Capítulo Oito

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Vou para casa pior do que já estava. Como tudo aconteceu tão rápido? As brigas com Theo, Jen, minha aproximação com Chad e meu ciúme pela Vick? Minha mãe está em casa e já percebe meu estado.

— Nossa, cadê a minha filha? — pergunta ela.

— Está aqui, sem reboco na cara, descabelada e exausta, mas ainda é ela. — eu acho. — Vou para o quarto.

Ela assente e nem procura saber por que estou assim. Porque ela sabe que não quero falar. Ela me entende como ninguém. É bom saber que essa pessoa é minha mãe.

Fico deitada ouvindo música. Tipo aquelas pessoas que têm problemas sociais. Estou no meu momento gótica. Não, não sou nem um pouco assim. Estou odiando tudo. Fiquei com um garoto lindo que acabei de conhecer, mas em compensação, briguei com os meus amigos. Decido sair um pouco para não mofar. Coloco um short, uma regata e um casaco com capuz. Ainda não é inverno, mas fins de tarde costumam ser bem gelados. E minha mãe tem medo que eu pegue pneumonia. Vou ao parque no fim da rua onde moro.

Chego lá e fico sentada esperando escurecer. Pensando se devo pedir desculpas a Theo. Quando escuto meu celular tocar. É Chad.

— Oi, Chad.

— Oi. Quer fazer alguma coisa? — Mesmo querendo muito, não estou com cabeça para isso.

— Ah, Chad, pode ficar para outro dia? Não estou muito bem.

— Tudo bem. Eu entendo. Fica bem tá? Até amanhã.

— Obrigada. Tchau.

Não sei quanto tempo mais fiquei ali. Mas foi tempo suficiente para decidir que irei pedir desculpas para Theo. Sei que ele vai amolecer e vai me pedir desculpas e voltará a ser meu amigo. É isso. Amanhã vou falar com ele.

Acordo antes do despertador — O quê? — e não sei por que tomo o café da manhã. Não costumo sentir fome cedo. Mas amo café e não resisti ao cheiro vindo da cozinha. Minha mãe se senta comigo.

— O que houve? Você e os meninos brigaram?

— Mais ou menos.

— Se foi por causa daqueles dois que estavam aqui semana passada, Heather, Jen e Theo são seus amigos há mais tempo. Valem mais do que qualquer outro. — como ela sabe? Dona Kate é boa! — Pense nisso. Faça isso para quem você realmente ama e se importa.

Momento de reflexão...

— Valeu mãe. Precisava mesmo ouvir isso. — beijo seu rosto. — Já vou. Cadê Lexie?

— Ela não vai, não está se sentindo bem.

— Ah. Então tchau.

Chego toda empolgada na escola. Não falo com ele desde a festa. O sinal toca e a aula começa. Mas ele ainda não chegou. Estranho. Jen agora senta no fundo da sala junto de Victoria. Chad me vê na primeira fila e senta ao meu lado.

— Oi. Está melhor?

— Sim, obrigada.

No segundo horário, é aula de matemática. E nada de Theo. A professora explica e Chad sempre termina as frases ou fala exatamente o que ela diz.

— Como você sabe um assunto que ainda nem viu? — olho para o seu caderno e tem várias contas e equações que ele fez sem a professora pedir.

— É que gosto muito de matemática, e alguns assuntos eu já estudei simplesmente por gostar.

O quê?

— Hum. Sei.

— Por quê? Você não gosta?

— De estudar antecipadamente? Sim. De matemática, não. Na verdade, eu odeio com todas as minhas forças.

— Nossa. Isso não é bom.

— Por quê?

— É que... — ele está gaguejando de novo. — Você pode se prejudicar nas provas.

— Ah. Eu dou um jeito.

A aula toca e não vejo Theo. Procuro por Logan na sala e vou até ele.

— Logan, você sabe do Theo? Por que ele faltou à aula?

— Ele me disse que precisava resolver uma coisa. Mas não disse o que era.

— Está bem. Valeu.

Fico tentando pensar em algo que ele tenha ido fazer. Mas nada me vem à cabeça. Olho o celular e ele não está online. Mas também não vou ligar nem mandar mensagem para não parecer desesperada. Amanhã falo com ele.

À tarde saio com Chad para um museu de Indianápolis e ele fica encantado. Parece que nunca viu o mundo e as coisas mais simples que nos rodeiam.

— Chad, quero que fale mais de você. Onde mora, sobre o seu relacionamento com a Victoria. Sei lá, fale qualquer coisa.

— Não tenho muito o que contar. O que quer de mim?

— Quero conhecê-lo. Quero a verdade.

— Ainda não é a hora. Tenho medo que se decepcione ou fique com raiva de mim.

— O quê? Nada a ver, Chad. Nada que venha de você vai me decepcionar ou magoar. — ele sorri incrédulo do que acabei de dizer. E muda de assunto, fazendo várias perguntas e comentando sobre tudo.

Ele me deixa em casa usando o carro de Victoria.

— Boa noite. — e me beija na testa. Não entendo. Na festa me cercou a noite toda para me beijar. E agora me beija na testa? Não que eu não goste, mas ele pareceu arrependido do que fez. Pareceu uma despedida.

— Até amanhã.

Estou na sala. Ouvindo música. Theo aparece e logo fico alegre, esperando por um momento que eu possa falar com ele. No final do dia, ele vai até o armário. E o dele fica ao lado do meu. Vou até ele já pensando no meu discurso.

— Oi, Theo, será que posso falar com você?

— Já está falando. — ele fecha a porta do armário e me encara com aqueles olhos que ainda não sei se são castanhos ou cor de mel, mas que ficam lindos expostos ao sol. — O que foi? Descobriu algo? — ele fala olhando para o corredor da nossa sala, logo atrás de mim.

— Como assim, descobriu algo? O que tenho que descobrir?

— Nada Heather. O que você quer falar?

— Eu só queria dizer que sinto muito por tudo, pelo que eu disse na festa e... — ele me interrompe.

— Heather, eu tenho que ir tá? Depois a gente se fala, tchau. — diz tocando no meu ombro e praticamente voando escada abaixo.

— Tchau. — digo sozinha.

Por que ele foi embora daquele jeito? O que tem de tão importante? Vai ver ele me esqueceu. Tomei a decisão tarde demais. Passo na casa dele à noite, mas ele não estava. E some a semana toda. Me sinto sozinha, na escola, em casa. Me sinto abandonada. Finjo estar bem, pois não sou obrigada a falar dos meus sentimentos para ninguém.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora