Isso é praticamente uma confissão

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(Por Lingling)

Encontrei a Orm andando de um lado para o outro na frente da porta do quarto onde a senhora Koy estava repousando, assim que ela me viu percebi a sua aflição, ela correu em minha direção:

- Senhorita Sirilak, você está bem? Ele te fez algum mal? Deveríamos avisar a polícia?

- Calma – Respondi tranquilamente – Aquele homem não vai mais aparecer, eu garanto.

- O que a senhorita fez?

- Somente conversei com ele, nada demais.

- Mas...

- E a sua mãe? Como está o tratamento dela?

- Ah – Orm ficou um tempo refletindo antes de me responder – Ela está melhorando, os médicos disseram que ela terá alta daqui dois dias se não houver nenhum agravamento.

- E o que você pensa em fazer quando ela for liberada?

- Vou ver ainda, não estou com cabeça para pensar em nada agora, o retorno do Teodore só complicou ainda mais a minha situação.

- Mandei no seu e-mail os dados de uma clínica para alcoólicos, já está tudo organizado, só basta levar a senhora Koy lá e também contratei um psicólogo e um psiquiatra para ela.

- Eu não tenho como pagar por isso.

- E nem precisa.

- Não senhorita, eu não posso aceitar, você já tem sido bastante gentil me concedendo esses dias...

- Já está decidido – Fui firme – Mas se a questão é sobre pagar... Um dia você me ressarce.

- Senhorita... – Orm abriu a boca para falar, mas não disse uma palavra sequer.

Ela sorriu timidamente e me abraçou enquanto algumas lágrimas começavam a surgir em seu rosto, eu senti o calor daquele corpo no meu e o seu perfume invadiu o meu nariz, aspirei aquele cheiro maravilhoso embriagada e com desejo.

Orm não tinha ideia do poder que a sua presença causava em mim, então me lembrei das palavras dela naquela discussão que ela teve com o ex, “E se ela quisesse algo comigo, sim... Eu deixaria ela fazer o que bem quisesse comigo, ao contrário de você a minha chefe é gentil, linda, se preocupa com o meu estado e não me trata como um objeto”.

Ah, se aquilo que ela disse fosse verdade e não uma provocação...

Vocês não tem a mínima noção do quanto eu desejei que essas palavras fossem o que ela realmente queria, eu faria muitas coisas com ela, coisas que nem saberia descrever e eu sei que ela pediria por mais de mim, porque se o contrário fosse eu também iria ansiar por mais.

Mas ela só quis diminuir aquele lixo do ex dela e acabou usando a insegurança dele como uma arma, eu fiquei bastante impressionada e depois com medo dele matá-la.

Aos poucos ela desfez o abraço e ficou me olhando em silêncio ao ponto de abaixar a cabeça e olhar para o chão:

- Você está bem? – Perguntei para iniciar uma nova conversa.

- Eu queria lhe pedir desculpas – Ela sussurrou – Não foi certo ter te envolvido naquela confusão, eu tive medo dele fazer algo contra a senhorita.

- Não precisa se desculpar, você não tem culpa de coisa alguma, é ele e somente ele quem é o culpado.

- Foi por causa dele que a minha mãe voltou a beber, eu o odeio por isso e por tantas coisas – Ela disse trincando os dentes.

- Só esqueça que ele existe, esse homem não vai mais te atormentar.

- Você afirma com tanta veemência que não consigo duvidar.

- Então não duvide e ponto.

...

(Por Orm)

Ninguém nunca me defendeu daquela maneira, a senhorita Sirilak apareceu na hora certa, porém mesmo ela dizendo que o Teodore não mais me procuraria eu tinha medo.

Saímos do corredor do hospital para uma lanchonete ali próximo, eu não podia me ausentar por muito tempo, fiquei aliviada por ela entender está questão.

A senhorita Sirilak me pagou um lanche e enquanto eu comia-o, ela bebia uma garrafinha de cerveja sem desviar os olhos de mim, o peso daquele olhar me deixava perdida, às vezes me deixando envergonhada além do meu normal, às vezes me fazendo pensar demais em coisas que não existiam, às vezes me fazendo duvidar de tudo sobre mim mesma.

Então lembrava de ter falado mais do que eu deveria ao Teodore, palavra por palavra ecoando em minha mente, a memória fresca de uma confissão dita no começo apenas para diminuí-lo e depois de ter falado, eu percebi que não havia mentido.

Eu deixaria ela fazer o que bem quisesse de mim? Sim, era a vontade que diariamente crescia em meu ser, eu me alimentaria do sabor dos seus lábios e dos toques de suas mãos em minha pele.

Mas porque eu continuei pensando naquilo? Os olhos dela penetravam em meus poros e eu suava frio com o nervosismo, a boca se abrindo e fechando a cada término das frases, sorrisos fechados e uma das mãos ocupada segurando a garrafa.

Me sentia grata por toda paciência e respeito dela por mim e muito mais afortunada por ela ter resolvido a questão do vício de minha mãe:

- Orm... Orm, está me escutando? – Ela chamou a minha atenção.

- Me desculpa, não te ouvi – Confessei – O que a senhorita dizia?

- Não é nada, deixa pra lá – Ela tentou desconversar, mas algo em dentro de mim pediu-me para insistir.

- Pode dizer, depois de tudo o que aconteceu, acho que estou pronta para ouvir qualquer coisa.

- É só uma pergunta que está em minha mente – Os olhos dela brilharam intensamente – Porque você disse para aquele infeliz que se eu quisesse algo de ti, você me permitiria?

- Bem... – Senti meu rosto esquentar e abaixei a cabeça para não vê-la – Eu não tenho certeza.

- Como assim? – Ela me instigou a continuar – Vamos? Seja sincera.

- Bem... – O meu coração ficou acelerado enquanto eu tentava responder àquela pergunta sem parecer uma mulher interesseira ou oportunista.

- É tão difícil pra você simplesmente falar o que aconteceu? O que você pensou quando falou aquilo? – Ela parecia triste com a minha incerteza e ao levantar a cabeça eu não pude deixar de ver que a reação dela me causava de certo incômodo.

- Senhorita – Respirei profundamente – Eu falei aquilo para provocar o meu ex...

- Entendi – Ela me interrompeu e se levantou já pegando o celular e a bolsa sobre a mesa, então eu a segurei.

- Espera eu terminar – Disse ainda tocando a sua mão, os nossos olhos voltaram a se encontrarem – É certo que foi uma provocação, porém assim que as palavras saíram da minha boca eu percebi que eram verdadeiras.

- Você está me falando que... – Ela deixou a frase morrer para eu terminar o meu raciocínio.

- Que eu tenho sentido certas coisas desde a viagem que fizemos para Nova York, que eu não estou sabendo lidar comigo todas às vezes que penso na senhorita, não sei se estou confundindo gratidão com outro sentimento.

A senhorita Sirilak de repente soltou-se de mim e pediu que eu a acompanhasse até o hospital, ela não respondeu a minha confissão como eu já tinha pensado que ela faria.

Assim que chegamos em frente ao quarto de minha mãe, ela me deu um beijo no canto dos meus lábios e saiu.

Eu entrei no quarto e fiquei pensando sobre tudo aquilo, sobre o que mais eu deveria ter dito e me calei, eu não tinha sido uma pessoa totalmente aberta, deixei o meu querer subentendido para não fechar a porta que nós duas havíamos aberto.

ME ESPERA...Onde histórias criam vida. Descubra agora