Capítulo 31 - Casa Nova

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Capítulo 31 - Casa Nova

Giovanna Torres

Eu nunca senti tanto ódio em toda minha vida. Não era ódio de Maya por não ter me contado antes sobre aquela noite terrível. Era ódio de Christopher, ódio dele ter encostado nela, ódio por ele ter causado tanto sofrimento. E agora, a consequência mais cruel: Maya estava grávida. Fruto de uma violência, de um abuso.

O que mais me consumia era a impotência. Eu, delegada, acostumada a lutar contra esse tipo de crime, agora me via completamente de mãos atadas. Não podia fazer nada, nada que apagasse o que aconteceu, que desfizesse o trauma, que protegesse Maya de algo que já estava feito.

Senti um nó se formar no meu peito. Parte de mim queria explodir, encontrar Christopher e fazer justiça com as próprias mãos. Mas a outra parte, a que ainda pensava com clareza, sabia que agora a única coisa que importava era Maya. Ela precisava de mim mais do que nunca, não da minha raiva, não do meu desejo por vingança. Precisava de calma, de apoio.

Hoje de manhã, enquanto tomávamos café, Maya parecia outra pessoa. Havia um alívio palpável nela, uma tranquilidade que eu não via há dias. Acho que o peso de esconder a gravidez de mim a consumia mais do que eu imaginava. Agora que tudo estava às claras, pelo menos entre nós duas, ela parecia respirar com mais facilidade. Aquela leveza dela me confortava, mesmo que por um momento.

Agora, aqui estou eu, sentada na minha sala na delegacia, encarando uma pilha de papelada. Assinaturas, relatórios, pareceres... nada mais que a burocracia de sempre. Eu tentava focar, mas a mente insistia em voltar para Maya, para nossa situação, para o futuro incerto.

Foi então que a porta se abriu sem muita cerimônia, e lá estava Kiara. Ela entrou com aquele jeito casual de sempre. Ela se encostou na porta, com um sorriso meio de lado.

- Tudo bem, delegada? - Ela perguntou, com um olhar que dizia mais do que as palavras.

Continuei preenchendo o formulário, sem levantar os olhos.

- Tudo. Precisava de alguma coisa, Kiara?

Ela se aproximou lentamente, os passos ecoando no pequeno espaço da sala.

- Só passando pra ver como você tá. Tem estado tão focada ultimamente... Cansa, né? Essa papelada toda.

O tom dela era leve, mas eu já sabia onde ela queria chegar.

- Faz parte do trabalho, Kiara - respondi, mantendo a voz neutra. Eu sentia o olhar dela sobre mim, como se estivesse esperando uma abertura.

- Sim, mas sabe que você podia tirar uns minutinhos pra relaxar de vez em quando. - Ela disse, agora de pé ao lado da minha mesa, se inclinando um pouco. - Café mais tarde, talvez?

Finalmente levantei os olhos para ela, soltando um suspiro disfarçado.

- Tô cheia de coisa pra resolver aqui. Quem sabe outro dia?

Ela sorriu, mas havia algo de persistente no olhar.

- Vou cobrar, delegada. E, ah... se precisar de ajuda com a papelada, pode contar comigo. Eu sou boa com... tarefas manuais.

Kiara riu baixinho, um som quase provocativo.

- Sério, delegada, um café não vai te matar. E nem vai levar muito tempo. Me deixa te ajudar a desestressar um pouco. - Ela estava próxima o suficiente para que eu sentisse a presença dela, a maneira como sua voz parecia querer quebrar a formalidade do ambiente.

Eu me recostei na cadeira, tentando não demonstrar irritação.

- Kiara, eu realmente estou ocupada. Tenho coisas para resolver.

Amor Profano - MagiOnde histórias criam vida. Descubra agora