Capítulo Quinze

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Com todo aquele papo de "ainda não é a hora, e tenho medo de que se decepcione comigo." É sobre isso que ele se referia. E realmente, mesmo tendo dito que não, me decepcionei. Sabia de tudo, que era meu primo e mesmo assim me beijou. Arrependo-me por tudo o que aconteceu. Estive cega e do lado errado. Não ouvi Theo que mesmo com um pouco de ciúmes, estava certo desde o começo. Fui burra, mas acho que ainda não é tarde demais.

Jeremy disse que eu tinha que assumir seu lugar no departamento. Mas pelo que eu saiba, só deveria assumir se ele não tivesse mais condições ou morresse. É assim que funciona esse lance de herança. E pelo que vi, ele está ótimo, até demais. E não engoli aquele papo de que Victoria não poderia comandar por não ser filha dele. Por mais que não goste dela, é mais velha e vive lá desde que nasceu. Teria mais facilidade do que eu para coisa. 

E após ver aquelas imagens no site que Lexie me mostrou, parece que nada se encaixa. Há algo mal contado, ou faltando nessa história, um lugar onde tem mais seguranças e guardas do que na Casa Branca não deixariam fotos vazarem na internet, ainda mais por ser secreto. Tenho que saber a verdade, se aquele lugar me pertence, tenho o direito, e vou descobrir. Ele não me procurou por que me ama, ou por que quer que assuma a liderança. Ele quer outra coisa. Preciso ir lá. A decisão já está tomada. Preciso fazer isso por mim.



Acordo determinada a passar o resto do dia sem que nada me atrapalhe. Estou chateada com minha mãe e isso está nítido. Ela sempre soube minha opinião, o fato de odiar meu pai e mesmo assim conseguia ver isso e ficar calada. Mas ela é minha mãe, e tenho que falar com ela.Lexie e eu saímos para a escola. Ela, felizmente, não tocou no assunto do site, o que me deixou aliviada. Não sei mentir e nem gosto. Encontramos Theo e Jen, que caminham sem perguntar ou tocar no assunto, talvez por perceberem minha expressão. Chegamos na escola e depois que Lexie pegou o corredor da sua sala, Jen começa.

— Isso é demais, Heather. Não sei porque você agiu daquela forma ontem. Eu teria ficado feliz de saber que meu pai está vivo e de que nada do que eu pensava sobre ele era verdade.

— Você tá brincando? — pergunta Theo, tornando meu pensamento numa ação.

— Não. Tô falando muito sério. Deve ser demais ser dona daquele lugar.

— Você realmente acreditou naquele papo? — pergunto.

— Não era para acreditar?

— Não sei Jen. Só sei que não é verdade. Ele não me procurou por que precisa de mim para governar o Departamento. Ele quer algo de mim. Algo que vou descobrir.

— Com certeza não engoli aquela história. — diz Theo, me apoiando.

— Mas é totalmente irônico você odiar as pessoas que são do seu sangue. Você percebeu que odeia todos da sua família? — ela diz, se referindo a Chad e Victoria e até mesmo meu pai. Me surpreendo com a sua invocação.

— Você só pode estar louca em dizer uma coisa dessas! Sabe de tudo o que passei e agora quer que encare isso numa boa? Você ouviu o que acabou de dizer? — estou histérica. — Pensei ser minha amiga. — bom, eu estava para começar um discurso do que estava sentindo, uma briga entre amigas. Mas Chad e Victoria surgem no corredor e eu logo me dirijo a eles. A Chad especificamente. — Não queria me decepcionar? Você só piorou tudo. Podia ter chegado naquele dia em que começou aqui e ter falado tudo. A surpresa seria grande, mas todo esse teatrinho foi patético. Você realmente sabia que eu ia cair na escada? Forçou minha queda para me ajudar como pretexto para me conquistar? Ficou me cantando e me beijou só para eu saber aquilo? Sabia o tempo todo e mesmo assim me enganou. Por isso se recuperou tão rápido. Vai ver nem se machucou de verdade.

— Ei, espera aí. — Victoria me interrompe. — No primeiro dia em que chegamos não sabíamos ainda que era você. Tudo o que aconteceu foi real.

— Real? Porque a impressão que tenho é de que esse último mês foi uma farsa. Não tinham o direito de fazer isso. Muito menos Jeremy. Não deviam fazer o que ele manda. — Saio o mais rápido que consigo para o único lugar na escola onde posso me refugiar. Na arquibancada da quadra de salão.

Theo sabe que costumo vir aqui. E logo aparece com dois churros e se senta ao meu lado.

— Churros? — pergunto.


— Droga! Tinha certeza de que gostava.

— Não é isso. Eu gosto. — digo, pegando um churro da sua mão. — Perguntei por que não tem aqui.

— Agora tem. A cantina está fazendo e acho que vai ter fila até o final do dia.

— Realmente. Porque está ótimo. — falo após morder um pedaço. Ficamos em silêncio por um tempo até que ele o quebra.

— Nunca engoli a história do joelho.

— Sim, eu sempre soube. — digo rindo.

— E por que está rindo?

— Nada. — ponho a mão na boca. — estamos matando a primeira aula! Temos que ir.

— Não estamos. Não temos a primeira aula. O professor faltou.

— Ah, que bom. — Sorrio para ele.

— Tem doce de leite no seu rosto... — ele diz limpando com o guardanapo.

Fico olhando para ele enquanto faz isso. E sinto que tenho que dizer:

— Eu devia ouvir mais você. — ele dá um sorriso torto.

— Eu também acho.



— Sabe, teve uma vez que ele me disse que não tinha vivido nada de mais até agora, que viveu preso desde que nasceu. — digo, me referindo a Chad. Estávamos voltando da escola e só estavam Theo, Lexie e eu. Mas Lexie estava mais a frente com uma amiga que havia convidado para passar o resto do dia em casa.

— Ele estava se referindo ao Departamento. Que nunca sequer havia saído de lá. Por isso não sabiam o que era um quarteirão. — concluo.

— Eu sabia que tinha coisa nisso.

— Suas intuições estavam certas o tempo todo.

— Então... O que vai fazer? — ele franze a testa no momento em que diz isso.

— Não sei... Não sei se pertenço àquele lugar. E eu sei que tem muita coisa nessa história mal contada. Minha mãe sabia de tudo o tempo todo.

— O quê? Mas ela nunca demonstrou raiva por ele!

— Porque realmente nunca sentiu. Ela disse que entende tudo o que ele fez. Eu me senti muito enganada por que sempre achei que minha mãe nunca havia escondido nada.

— Eles manteram o casamento escondido?

— Ah, acho que não. Mas é uma boa pergunta. Uma pergunta que eu ainda não fiz.

— Talvez ela fez isso para proteger vocês duas. — ele fala olhando para Lexie.

— Sei Theo, mas poderia ter nos contado antes. Descobri tudo isso numa sala branca após ter sido sequestrada, não foi nem de longe ruim. Foi apavorante.

— Entendo.

— O que devo fazer?

— Não sei. — ele para e fica de frente para mim. — Só sei que você é herdeira daquele lugar. Não deixe que o fato do seu... Aquele cara ter feito o que fez interferir na sua escolha. Faça por você. Talvez, seja esse o vazio que está em você, de que tanto fala.

Apenas andamos calados do lado um do outro em silêncio. Se for para ser dona do Departamento, que seja por mim, pela minha mãe e pela Lexie. Mas, neste momento, eu apenas sou um turbilhão de incertezas.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora