A Herdeira

Capítulo Quatro

― Mãe, a senhora conhece eles?

― Não, filha. Como se chamam?

― Chad e Victoria Hausmann. ― Anoiteceu e não consigo tirar da cabeça o que aconteceu hoje.

― Não os conheço. Não se preocupe, filha, eles devem ter se enganado.

― Vou tentar. ― Subo para o meu quarto e olho o celular. Fico mexendo nas redes sociais enquanto assisto a um filme. Quando estou quase pegando no sono, meu celular apita.

Mensagem de Jen

Jen: Você está bem? 21:37

Heather: Estou. Só não entendi o que aconteceu hoje. 21:38

Jen: Fica tranquila, amiga, não deve ser nada de mais. 21:40

Heather: É o que estou pensando também. 21:43

Jen: Boa noite :) 21:46

Heather: Boa noite. 21:51

Tento afastar qualquer ideia que surge na minha cabeça. Nada que diz respeito ao meu pai me interessa mais. Quero cortar qualquer ligação que eu tenha com ele. Independente do que aconteça, não vou me aliar a nada que prospere dele. Ele foi embora quando eu ainda tinha seis anos. Lexie nem se lembra dele direito, senão fosse pelas fotos que, depois de um tempo, minha mãe queimou. Ele é a pessoa mais egoísta que já conheci. Na verdade, o defeito não está em ser egoísta, porque existe egoísmo dentro de todos nós. O defeito está em arriscar e abandonar as pessoas que amamos por egoísmo. E para mim, foi isso o que ele fez. E eu o odeio por isso. Pego no sono com esse pensamento na cabeça.

São 07:15 da manhã. Estamos no pátio, quando Chad e Victoria chegam.

― Oi, gente. ― Ela nos cumprimenta.

― Heather, sei que ficou preocupada e até chateada pelo que aconteceu ontem. Nós nos enganamos e deixamos você nervosa. ― Fala Chad. ― Nos desculpe.

― Chad, o que você...

― Vick, é o certo.

― Tudo bem. Não se preocupe. ― Falo.

Vick olha para Chad totalmente irritada, mas tenta parecer o mais translúcida possível. Theo estava demorando para falar.

― Cadê a sua muleta, Chad?

Estava tão distraída que nem percebi que ele havia chegado sem muleta e sem mancar. Simplesmente estranho.

― Então, fui ontem ao médico e ele disse que já estava melhor e não precisava mais da muleta.

― Mas, o Dr. Flint disse que você iria usar por um bom tempo. ― Insiste Theo.

― Você disse certo, iria. Como pode ver, estou pronto para outra.

Theo assente e dá um sorriso falso. Ele com certeza não engoliu aquilo. Eu, de certa forma, não acreditei, mas vendo que ele está em perfeito estado, deixei para lá. O sinal toca e vamos para a sala.

― Oi, Heather, Jennette e Theo. ― Nos aborda Eric. ― Vou dar uma festa na minha casa no sábado. Estão convidados... Começa às 20:00.

― Outra festa, Eric? Vamos, sim. ― Eric era o rei das festas, sempre que podia, fazia uma festa.

― É claro, gatinha. ― Ele responde Jen. ― E vocês novatos, estão mais que convidados para ir também.

Ele não espera uma resposta e vai ao encontro de outros grupos da sala para convidá-los também.

― Por que vocês não esperam a gente aqui na escola no sábado para irmos juntos? ― Jen dá a ideia.

― Combinado. ― Vick responde.

Estou sozinha em casa - para variar - quando meu celular toca.

Mensagem de Chad

Chad: Quer andar um pouco?

Heather: Sim. Onde você está?

Chad: Perto da escola, daqui a pouco chego aí.

Tomo um banho, coloco um short e uma blusa preta de manga que cai de um lado, deixando um ombro à mostra e prendo o cabelo num rabo de cavalo. Passo um pouco de base, aplico um hidrante labial com cor suave nos lábios e nas maças do rosto, para dar um pouco de cor à minha cara. Cinco minutos depois, a campainha toca.

― Nossa, você está linda!

― O quê? Não, estou normal como sempre.

― É verdade, me desculpa. Você está sempre linda.

Sinto meu rosto esquentar e coro. Por que ele fica fazendo isso? Fica sorrindo e me seduzindo com esse olhar. Ignora, Heather, ignora.

― Vamos? ― Ele fala, me tirando dos meus pensamentos.

― Vamos.

Perto de casa, há muitas árvores e é um local muito calmo, o que fez minha mãe se apaixonar por Indianápolis. Ela odeia a vida conturbada de Nova Iorque e outras cidades onde o movimento e o barulho são rotina para quem mora lá. Minha mãe, Kate Stinfer, é bióloga, o que pode explicar melhor seu gosto pela natureza. Vantagens de ser filha de uma bióloga: ter tudo pronto para qualquer ocorrência inesperada. Desvantagens: quando você tira nota baixa em biologia, e ela decide dar aulas e te ajudar. Isso é um saco! Mas fora isso, Kate é uma ótima mãe. Sou muito grata a ela por tudo. E nunca dei muito trabalho, o que ajuda. Mas tenho medo de ela não ter do que se orgulhar de mim. Ela tem uma carreira e faz aquilo que ama. E quero isso para mim também. Mas não sei o que amo fazer. Não descobri esse amor ainda. Mas às vezes é necessário se descobrir e tentar, mesmo que você erre. E eu não tenho que ter medo de errar.

― No que você está pensando?

― Nada demais. Só gosto muito daqui. Acho que não sairia daqui por nada.

― Não acho isso uma boa ideia.

― Por quê?

― Você não tem vontade de conhecer outros lugares, viajar, conhecer outras pessoas?

― Sim. Mas, se eu um dia viajar mundo à fora, ainda quero voltar para cá.

― Sei.

― E você? Desde que chegou aqui está cheio de mistério. Me fala de você.

― Não tenho muito o que falar. Vivi sempre muito preso, perdi meus pais há 7 anos atrás. Digamos que estou começando a viver agora. ― ele me fita com os seus grandes olhos verdes, me constrangendo mais uma vez.

― Chad, eu sinto muito. ― digo me sentindo péssima por fazer um caso tão grande em relação ao meu pai, enquanto ele perdeu os dois. Me sinto egoísta e ingrata. Mas pelo menos, seus pais o amavam, como todos os pais. Já o meu, nem liga para mim e Lexie. Ainda assim sou exagerada e ingrata. Como posso pensar assim?

―Tudo bem.

Andamos pelas ruas em silêncio, comentando uma ou outra coisa. Ele me traz um sentimento bom. Mesmo não tendo engolido ele e Vick terem mencionado meu pai. Mas, que se dane meu pai. Sinto confiança. Mesmo só o conhecendo há alguns dias. Sinto que posso confiar nele.