Até Sábado

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Voltar ao trabalho com ameaça de nevasca em Londres, não foi o melhor jeito de começar uma semana, principalmente quando se é enganada pelo tempo, com um final de semana estranhamente ensolarado para o mês de janeiro.

O cenário acinzentado tinha retornado para o céu e o vento forte entrava pelas frestas das janelas, fazendo-me praguejar de frio enquanto vestia a grossa blusa de lã preta, de gola alta, ao mesmo tempo que tentava colocar as botas de cano baixo.

- Você e sua mania de fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo, não é, Nora?- A voz irônica de Hazel, me fez levantar a cabeça, encontrando minha amiga devidamente vestida, escorada no batente da porta, com um sorriso no rosto.

Por um minuto, pensei que estava tendo um sonho, pois o normal de uma segunda feira para Hazel era, acordar bufando e sair batendo todas as portas do apartamento enquanto reclamava da vida, desde o momento em que nasceu.

Ainda entorpecida com a estranha Hazel que me olhava com olhos brincalhões, sentei-me na cama para conseguir fechar os zíperes das botas e peguei um cachecol quentinho, amarrando-o fortemente em meu pescoço. Tudo isso, olhando para Haz como se ela fosse uma estranha.

- O que fez você ficar tão animada em uma segunda feira? - Perguntei, pegando meu celular apenas para confirmar que Harry tinha finalmente se cansado de mandar mensagens para mim, o que não me deixou dormir à noite inteira.

- Como não ficar animada com o dia lindo que está fazendo? - Tentei achar algum sinal de ironia naquela frase, mas ela falava como se estivéssemos passando um verão no Hawaii.

Apenas para ter certeza de que não estava ficando maluca, olhei pela janela do quarto, observando folhas e galhos sendo levados pelo vento, e nuvens carregadas dando um ar deprimente para a paisagem.

- Tudo lá fora está cinza, e estamos em ameaça de nevasca. – Digo, pausadamente, como se tentasse fazer uma criança entender que dois mais dois eram quatro.

- Por isso mesmo! – Hazel gritou, animada, jogando em meu braços, a bolsa que eu procurava. – Tudo fica mais legal com neve.

- Você odeia neve. – Dou risada, puxando-a pelo braço, pronta para enfrentar o vendaval da rua.

- As pessoas podem mudar, sabia? - Ao ouvir aquilo, franzo a testa e cruzo os braços, encarando-a, que terminava de trancar a porta do apartamento.

Claro que eu já sabia o motivo de toda aquela animação, pois ela não ficava assim desde o dia que ganhou seu pato de pelúcia do Simon, o qual deu o criativo nome de Daffy Duck. Mas eu queria ouvi-la dizer.

- Pessoas mudam, mas você não. – Apertei o botão do térreo e esperei que o elevador começasse a fazer seu barulho estrondoso de sempre.

- Ok! – Ela revira os olhos. – Minha felicidade não tem nada a ver com essa droga de tempo que está fazendo hoje, feliz?

- Só quando você disser que tudo isso está relacionado ao Simon. – Cantarolo, passando pela recepção do prédio, aos pulos.

- Agora é oficial, você é totalmente maluca. – Hazel bufa, esfregando as mãos assim que saímos pelo portão.

O frio estava realmente rigoroso, fazendo com que as pessoas corressem nas ruas, com seus cachecóis e luvas quentinhas.

- Acho melhor nós irmos logo, com esse frio, o metrô vai estar lotado. – Murmuro, enlaçando meu braço no de Hazel, que já estava com os lábios roxos.

- Eu já falei o quanto eu odeio andar naqueles vagões apertados?

- Devia ter pensado nisso antes de bater o meu carro. – Ralho com Hazel, seguindo o fluxo de pessoas que desciam apressadas as escadarias do metrô.

Don't Let Me GoOnde histórias criam vida. Descubra agora