Capítulo Trinta e Sete

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Na volta para casa, sento ao lado do meu pai no veículo. Dou-lhe um abraço, agarrando seu tronco enquanto ele me beija na cabeça. O primeiro abraço sincero que dou nele, no meu pai - a pessoa que aprendi a amar e de quem sinto tanto orgulho.

— Senti tanto a sua falta — falo cada palavra com uma força exultante.

— Quase morri só de pensar que poderia perdê-la.

Agora, somos só nós dois aqui dentro, como se os outros fossem apenas uma miragem.

— Lexie vai ficar tão feliz quando vê-lo. Prometi a ela que te levaria de volta.

— Que bom que você cumpriu, não é mesmo? — ele diz, sorrindo. Depois, fica sério novamente. — Como foi quando eu estava fora?

— Foi bem difícil — mordo o lábio. — Te ver partir foi como perder o chão, e perder a mamãe foi como perder a direção. Foi como cair num buraco sem fim.

Ele finalmente deixa as lágrimas caírem. Como disse, agora somos só nós dois aqui.

— Lexie ficou arrasada, mas buscou conforto ajudando a cuidar dos feridos. Ela é muito forte. O enterro foi o pior dia. Foi quando a vi ali — minha voz começa a se misturar com o choro e começo a fungar. — Foi quando a ficha caiu. Desculpa, pai.

— Quando eu a abracei, pouco antes do soldado atirar, senti um aperto no peito, horrível. A última vez que senti aquilo foi quando tive que deixar vocês na cidade. E um segundo depois, ela amoleceu nos meus braços. Eu a amava, querida, e me sinto tão culpado por tudo. Nos primeiros dias do cárcere, não quis comer nem beber, só conseguia chorar. Não há nada pior do que se sentir sozinho.

— Você não estava sozinho. Todo o Departamento se mobilizou por você.

— Eu sei — ele finge um sorriso. Sei que ele só queria uma pessoa. E essa pessoa era Katherine Stinfer.

O abraço novamente. Pareço uma criança chorona nos braços do pai depois de cair da bicicleta e ralar o joelho. Será sempre assim quando falarmos dela?

Tentando diminuir as emoções, mudo o assunto.

— Bom, em relação ao plano, foi bastante puxado. Cheguei a passar horas no escritório lendo e pensando no que fazer. Organizei reuniões e autorizei a formatura dos alunos. Também fiz cortes para economizar no orçamento do ano e fiz Jason ser o primeiro a usar aquela sua cadeira.

— Sério? — ele me encara.

— Sim. Funcionou super bem. Fiz ele confessar algumas coisas. E ele levou alguns choques também.

Meu pai sorriu. Apesar de não fazer muito tempo que não o vejo, ele parece mais velho. A barba grande, o cabelo despenteado, fisicamente mais magro, e sem seu famoso traje branco, consigo ver as marcas da idade mais nítidas em seu rosto.

Um minuto depois, Vick chega com uma caixa de curativos e começa a soltar o lenço no meu braço. Sorrio para ela, que por sua vez, me devolve. Pego o lenço e encosto a cabeça no braço do meu pai enquanto o remédio arde em minha pele, o rosto suado e cansado de Vick é a última coisa que vejo antes de adormecer.

Ao saltar do carro, sou abordada por um forte abraço de Jen.

— Sabia que ia dar tudo certo! — ela diz.

— Calma, Jen, ainda não acabou.

— O que acha que pode dar errado agora?

— Não sei, mas prefiro não comemorar agora.

As pessoas recebem meu pai com aplausos, que, para minha surpresa, sorri e vibra com todos. Alguns apertam sua mão e outros abraçam, dizendo coisas como: "Estou feliz que esteja de volta, sr. Parks".

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora