Capítulo Vinte e Seis

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Aprendi na escola uma vez que atingimos nossos objetivos, planos e evoluímos a partir de nossas necessidades e desejos. Somos feitos de necessidades e desejos. Dependemos disso. E eu não sei explicar se o que eu vou fazer agora é um desejo ou uma necessidade, mas irei fazer, porque mesmo em meio a tanta incerteza e confusão, de uma coisa sei: quando começo algo, vou até o fim. Devo fidelidade a isso. E prezo isso mais do que qualquer coisa.

Chego à porta. E entro sem bater.

— Olá, infratora. Tenho que admitir que você é bem destemida.

— Não diria destemida, Steve, diria desobediente.

— Isso também.

— Preciso da sua ajuda.

— Se estiver ao meu alcance.

— Quero o meu distintivo de soldado. — direta?!

— Heather, eu não posso. — desliga um aparelho em sua mesa.

— É você quem forma os estudantes aqui, eu sei.

— Não é isso. Não posso te dar a licença, simplesmente porque não está pronta.

— Não esquenta, eu faço a pós-graduação depois.

Ele tenta não rir da minha piada.

— Seu pai não permitiria nunca uma infração dessas. Poderia perder meu cargo.

— Não vai. Será nosso segredo.

— Você é bem convincente. É assim que consegue as coisas?

— Você vai ou não me dar o troço?

— Por que precisa dele agora?

— Você sabe que o conflito está prestes a acontecer. Se o governo ver que eu, a filha do líder, não tenho nem se quer um diploma de culinária, vai rir de mim e me matar depois.

— Isso é verdade. — me assusto por falar algo realmente possível de acontecer. E agora estou apavorada.

— Obrigada pela honestidade. — falo com sarcasmo.

— Vou fazer o seu. Talvez seja a última formanda deste Departamento mesmo.

— Credo. Agora você foi cruel.

— Fui realista.

— Foi pessimista.

— Sua mãe sabe disso?

— Não. Mal falo com ela, na verdade.

— Isso não é bom.

— Tô sabendo. — não queria falar sobre isso. — Obrigada, Steve, depois venho pegar com você.

— Combinado.

Após saber tudo o que Jeremy havia me escondido, não paro de pensar um segundo em como tudo isso vai acontecer. Nem consigo sentir medo, porque realmente não sei o que fazer. É como estar num lugar que você sabe que é seu — pelo menos por direito — mas não sabe como reagir, por não conhecer a fundo esse novo mundo. Tenho sede de sabedoria. O que sei nunca parece suficiente. Então penso na única pessoa que não vai me negar isso.

— Entre. — Chad diz após eu bater à sua porta.

E a cena é extraordinária. A sala de engenharia é grande e existem várias coisas das quais eu não faço ideia da sua utilidade. Ele percebe meu entusiasmo e sorri.

— Nossa. É por isso que não saio daqui.

— Mais ou menos — Ele tira os óculos de proteção. — Precisa de alguma coisa?

— Ahn... Se não for pedir muito, você poderia me falar sobre o tal presidente da República?

— É meio complicado. — ele faz cara feia.

— Por quê?

— Porque você vai saber tudo aquilo de que você foi privada a vida toda.

— Pode ter certeza. Eu estou pronta. Desde que vim parar aqui após ser apagada, nada mais me surpreende.

— É bom que sim.

Ele me leva ao laboratório e, mais uma vez, me dá uma aula.

— Richard Wells. Todos o acham maravilhoso. E de certa forma é. Mas só para o país.

— E você acha pouco?

Ele ri. Provavelmente não faço ideia do que estou falando.

— Quando o Departamento foi criado, pelo nosso avô, o presidente na época era Nicholas Hannigan. Ele e nosso avô eram muito amigos, apesar das diferenças: o cientista e o político. Por isso, quando se ouviu a necessidade do Departamento, o presidente Hannigan não pensou em outra pessoa melhor para a ação.

— Nosso avô. — digo, já raciocinando tudo.

— Mas desde a eleição de Richard, 3 anos atrás, o Departamento vem sendo ameaçado.

— E os outros presidentes depois de Nicholas?

— Eles mantiveram a aliança. Mas por algo que seu pai ainda tenta descobrir, Richard quer quebrar essa aliança. — ele morde o lábio e hesita um pouco. — Olha, Heather, eu sei que odeia Jeremy, e não tiro sua razão, mas tudo o que ele fez foi pensando nisso. E se um dia alguém com poder no país quiser acabar com todos nós? Seu avô fez ele prometer que ia lutar até a última gota de sangue por este lugar. E seu pai, ao ter você, pensou em tudo. Se o governo não soubesse da sua existência, iriam pensar que seu pai estava fraco e que não tinha um plano de ataque. Mas aí está você. A herdeira que terá todo o poder para manter o Departamento de pé.

— Eu... — meus olhos inundam. — eu não sei se quero essa responsabilidade. Não sou boa em nada e não sou forte, finjo que sou de pedra, que sou dura com as pessoas, mas... Mas sou só uma garota de 17 anos.

— Vai ver que não é só isso. Você é mais, só não sabe ainda.

— Gostaria muito de acreditar. — engulo as lágrimas e saio da sala.

Ando tão rápido que posso ouvir meus sapatos gritarem implorando por uma pausa. Sinto uma mão agarrar meu braço.

— Preciso dizer uma coisa.

— Jeremy, agora não...

— Eu estou vulnerável. Você não.

— O quê? Por quê?

— Vai entender depois. — ele parece indeciso, dá um passo para trás, mas depois volta. E me abraça. — Eu te amo, filha. — e tão repentinamente como apareceu, ele desaparece e eu fico paralisada, digerindo tudo o que aconteceu nos últimos minutos.

Poderia ser pior. Eu poderia ter descoberto que não sou humana, ou que minha mãe não é minha mãe, ou até mesmo que sou uma sereia. Mas não é nada disso. Sou dona de um lugar bem legal que está prestes a explodir.

Poderia fugir. Poderia recusar toda essa responsabilidade imposta sobre mim, ou ajudar o governo a fechar este lugar, ou organizar um conselho pacífico, mas não. Estou aqui, no meu quarto, planejando uma guerra. Ok, ok. Isso não é nada estranho, nem anarquista. Talvez seja os dois, mas tentar consertar todos os meus pensamentos agora parecem ser cansativo.

Paro imediatamente de pensar quando escuto um barulho que se parece com vidros sendo estilhaçados e um tremor abafado. Oh, não.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora