Surpresas

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Aquela estava sendo a semana mais tensa de todas, e com toda certeza o clima na Daily estava ficando cada vez mais pesado entre Simon, Hazel e mim. Sem muitas opções de pessoas para conversar dentro daquele enorme prédio, comecei a passar as longas horas de trabalho com os fones de ouvido no último volume, ouvindo todas as listas de músicas depressivas que eu possuía.

Tudo só piorou na quinta-feira, quando percebi que alguém me observava, da pequena porta inexistente que minha sala tinha. Hazel me olhava atentamente, com um copo enorme do Starbucks e uma caixinha da minha padaria preferida nas mãos.

− Trouxe algo para você comer, já que não saiu para almoçar hoje. – Ela murmurou, esticando os braços com a comida em minha direção.

− Obrigada. – Disse, no mesmo tom que ela, girando na cadeira, até ficar de frente para Hazel, que vestia um shorts jeans rasgado e uma das minhas camisas de bandas de rock.

− Ah, peguei essa blusa do seu guarda-roupa, espero que não ligue, mas já guardei quase todas as minhas, então... – Ela disse, percebendo que eu olhava sua camisa.

− Sem problema. – Minha voz saiu fria, e eu voltei meus olhos para o documento aberto do Word em meu computador.

− Nora, quando você vai voltar para o apartamento? Daqui três dias estou indo embora, e bem... – Ela passou a mão na nuca. – Queria passar um tempo com você.

− Eu não sei. – Foi tudo o que respondi, antes de virar-me de costas para ela, voltando a escrever a pequena matéria sobre a greve no metrô.

Ouvi o barulho de algo sendo colocado em minhas mesa, e quando espiei de rabo de olho, percebi que Hazel havia ido embora, e o copo de café e a caixa de doces estavam ao lado da minha bolsa, disputando espeço naquela mesa apertada.

Bufei pesadamente, pegando a caixinha e vendo que eram os meus cupcakes favoritos, com pequenos confeitos coloridos em cima do creme. E ao sentir um pequeno aperto no peito quando vi meu nome escrito no copo do Starbucks, com um pequeno coração, percebi que talvez eu estivesse sendo um pouco dramática e mesquinha.

Mas eu sabia que não iria conseguir abrir mão de Hazel assim tão fácil.

Mesmo contra a minha vontade, passei o resto da semana na casa de Harry, que insistia a todo momento que eu poderia ficar lá o tempo que fosse preciso, mas já estava começando a ficar viciada em seus braços envolvendo meu corpo, na hora de dormir. E mesmo na noite em que eu insisti em dormir no quarto de hóspedes, acordei no outro dia com ele ao meu lado, abraçando-me como se eu fosse algum ursinho de pelúcia.

Eu realmente estava gostando de dormir todos os dias daquele jeito.

Ainda que eu já soubesse o que papai iria falar para mim sobre o assunto "Hazel indo embora", visitei-o uma noite, naquela semana, encontrando Martha e ele jantando um assado que fez meu estômago resmungar de fome.

Os dois pareceram felizes por me ver ali, sentada entre eles, comendo e conversando, mas assim que comecei a contar a história da ida de Hazel, tive que ouvir longos sermões sobre eu ter sido muito irracional naquele momento. E na hora de ir embora, papai me levou até a porta e beijou minha testa.

− As coisas nem sempre são da maneira que nós queremos, querida, mas uma hora ou outra, temos que aceitar a realidade. – Ele sorriu e puxou-me para um abraço. – Converse com a Hazel e se acertem, mas não deixe que uma coisa tão boba acabe com a amizade de vocês.

E aquelas palavras ficaram dando voltas em minhas cabeça pelo resto daquela longa semana, e só percebi que ainda pensava nelas, quando o Toyota de Simon estacionou na frente do orfanato, naquele sábado frio, e eu mal me recordava do caminho que fizemos, quando saímos da casa dos Fray, depois de tomar um belo café da manhã, com direito às panquecas que eu tanto amava.

Don't Let Me GoOnde histórias criam vida. Descubra agora