Seja Minha

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O mundo decidiu acabar bem quando eu tentava encontrar o caminho de volta até meu prédio, pois o vento forte, que levava folhas e sacolas na minha cara, e a chuva forte e fria batendo constantemente nas minhas roupas encharcadas, impedia-me de me localizar por entre aquele bairro desconhecido.

A chance de eu ser assaltada seria grande, mas até os bandidos eram mais inteligentes que eu, e estavam protegidos em algum lugar por ai, tomando chocolate quente e assistindo à reportagens na televisão roubada.

Resmunguei para o vazio pela milésima vez, xingando mentalmente Harry, que havia me colocado naquela situação.

− Você mesma se colocou nessa situação, idiota. – Praguejei, ao olhar para a vitrine de uma loja de sapatos e perceber que minha aparência era pior que a de um mendigo. Molhada da cabeça aos pés, eu tinha lama respingada em minhas pernas descobertas pela saia, algumas folhas tinham ficado presas em meu cabelo e eu já rezava pelo meu celular dentro da bolsa, que tinha se transformado em uma esponja de banho.

E além de tudo, minha cabeça parecia que pretendia se explodir e, enquanto corria para atravessar a rua, pensei sobre a discussão que Harry e eu tivemos mais cedo.

Admitia que não fui a pessoa mais racional naquele momento, esbravejando com Harry, sem ao menos deixa-lo falar, mas eu já estava tão descontrolada que mal percebi que não fazia ideia de sobre o que nós brigávamos.

Talvez pelo fato dele saber sobre como eu guardava meus sentimentos para mim, trancando-os em voltas de muros muito bem construídos, deixando-me frustrada pelo fato de nunca ninguém ter conseguido me abalar, até Harry, que na primeira troca de olhares, já tinha me derrubado, tomando-me em suas mãos.

Tinha medo de me entregar à ele e ser deixada de lado, logo em seguida.

− Malditos hormônios e maldito coração! – Gritei, frustrada.

Virei a esquina e me encontrei em uma avenida movimentada, onde carros passavam em alta velocidade, espirrando água das poças em direção à calçada, mas eu já estava tão molhada, que um pouco mais de lama não ia fazer diferença.

Um dos relógios digitais, que vinham junto com uma propaganda de produtos para cabelo, mostrava que já se passavam das nove horas da noite, fazendo com que eu entrasse em desespero, pronta para ligar para Simon vir me resgatar.

Percebi uma movimentação atrás de mim, e logo estava sendo iluminada por faróis de um carro. Com receio de ser um sequestrador maníaco, foquei meu olhar para o chão e me encolhi, andando de maneira apressada.

Infelizmente, o maníaco continuou me seguindo, e só quando a Land Rover parou ao meu lado e abriu o vidro do passageiro, percebi que era alguém muito pior que um sequestrador.

− Nora, finalmente te encontrei! – Harry parecia aliviado, mas mal ameacei olhá-lo, apenas continuei caminhando lentamente, sendo acompanhado por ele. – Entre no carro, por favor.

Balancei a cabeça diversas vezes, parecendo uma criança birrenta, mas após poucos segundos, voltei meu olhar para Harry, que me encarava de maneira cansada, enquanto segurava com força o volante.

Seus olhos verdes praticamente imploravam para que eu entrasse no carro e esquece tudo o que tinha acontecido, mas eu estava conseguindo ser forte, idiotamente forte.

− Volte para sua casa, Harry, não quero a sua ajuda, sei muito bem como me virar sozinha. – Resmunguei, cerrando os olhos na tentativa de parecer brava e ao mesmo tempo, para enxergá-lo por entre a chuva que havia piorado.

− Primeiro, eu não vou deixar você andando sozinha por Londres, principalmente com essa chuva, e segundo, você sabe tão bem "se virar sozinha", que está pegando o caminho contrário à sua casa. – Sua voz era irônica e ele revirava os olhos ao falar.

Don't Let Me GoOnde histórias criam vida. Descubra agora