Quantos minutos haviam se passado?
Provavelmente, eu deveria ter entrado em algum estado de choque pois, encarava os olhos verdes de Harry como se eles fossem a resposta para alguma questão muito complexa e indecifrável. Meus braços, que estavam em volta de seu pescoço, agora pendiam sem vida ao lado de meu tronco, e o envelope branco com as passagens e reservas já não parecia tão animador como antes.
Tudo aquilo pelo simples fato de que uma escolha minha mudaria minha vida de ponta cabeça, e eu já não tinha certeza de qual era a alternativa certa.
Minha cabeça parecia mais pesada que o normal, e deixei que ela se apoiasse no peito de Harry, no momento em que seus dedos começaram a acariciar meus cabelos e a base de minhas costas.
Meus pensamentos estavam confusos e só percebi que começara a chorar, quando os sussurros de Harry se fizeram audíveis.
− Está tudo bem, amor, vamos dar um jeito nisso, não precisamos ir à essa viagem se você não quiser. – Sua mão, que estava no meu cabelo, havia descido pelos meus braços, e ele deixava um carinho reconfortante por onde seus dedos tocavam minha pele.
Não precisávamos fazer aquela viagem?
Metade de mim gritava um grande "NÃO", e imagens dos sábados que havia passado com Cassie voltavam à minha mente. Desde o primeiro dia em que coloquei meus pés no prédio antigo do orfanato, a menina de olhos chocolates havia me cativado de uma maneira que passei a entender o que meu pai viva dizendo.
− Um dia você vai saber o que é o amor de um pai por seu filho. – Aquelas palavras não pareciam fazer sentido para mim quando Cassie se apresentou naquele primeiro dia, puxando-me pela mãozinha em direção à boneca de pano que ela brincava.
Agora, era a única coisa que fazia sentido naquele momento.
Entretanto, consegui perceber o tom chateado de Harry ao me consolar. Ele faria qualquer coisa para mim, mesmo que qualquer coisa significasse chateá-lo. Pensar que Harry havia tornado minha vida mais feliz no momento em que pediu meu celular de um jeito nervoso me fez perceber quantas vezes ele já não deveria ter aberto mão de algo por mim.
Era minha vez de fazê-lo feliz.
− Você queria adotá-la, não é, Nora? – A voz baixinha de Harry, sussurrada em meu ouvido, fez com que meus olhos arregalassem, surpresa com a constatação de que ele havia captado tão bem os sentimentos que corriam pelos meus olhos quando estávamos no orfanato.
Afastei-me de seu peito, olhando com vergonha para a enorme mancha de lágrimas que eu havia deixado em sua camisa. Meus olhos voaram para os seus, e o brilho verde fez com que meu coração amolecesse e eu acalmasse, sabendo que poderia abrir meu coração para ele por completo.
− Acho que eu quero isso a muito tempo, mas só agora percebi o quanto de amor que tenho por aquela menina – murmurei, passando meus dedos pelo rosto de Harry, que abriu um sorriso enorme para mim. – Sempre pensei que eu poderia dar à Cassie a família que ela sempre quis.
− Você acha que está pronta para isso? – Sua voz saiu séria, e senti uma pontada em meu coração ao ver seu rosto sério, com pequenas rugas entre os olhos, que seriam fofas em outro momento que não fosse não sério.
Eu era uma garota que morava em um bairro simples de Londres, com um emprego que me deixava confortável em minha vida nada esbanjadora, mas nada disso era uma garantia de que eu estava pronta para cuidar de uma criança.
Sempre poderia contar com meu pai, mas ele mesmo estava começando uma nova etapa de sua vida com Martha, e não me sentiria confortável com aquela posição, mesmo sabendo que papai amava Cassie.
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Don't Let Me Go
FanfictionTudo começou com um pedido de Natal de uma garotinha órfã. Nora Hayes é jornalista e, nas suas horas vagas participa de um trabalho voluntário no orfanato Saint Peter, no subúrbio londrino. Ao tentar realizar o sonho de uma das crianças de lá, conhe...