Onde Júlia consegue um estágio na Supernova, mas um certo japa tatuado se torna seu maior desafio.
"De canto, não quero destacar, ganho que cê já ficou na minha. Mas um moleque bom como eu, é muito bom de ler entrelinhas"
Julia Kaminari era uma garo...
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Já fazia algumas semanas que o clima entre mim e o Ghard estava completamente diferente. Depois daquele quase-beijo no estúdio, a tensão tinha ficado ainda mais forte, mas nós dois evitávamos nos falar. Eu continuava trabalhando focada, investindo tudo no projeto e tentando me manter distante. Ele também parecia seguir na mesma linha, e qualquer momento em que nossos olhares se cruzavam era rapidamente cortado. A relação tinha ficado estranha, e cada um estava tentando lidar com isso à sua maneira.
Mas naquela semana, começou o assunto sobre uma viagem. Era o G.A quem trazia a novidade com um sorriso convencido, dizendo que eles mereciam um descanso e que a gravadora tinha liberado uma estadia em uma pousada em Trindade, no Rio. Eles todos pareciam animados, e eu estava pronta para me manter neutra, mas então Veigh virou pra mim.
— E aí, Julia? Você tá nessa, né? Vai ser bom pra todo mundo, uma pausa pra gente recarregar.
— Sei não, — falei rindo, tentando parecer casual. — Tenho meus compromissos por aqui no feriado, na real...
Foi quando Niink entrou na conversa.
— Só vou se minha mulher for! — ele riu, e o grupo todo começou a zoar ele, que ficou todo sem jeito.
Resolvi entrar na brincadeira também.
— Também só vou se a minha mulher for!
Os meninos caíram na gargalhada e logo começaram a questionar quem seria essa "mulher" de quem eu falava. G.A foi o primeiro a abrir a boca.
—Como assim você tem mulher???? meu mundo caiu, já estava planejando nosso casamento Ju— falou fazendo drama, e nesse instante cheguei a pensar ter visto Ghard o encarar.
— Gente, é minha amiga! Minha melhor amiga, a Madu. Ela tem um filhinho pequeno e ia sair comigo no feriado.
Veigh, que sempre era o mais solto, logo deu a ideia de eu chamá-la.
— Traz ela também, Ju. A gente vai levar um monte de gente mesmo, e tá tudo na conta da gravadora. Ela vai se divertir e eu ainda vou ter alguém normal pra conversar, porque esse bando de moleque aqui, só conversa de louco
Pensei um pouco. A ideia era tentadora, mas ao olhar de relance, lá estava o Ghard. Ele me olhava com aquela expressão enigmática de sempre, quase como se estivesse curioso pra ver o que eu decidiria. E parte de mim sabia que nessa viagem seria difícil continuar evitando ele. Mas também resolvi acordar pra vida, eu tava finalmente começando a ter boas oportunidades e aquela viagem seria muito legal, eu não ia estragar ela por conta de um zoi puxado arrogante, já cometi esse erro uma vez.
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Quebra de tempo
Alguns dias depois, lá estava eu, revirando meu quarto e enfiando biquínis e roupas de verão na mala. Madu, empolgada como sempre, já estava pronta e me ajudava a decidir o que levar. Ela ria e falava sem parar sobre o feriado na praia e sobre tudo que deveríamos fazer. Em um momento, parou de dobrar uma camiseta e me olhou com uma expressão significativa.
— Minha linda, me conta mais. Como é que vai ser com o tal do Ghard lá? Vocês vão conseguir resolver as coisas ou vamos ficar fingindo que nada aconteceu, e que o beijo não quase rolou?
Suspirei, tentando esconder a mistura de nervosismo e ansiedade que essa pergunta trazia.
— Ah, Madu, eu tô nem aí pra ele. Sério... Ele tem sido tão esquisito comigo. Acho melhor mesmo continuar evitando e focar em curtir a viagem com você e o pessoal. — respondi, tentando me convencer de que era realmente isso o que eu queria.
Ela arqueou as sobrancelhas, claramente não acreditando nem por um segundo.
— Sei... você pode até dizer isso, mas seu olhar conta outra história, dona Julia Kaminari. Fora que, eu e vc sabemos bem que marrentos dos olhos puxados são seu ponto fraco.
Revirei os olhos e dei uma risadinha, mas no fundo sabia que Madu tinha razão. Desde aquele dia no estúdio, parecia impossível tirá-lo da cabeça, mesmo com o silêncio e a distância que tentamos manter. Como era difícil colocar um ponto final quando o que realmente queríamos — ou pelo menos o que eu queria — parecia estar longe disso.
Madu, no entanto, continuou a cutucar.
— Olha Kaminari, vou ser sincera. Você vai estar no mesmo lugar que ele por vários dias, e se vocês continuarem se evitando, vai ser no mínimo estranho. Quem sabe essa viagem não ajuda vocês a resolverem essa tensão? E, quem sabe, até terminar aquele beijo que vocês quase deram, hein?
Engoli em seco ao ouvir aquilo. A lembrança daquele momento no estúdio voltou com força total. Por um segundo, a sensação daquele quase-toque, o cheiro dele tão próximo... tudo veio à tona. Só que dessa vez, não era um pensamento que eu queria alimentar.
— Madu, não! Eu tô falando sério. — forcei uma risada, tentando disfarçar o nervosismo. — Depois de como ele agiu, de tudo que ele disse, eu não quero mais nada com ele. Nem sei por que tô indo nessa viagem, mas uma coisa é certa: não vou me iludir de novo.
Ela me olhou por um segundo, e um sorriso suave surgiu no canto dos lábios.
— Tá bom, tá bom. Sem ilusão, então. Mas, por via das dúvidas, leva esse vestido branco. Ele vai fazer você brilhar naquelas festas que o pessoal planejou.
Puxei o vestido das mãos dela, ainda rindo, mas senti meu coração acelerar com a ideia de encontrá-lo naqueles momentos, sabendo que a tensão entre nós estava longe de ser resolvida. Mesmo que eu repetisse que não queria mais nada com ele, parte de mim se preparava para uma viagem que, no fundo, eu sabia que teria muito mais do que simples paisagens e descanso.
E, com tudo pronto, embarcamos na viagem. Com os pés na
