Capítulo 32 - Flores

823 57 13
                                    

Capítulo 32 - Flores

Maya Manoela

Hoje é o dia do meu primeiro ultrassom, e há dois dias eu e Giovanna finalmente nos mudamos para nossa nova casa. É tão bom poder chamar esse espaço de nosso. Tenho pensado bastante sobre a gravidez, e depois de conversar com a Giovanna, sinto ainda mais apoio. Ela me oferece todo o suporte emocional, mas nunca tenta se intrometer ou influenciar minhas decisões. Ela sempre reforça que essa é uma escolha minha, que só eu posso fazer. E eu decidi fazer esse ultrassom, mas infelizmente a Giovanna não vai poder ir comigo. Um imprevisto surgiu, e ela terá que passar o dia todo na delegacia. Mesmo assim, ela fez questão de me tranquilizar, dizendo que estará comigo em pensamento e que, assim que puder, vai saber de todos os detalhes. Isso me deixa um pouco ansiosa, porque é um momento importante, mas ao mesmo tempo me sinto forte, sabendo que ela está me apoiando, mesmo à distância.

Quando saí de casa para o ultrassom, senti uma mistura de emoções. Estava nervosa e ansiosa, mas também curiosa e até um pouco esperançosa. O caminho até a clínica foi tranquilo, mas a cada minuto me aproximando, minha cabeça ficava cheia de perguntas. Como será? O que vou sentir quando ver pela primeira vez?

Ao chegar, passei pela recepção, entreguei os documentos e fui direcionada à sala de espera. Enquanto aguardava, olhava ao redor e via outras mulheres, algumas sozinhas, outras acompanhadas. Eu me peguei desejando que Giovanna estivesse ali comigo. O simples toque dela na minha mão teria me dado aquela segurança extra que eu precisava.

Quando finalmente me chamaram, meu coração acelerou. Entrei na sala e vi o equipamento, as luzes suaves, e o médico me cumprimentou com um sorriso gentil. Ele me pediu para deitar e expôs a barriga com o gel frio.

- Vamos dar uma olhada - ele disse, e enquanto a tela começava a mostrar imagens, minha respiração parou por um segundo.

Foi nesse momento que a realidade da gravidez realmente me atingiu. Ali estava algo, uma pequena vida, crescendo dentro de mim. Não sei como descrever o que senti. Medo, alegria, responsabilidade, tudo ao mesmo tempo.

Deitada naquela maca, o som do monitor parecia mais alto do que o normal. O médico começou a movimentar o aparelho e, de repente, um som forte e repetitivo preencheu a sala. O coração. Era o coração do bebê. Meu peito apertou e, por um segundo, fechei os olhos, tentando absorver tudo.

- Está vendo aqui? Esse é o seu bebê, com cerca de oito semanas - disse o médico, apontando para a tela com um sorriso tranquilizador.

Eu olhei, mas parecia que minha mente estava longe. O som daquele coração batendo me atingia de tantas maneiras diferentes. "O meu bebê…" pensei, mas então a realidade dura do que aconteceu naquela noite com Christopher veio à tona como uma onda fria. Meu corpo enrijeceu. Esse bebê… não foi algo que escolhi, foi algo que aconteceu. Fui jogada nessa situação de um jeito que ainda tento entender.

- Você está bem? - o médico perguntou, provavelmente percebendo meu silêncio e a rigidez no meu rosto.

- Eu... eu não sei. - Minha voz saiu baixa, quase um sussurro, e lágrimas começaram a se acumular. - Isso tudo é tão... confuso. - Minha mente girava, misturando os momentos traumáticos com o que estava acontecendo agora. Como posso sentir amor ou esperança por algo que veio de uma situação tão horrível? Mas, ao mesmo tempo, ali estava ele, ou ela, uma vida. Inocente.

O médico pareceu entender que algo estava errado, mas respeitoso, ele apenas me deu espaço para processar.

- Esses primeiros momentos podem ser muito intensos - disse ele suavemente.

Fiquei ali, encarando a tela. Era como se minha cabeça estivesse dividida ao meio. De um lado, eu queria me entregar àquele momento, à ideia de ser mãe, de cuidar e criar. Do outro, as lembranças daquela noite voltavam com força. O abuso. A sensação de estar fora de controle, de não poder decidir por mim mesma.

Amor Profano - MagiOnde histórias criam vida. Descubra agora