A conexão entre nós

Tão leve quanto um pássaro

                                                                       capítulo 21

      Naquela manhã, Seungcheol despertou com uma sensação de liberdade tão rara que precisou de alguns segundos para perceber o quão diferente se sentia. Acordou na barraca, sentindo o peso da umidade matinal, o cheiro fresco da grama e o som das folhas se agitando ao vento, mas o que mais o surpreendia era o alívio em seu peito. Era como se pudesse respirar, enfim, sem amarras.

     Pensou no fim do noivado com Mika, e como aquilo fora um ponto de virada que ele havia evitado admitir para si mesmo por tempo demais. Mika fizera uma cena, como sempre, tentando justificar as palavras cruéis que dissera sobre Chan, alegando que eram apenas coisas "ditas no calor do momento". Mas Seungcheol sabia que não era bem assim. Mika insinuara, de forma desprezível, que Jeonghan estava tentando "seduzi-lo", ou manipular Chan contra ela. E que essas insinuações cruéis sobre Jeonghan eram, segundo ela, apenas "preocupação com a relação de chefe e funcionário". Mas Seungcheol sabia que era mais profundo que isso; ela enxergava Jeonghan como uma ameaça desde o princípio. E Seungcheol já não podia mais ignorar que ela sempre foi o verdadeiro problema nas vidas deles.

     Ele sentiu uma pontada de arrependimento, imaginando o quão cego havia sido. Desde o primeiro momento que Jeonghan apareceu em sua vida, ele foi uma presença constante, calorosa e sempre respeitosa, alguém em quem Chan confiava e, sem dúvidas, alguém a quem ele mesmo se apegara mais do que gostaria de admitir. Talvez, se tivesse ouvido o próprio coração ao invés de se deixar levar pelas palavras de Mika, teria percebido antes o que estava tão claro agora.

     Lembrou-se de todas às vezes em que Jeonghan foi paciente, cuidando de Chan com carinho e tratando Seungcheol com respeito e gentileza e, até, lembrou do dia em que chorou na frente de Jeonghan, coisa que nunca tinha deixado acontecer na frente de ninguém, nem de seu próprio irmão. Ele riu baixinho, incrédulo, ao pensar em como foi cego. Desde o momento em que Jeonghan entrou em suas vidas, ele trouxe uma leveza e uma alegria que Seungcheol nem sabia que sentia falta.

     Seus pensamentos logo voltaram para a conversa que tivera com Jeonghan na noite anterior. Ele se lembrava claramente de como Jeonghan o olhara nos olhos, com uma franqueza que ele tanto admirava, e confessara seus sentimentos. "Eu também gosto de você, Seungcheol," Jeonghan disse, com a voz baixa, mas firme. Seungcheol ainda sentia o calor daquele momento, a confusão doce de ouvir aquelas palavras tão aguardadas. Ele nunca teria acreditado que Jeonghan sentia o mesmo se não tivesse ouvido de sua boca, e agora, lembrar-se disso o fazia sorrir, ainda incrédulo. Mas o que fazia o peito de Seungcheol bater mais rápido era a lembrança do beijo que veio depois. Foi um instante cheio de significados, um momento em que todas as dúvidas, medos e desejos guardados pareciam desaparecer, deixando apenas o sentimento puro e verdadeiro que Seungcheol sempre lutara para esconder de si.

     Quando seus lábios se tocaram, tudo o que ele pensava ser cautela e reserva se desfez. Ele se sentiu como um adolescente de novo, voltando aos dias de insegurança e entusiasmo das primeiras paixões. Seungcheol sentia-se como se estivesse descobrindo algo novo e precioso; era um toque suave e doce, mas cheio de intensidade, e ele podia jurar que o tempo parou. Jeonghan o segurava com a mesma firmeza e carinho, e aquilo o fazia perceber que o sentimento entre eles não era algo passageiro — era algo profundo, que crescia há tempos.

     Por um segundo, Seungcheol havia hesitado, assustado com o próprio desejo de nunca mais parar. E, naquele instante, ele entendeu que não queria perder Jeonghan nunca mais.

     Só lembrar desse momento, faz seu coração disparar, batendo tão alto que teme que a causa de seu coração disparado ouça.

     Abrindo os olhos novamente, Seungcheol suspirou, sentindo que finalmente poderia fazer algo concreto para mudar as coisas entre eles. Por muito tempo, mantivera Jeonghan à distância, como um funcionário — por segurança, talvez, ou medo de machucar o coração de Chan, ou o seu próprio coração. Mas agora, finalmente, sabia o que queria.