visitar alguns lugares daqui.

- Isso seria muito bom – Ela sorriu abertamente me fazendo por uns segundos esquecer tudo ao meu redor.

Passeamos pela City Art Gallery, algumas adegas e igrejas antigas.

No final da tarde paramos perto de Ponquongue Beach, estacionei o carro e fomos andando até a praia, ouvindo o som das ondas, a areia branca, a vegetação rasteira, pássaros voando e alguns caminhando calmamente perto do mar.

Tiramos os nossos sapatos e fomos para mais perto do mar, assim que nós nos sentamos, Orm respirou fundo inalando o cheiro da maresia:

- Adoro o som e esse cheiro – Ela sussurrou olhando para a água.

- Então você curte praias? – Perguntei sem desviar os meus olhos do rosto dela, ela se virou pra mim e sorriu.

- Eu curto a vida senhorita – Ela garantiu – Não importa o lugar, eu admiro a perfeição que existe em cada criação divina e tudo fica ainda mais maravilhoso quando compartilhamos momentos como este com as pessoas certas.

- Entendi – Balancei a cabeça em afirmação e desviei os meus olhos para as ondas se quebrando ao longe.

- Posso te perguntar uma coisa senhorita? – Orm falou depois de alguns minutos me fazendo encará-la.

- Claro.

- A senhorita...

- Orm, me chame de Lingling – Pedi – O nosso expediente já terminou.

- Lingling – Ela corou ao falar o meu nome – Além do trabalho, o que você faz pra se divertir?

- Essa pergunta é bastante pessoal – Respondi-a com seriedade.

- Me desculpa se estou parecendo intrometida, é que eu a vejo sempre trabalhando e fiquei curiosa.

- Tudo bem – Eu sorri timidamente – Às vezes saiu com um amigo, porém prefiro ficar em casa no meu tempo livre e você?

- Não tenho tempo para diversão, quando não estou no trabalho, estou em casa cuidando de minha mãe... Quando eu namorava o Teodore, ele me levava para alguns bares, mas não gosto de ambientes que tenha muita bebida alcoólica.

- Entendi.

Voltamos a encarar o mar, o céu começando a ficar alaranjado com o sol sumindo no horizonte, ouvi-a suspirar, contudo não me atrevi a olhar para ela:

- O seu rosto fica ainda mais bonito no entardecer – Ela falou tão baixo que se não estivesse silencioso, eu não teria ouvido.

- Obrigada Orm, isso foi muito gentil – Senti o meu coração se acelerar.

- Não foi uma gentileza Lingling, eu só disse a verdade – Ela concluiu.

(Por Orm)

Céus... Que dia incrível estava sendo aquele, toda aquela atenção que a senhorita Sirilak me dava, os lugares que visitamos, o cuidado...

Eu tentei me manter neutra desde o momento em que saímos da empresa, mas estar com a minha chefe por duas horas em seu carro foi torturante, ela exalava um ar autoritário mesmo sem falar uma palavra sequer.

E o perfume e o charme... Será que ela tinha ideia de quão atraente ela era? Estar perto era um desafio a minha orientação sexual, pois a medida que os dias iam passando mais eu me pegava pensando nela.

A senhorita Sirilak então falou da viagem e de eu ficar em sua casa, agradeci a Deus por ela não ter visto o meu nervosismo, não queria que ela se envolvesse comigo, eu possuía tantos problemas que acabaria me tornando um fardo em sua vida.

Mas na praia, admirando-a em pensamento, não contive a boca e soltei no ar o que eu necessitava dizer.

Lingling? Será que algum dia eu me acostumaria a chamá-la assim?

Após o elogio, ela me agradeceu e continuamos caladas esperando a noite chegar, então ela se levantou e estendeu a mão para que eu fizesse o mesmo, quando o fiz me desequilibrei e ela me segurou firme em seus braços.

Eu prendi o ar sem perceber e ela ficou olhando para os meus olhos e para a minha boca, se ela me beijasse ali eu não resistiria, só que ela não fez.

Aos poucos foi afrouxando o aperto em minhas costas, distanciando os nossos corpos.

A minha mente ficou em branco e o meu instinto floresceu, ela já havia me soltado e pôs a andar na minha frente, então eu a chamei e quando a senhorita Sirilak se virou, eu a abracei pelo pescoço e a beijei.

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