Capítulo Vinte e Sete

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Outro barulho semelhante vem em seguida, e eu estou imóvel, sem reação. E me dou conta do que está acontecendo. Penso em Lexie e minha mãe. Preciso encontrá-las. Saio correndo sem pensar muito, e talvez seja até melhor. Um alarme é disparado e luzes vermelhas estampam os corredores brancos do andar. Ouço gritos abafados, e muitos começam a correr assim como eu.

— Heather! — alguém me chama, mas está longe. — Aqui! — vejo Miles acenar para mim na entrada do salão.

— Oi! Sabe o que está acontecendo?

— Tem três caminhonetes cheias de soldados armados lá no térreo.

A ficha parece não cair.

— O presidente está lá?

— O quê? Não, Heather, ele não iria se expor assim. Tem gente morrendo lá em cima e você tá pensando no presidente? — meus olhos estão vidrados na parede atrás de Miles, pensando a cada segundo em uma coisa diferente. — Heather! Seu pai... Está no escritório dele com Lexie. Pediu para que você fosse lá.

— Ok. — olho para ele. — Ok. — repito, saio em direção ao elevador, que parece não querer sair do lugar. No andar de cima a cena é ainda pior. As pessoas estão gritando, outras chorando procurando por seus filhos. Não é o fim. Ainda não.

Chego ao escritório, e meu desespero só aumenta.

— Lexie! — ela está sentada numa poltrona segurando as pernas com os braços, e desfaz para poder me abraçar. — Cadê a mamãe?

— Vou procurá-la. — Jeremy diz antes dela. — Preciso que fique aqui esperando por nós.

— Não vou mesmo. — ele se assusta com a minha relutância. — Chad, Victoria, Megan e... Todo mundo estão precisando de ajuda.

— O que você vai fazer filha? — realmente, o que eu posso fazer? Sou tão inútil quanto. — Preciso que fique aqui, depois que encontrar sua mãe, nós damos um jeito. — ele abre a porta para sair.

— Mas pai! — ele para e me encara. As palavras saíram tão involuntárias quanto as batidas rápidas do meu coração. Falei verdadeiramente. Pela primeira vez. Ele é o meu pai.

— Não vou deixar que se machuque. Não posso permitir isso. — ele faz cara de choro.

— Não vou me...

— Fique aqui, ok?

Não, pai! Não está nada ok. Tento me controlar.

— Ok.

Mas não consigo.

Ele sai em disparada. E assim que desaparece, arranco a grade do duto de ar e fujo.

Lexie é inteligente. Não vai fazer nenhuma besteira. Se ficar lá, estará a salvo. Corro o mais rápido que posso, e as corridas e o treinamento para soldado começam a surtir algum efeito. Pois não sinto nada. Não sinto dor, nem minhas pernas, nem meus músculos, apenas meu coração querendo sair pela boca. Só mais um andar. Só mais um e eu chego no térreo, que provavelmente está todo destruído. Mas me lembro de um detalhe: preciso de uma arma. E para isso preciso ir na sala de treinamento. Que fica no térreo. Steve deve estar lá com sua equipe. Preciso chegar lá sem ser notada.

"Repito: saiam por bem ou iremos atirar. Evacuem e estarão em segurança." Algum idiota do governo fala no alto-falante. Alguns dos nossos soldados fazem uma barreira impedindo a entrada dos fardados com uma bandeira dos Estados Unidos no peito. Santo Deus!

Por sorte, consigo passar despercebida pelo salão principal e entrar na sala de treinamento. Pego uma jaqueta e uma arma carregada, saio para procurar um local de retaguarda para dar cobertura a Steve e os outros. Subo a escada que dá para a sacada de vidro, que agora está no chão. Não sei pra quê tanto vidro no lugar da parede. Corro silenciosamente, se é que é possível com tanto vidro quebrado. Um tiro é disparado e quando olho na direção do som vejo Theo correndo sem rumo. Algo rasga minha pele e minha calça na altura da coxa, e eu solto um grunhido de dor. Ponho a mão na boca e me sento na escada, acreditando não ter sido vista por ninguém.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora