Seguindo o Script

69 6 0
                                    

Há quantas horas eu estava sentada na cadeira desconfortável daquela saleta apertada?

Bem, eu não me lembro.

Apenas me recordo de encontrar Hazel resmungando com a cafeteira, e no minuto em que colocou os olhos em mim, não parou de tagarelar sobre como não gostava da garota nova da redação, Amanda Singer, minha vizinha de divisória de cabelos vermelhos.

− Aquela menina não me engana, Nora. – Ela sibilou, tamborilando as unhas bem feitas na tampa da mesa em que estava sentada.

Em algum momento devo ter murmurado um "por que? ", sem tirar os olhos do caderninho com folhas coloridas, onde eu me empenhava em escrever todas as hipóteses de "surpresa de Harry", mas não sei porque até agora todas envolviam radioatividade e toxinas.

− Devo estar assistindo muito dos seriados estranhos do Simon. – Mordi o lábio inferior, batendo a caneta no caderninho.

− Nora, você está me escutando?

Meus olhos finalmente voltaram a focalizar uma Hazel com os cabelos revoltos ao redor do rosto, enrolando um dedo na barra descosturada da camisa de Star Wars, que eu apostaria com qualquer pessoa, que fora um presente de Simon, pois Haz tinha um medo monstruoso do Darth Vader. Ela olhava-me como se estivesse falando sobre a libertação dos escravos, então apenas deixei de lado a metade de uma entrevista que eu editava em meu computador, e o caderninho com as ideias idiotas e girei minha cadeira até ficar frente para Hazel.

− Você estava falando sobre a Mandy? – Perguntei, torcendo para que eu tivesse captado alguma coisa de sua falação desenfreada, mesmo sabendo que minha cabeça não saia de Harry.

− Mandy? – Ela disse o apelido de Amanda como se fosse uma comida azeda, torcendo o nariz. – Você também já está íntima dela?

Todas as células do meu corpo gritaram: "Perigo! Temos uma Hazel enciumada! ", e eu sabia que qualquer palavra que escapasse de minha boca em um momento tão crítico, desencadearia uma semana de brigas.

− Não é nada disso que você está pensando, Haz. – Soube no instante em que seus olhos castanhos se estreitaram, que eu não tinha escolhido bem as palavras. – Ela se apresentou ontem para mim, pois a sala dela é do lado da minha, nada demais.

Apontei para a divisória atrás de mim para enfatizar o quão casual tinha sido a nossa apresentação, rezando mentalmente para que ela acreditasse e não continuasse me olhando com a cara de assassina dela.

− Essa menina está jogando a simpatia dela para cima de todo mundo! – Hazel gritou, fazendo com que alguns redatores mandassem ela calar a boca. – Mas eu não caio nas gracinhas dela.

Hazel mordia o lábio inferior, mexendo no cabelo nervosamente enquanto tentando sustentar sua pose de descontrolada nervosa, mas eu sabia no minuto em que olhei para seu rosto, que havia acontecido alguma coisa entre ela e Simon.

− Certo, Hazel. – Suspirei pesadamente, levantando-me da cadeira e colocando ele sentada no lugar, a encarando com os braços cruzados, esperando uma explicação. – O que aconteceu?

Depois de passar as mãos pelos cabelos cacheados algumas milhares de vezes, suspirar pesadamente e batucar as unhas na mesa ao seu lado, os olhos de Hazel finalmente voltaram aos meus, e ela parecia triste de um jeito que nunca a vi, fazendo com que meu coração apertasse.

− Hoje de manhã, antes de você chegar, eu fui comprar algumas rosquinhas açucaradas para o Jimmy, na Sweet Point e quando cheguei, encontrei o Simon e essa garota conversando e trocando sorrisos na porta da sala dele. – Ela revirou os olhos, indiferente, mas eu sabia que ela estava ponto de chorar. – Ele estava todo bobo, arrumando os óculos nervosamente e com as bochechas coradas, enquanto ela ria com o braço enlaçado no dele.

Don't Let Me GoOnde histórias criam vida. Descubra agora