Capítulo Seis

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Vou contar qual o meu problema com essas duas, além de serem insuportáveis e entojadas. Ano passado, houve um concurso meramente atrativo, de modelos. Oferecido por uma agência de modelos de Los Angeles. Era para ser divertido e feito com seriedade. A ganhadora teria a oportunidade de fazer um book nessa agência. Eu, a princípio, não queria, mas minha mãe insistiu tanto, e a moça que foi lá para convencer as garotas me fez refletir sobre o meu futuro, e com essa minha indecisão do que fazer da vida, resolvi participar para saber se eu levava jeito para a coisa. Pode ter certeza. Não levo jeito para isso.

Estava muito bonita com toda a produção e animada também, pois nunca havia feito algo parecido. Mas Melissa tinha que estragar tudo. Queria muito ganhar, como todas as outras e eu também. Ela sabia que eu não tinha jeito com salto alto - e até hoje não tenho - e quebrou o meu sapato. Mal abriram a cortina para eu passar e caí, rasguei meu vestido e torci o pé. Nunca chorei tanto na vida. Nem com o Titanic ou A Culpa É Das Estrelas. Quando descobri que foi ela, fiquei uma semana tentando matá-la com a força do pensamento toda vez que a via. Acabou que uma garota do terceiro ano ganhou, éramos segundo ano na época, e ela ficou se contorcendo de raiva.

Ela estragou o experimento de Química de Jen sobre Gases, pois sabia que o dela era o melhor da turma. E depois que Amanda chegou, são unha e carne. Fizeram Jamie, uma colega da nossa classe, ter crise de asma usando perfume e hidratante dentro da sala. Entre outras coisas que só tornam a vida das pessoas um saco.

— Ei, Amanda e Melissa, a escola do Harry Potter não é aqui, suas bruxas! — grita Jen. Jennette sendo Jennette.

— Não querida, somos caçadoras de demônios. Viemos buscar você. — fala Melissa. Se todo mundo riu com Jen, riu mais ainda com Melissa.

— Nossa. — Chad fala.

— O quê?

— Sua cara de matadora. — ele fala, e fico rindo. — Você não gosta delas?

— Está tão na cara assim?

— Está. — ele fala pegando na minha mão e me levando para a cozinha.

— O que você está pensando em fazer? — pergunto.

— Uma bebida.

— Quer me deixar bêbada? Olha eu não be...

— É um coquetel sem álcool, Heather. Adoro esse seu jeito de se explicar e se desculpar o tempo todo. E de falar sem esperar uma explicação.

— Ah é? Eu faço isso?

— Sim. — ele pega tudo o que precisa e começa a fazer.

— Vou lá na Jen falar com ela, e já volto, tá?

— Tudo bem.

Eu subo para a cobertura e não acredito no que vejo: Jen está na máquina de dança. Com Vick. Dançando. Claro, o que mais dá para fazer num Dance? Me aproximo delas e vejo que Jen acerta todas as coordenadas que aparecem na tela. Até em alienígenas eu acreditaria se visse algum. Mas nisso, não consigo.

— Jen, preciso falar com você. — o som da máquina mais o do Home Theater impede que ela me ouça. — Jen, preciso falar com você, desce daí. — repito mais alto.

— Agora não dá, Heather, não vê que estou ocupada? — ela nem olha para mim.

— Mas é só uma dança, idiota.

— Depois a gente se fala, pode ser? — simplesmente me ignora.

Decido deixar ela e voltar para o apartamento, mas Amanda está na porta, impedindo minha passagem, no momento em que eu não ligo!

— Sua amiga te trocou pela novata, foi?

— Amanda, não enche o saco. — tento passar por ela, mas Melissa chega.

— Está com ciúmes, não é?

— A única coisa que eu sei, é que não é da sua conta!

— Poxa Heather, se abre com a gente.

Coloco os dois dedos das mãos nas laterais da cabeça enquanto olho sem piscar para as duas. Como Jean Grey dos X-men. Quero matá-las com a força do meu pensamento.

— O que ela está fazendo? — pergunta Melissa para Amanda.

— Eu sei lá, acho que está bêbada. Pare, Heather, estou com medo.

Juro que estou tentando fazer elas evaporarem da minha frente.

— Heather, é sério!

— Saiam. Da. Minha. Frente. — digo e elas vão embora morrendo de medo. Duas idiotas. Acho que idiota sou eu por querer ser a Jean Grey. Mas tudo bem. Volto para a cozinha sorrindo e conto a história para o Chad.

— Sério? Elas devem estar te achando uma louca!

— Com certeza. É bom que assim elas passem um bom tempo longe de mim. Com medo dos meus "poderes". — ele sorri quando falo isso.

— Toma. — diz me dando um copo colorido. — Experimenta.

Ponho a boca no canudo e sugo a bebida. É refrescante e saborosa.

— Nossa, muito bom. Parabéns.

— Obrigado. Foi a única coisa que aprendi fora computadores e... — ele rapidamente para e toma o seu coquetel.

— E o que, Chad? Fala.

— Não, nada de mais. — ele fica nervoso. — Nada de mais. — repete.

— Por que sempre faz isso? Quando está prestes a contar algo, para e diz que não é nada.

— É porque não me sinto à vontade para falar ainda.

— Tudo bem.

Todo mundo estava entrando no apartamento para comer e sentar um pouco. Todo o barulho e tumulto vieram para cá. Inclusive Jen e Vick. Ela não se produziu para o Logan, pois não os vi juntos em nenhum momento. Logan estava desde o início com Theo. Ela se arrumou tanto para agradar a Vick e se tornar amiga dela. Essa festa só piora.

— Vem — diz Chad. — Quero te mostrar uma coisa.

Subimos e fomos para uma extremidade da cobertura, onde se pode ver vários prédios iluminados na escuridão da noite. E uma lua linda.

— Não, Chad, tenho medo de altura, não faça isso.

— Eu não vou te jogar do prédio, Heather. Não precisamos chegar tão perto.

Caminho o máximo que consigo, de modo que eu não veja o chão. Minhas pernas tremem um pouco e meu coração acelera, mas tento me controlar para que ele não perceba.

— Isso me fascina. Nunca vi tantos prédios assim.

— Realmente é lindo. Mas, como assim, Chad? O que mais tem no mundo é prédio.

— Mas eu nunca vivi nessa parte.

— Que parte? Estou começando a cogitar novamente que você foi preso.

Ele sorri.

— Olhe, a lua está incrível. — digo, e ele assente.

— Não posso acreditar que seja você. Você é exatamente o que pensei que seria. — ele se aproxima, tira o copo da minha mão e coloca numa mesa próxima. Nem consigo raciocinar direito no que ele disse, com aqueles olhos azuis vidrados em mim. — Seus olhos ficam lindos à noite. — Os meus? Quem diria os dele! Os meus são um verde apagado sem graça. Mas os dele, são vivos e saltam para fora.

Ele me puxa pela cintura e me beija. Fico sem reação no começo, mas depois correspondo colocando minhas mãos nos seus ombros. Mas que audácia! Ele me puxa mais colando o meu corpo ao dele. Toca minhas costas, na parte que está à mostra me fazendo arrepiar. Seu beijo é lento e desesperador. Ficaria a noite toda ali, mas a porta se abre.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora