A noite parecia mais sombria na imensidão da sala de pedra, onde Agatha se encontrava sozinha, envolta em um misto de silêncios e ressentimentos que mal conseguia controlar. A luz das velas dançava em reflexos nas taças de cristal e nas garrafas de vinho repousadas sobre a mesa. Ela girava o copo, observando o líquido rubro deslizar devagar até manchar o cristal com um tom espesso e profundo. Mas o vinho que ela degustava era um pouco mais encorpado do que o normal, e aquele toque de sangue humano em sua bebida parecia-lhe adequadamente amargo para a noite.
Fechou os olhos e suspirou, tentando acalmar os pensamentos que tanto a incomodavam. A imagem de Rio surgiu em sua mente, perturbando-a. Como aquela jovem, com toda sua inexperiência, havia conseguido atravessar suas defesas de uma maneira que ninguém jamais ousou? Era para Rio ser apenas uma dívida paga, um simples pagamento pela falência moral e financeira dos Vidal. Mas, de algum modo, ela se infiltrou em algo que Agatha não sabia explicar – um espaço que ela jamais permitiu a ninguém.
— Maldita seja… — murmurou, apertando os dedos ao redor da taça. Ela sabia o quão mortal Rio podia ser pra ela. Aquela sensação lhe causava uma irritação crescente, algo que não conseguia mais esconder nem de si mesma. Era como se, a cada dia que passava, houvesse algo ali, um fio tênue, mas indestrutível, ligando-a a Rio.
A porta pesada rangeu, interrompendo o fluxo de pensamentos. Wanda entrou na sala, os passos firmes e quase etéreos, como uma sombra que invadia o ambiente. Agatha apenas ergueu o olhar, sem qualquer gesto de boas-vindas.
— Você está com um cheiro... desagradável. –– Agatha comentou com uma voz fria, o olhar crítico. –– Esse cheiro de humana... Romanoff, não é?
Wanda lançou um sorriso enigmático, inclinando a cabeça enquanto se aproximava.
— O cheiro fica, mãe, mas ela não me incomoda. –– Wanda rebateu, apoiando-se em uma cadeira ao lado da mãe. –– Na verdade, é um pouco engraçado ver o quanto ela quer me ferir. Uma humana com tanto ódio, com tanta determinação... é quase patético.
Agatha franziu o cenho, tomando um gole de seu vinho sanguíneo.
— Humanos movidos por ódio são os mais perigosos, Wanda. Não subestime o que uma mente dominada por rancor pode fazer. –– Seu tom era cortante, um alerta que não queria deixar de dar. Afinal, sabia o que o ódio era capaz de gerar.
Wanda revirou os olhos, divertida.
— Quem fala, hein? E por falar em ódio e humanos, mãe… será que posso me alimentar da garota Vidal? Estou exausta de tomar da reserva. –– perguntou num tom casual, mas com um brilho no olhar.
Agatha sentiu uma pontada de ciúme irracional ao cogitar sua filha com os dentes na pele da jovem. Ela contraiu os lábios, soltando uma resposta seca:
— Não.
Wanda riu, e o som ecoou pela sala como um som de puro deboche.
— O que foi isso, mãe? Um “não” com uma pitada de ciúmes? –– Wanda provocou, arqueando uma sobrancelha enquanto olhava Agatha com um interesse afiado.
Agatha desviou o olhar, mas não respondeu de imediato. Não podia ceder à provocação da filha, não quando ela mesma mal entendia o motivo de sua negativa. Desde quando aquela humana lhe causava qualquer desconforto? Ela mesma não havia sequer se alimentado de Rio, embora fosse um pensamento recorrente. O gosto daquele sangue, a pulsação vital que emanava daquela jovem... não, ela não permitiria que Wanda tocasse nela.
— Nem mesmo eu bebi do sangue daquela jovem — disse Agatha, tentando disfarçar o desconforto. –– E você sabe que sempre sou a primeira a provar, Wanda.
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Evil - Agathario
RandomPara quitar as dívidas de sua família, Rio Vidal é entregue à vampira Agatha Harkness. Determinada a não aceitar esse destino, ela tenta fugir, mas logo descobre que escapar de Agatha não será tão simples quanto imaginava.