Capítulo Dezenove

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— Vamos para onde? — Lexie pergunta.

— É um hospital, você vai ficar lá por...

— Mãe, conta logo. — digo, impaciente com toda essa situação.

— No caminho, eu explico.

Nem acredito no que está acontecendo. Estou indo morar no Departamento. Há poucos dias, nem sequer queria voltar para lá, e agora, aqui estou eu, indo morar com o meu pai. Gostaria de imaginar aonde isso vai dar, mas parece impossível. Minha mãe dá a partida e seguimos rumo à cidade fantasma.

— Então, Lexie. É o seguinte. Sabe o papai?

— Heather! — minha mãe me repreende.

— Ah, mãe, não vou tratá-la como uma criança. — ela volta a olhar para frente. Continuo: — Ele está vivo. E tem um grande lugar onde possuem recursos avançados. Vamos para lá, para você se tratar.

Ela parece confusa, digerindo tudo o que acabou de ouvir. Acho que minha historinha não foi boa.

— Por que só agora ele apareceu?

— Porque ele precisa de nós. Você vai entender. Eu sei que você deve estar com muita raiva dele agora...

— Não sinto raiva dele.

— Hein?

— Ele é meu pai, não é? Deve haver uma explicação para tudo. E eu sei que ele tem.

Fico pasma. Como ela consegue? Não sente ódio. É mais sábia do que eu. E eu nem sei lidar com meus sentimentos. Minha irmã de 15 anos é mais madura que eu. Aceite e orgulhe-se, Heather.

— Sim, ele tem. — afundo no banco do carro, decepcionada comigo mesma.

Algo vibra no meu bolso. Dou um pulo no carro, despertando assustada, enquanto o carro balança.

— Alô?

— Oi, Heat. Vai vir para estudarmos?

— Oi, Theo. Então, não vai dar. Estou indo para a cidade fantasma.

— O quê? Você tá bem? Sua voz está estranha.

— É assim que fica quando eu acordo. — digo, sorrindo.

— Eu te acordei? Desculpa.

— Tudo bem. Estou indo para o Departamento, Theo. Estou indo morar lá.

— Já?

— Decisão de Dona Kate. Vou fazer as provas amanhã com o meu conhecimento prévio mesmo, que sabemos que não é muito.

Ele ri do outro lado.

— Sem problemas. Fica bem, até amanhã.

— Até, Theodore. Pare de estudar tanto.

Um guarda nos trouxe para uma sala para esperarmos Jeremy. E ele aparece imediatamente, mas dessa vez, sem o terno branco, apenas uma camisa abotoada e uma calça branca, claro. A expressão dos dois é algo que nunca vi e nunca pensei que veria. É mais forte do que nos filmes. Os olhos dele se enchem de lágrimas e abrem um sorriso que ainda não conhecia. Já minha mãe, fica paralisada, com o olhar fixo se perguntando se é real. Lexie, perdida, apenas fica parada observando.

— Mike... — ele nem espera ela dizer mais nada e a abraça, e me surpreendendo mais ainda, se é que é possível, a beija.

Meus pais estão se beijando. Ok, o dia não está nem um pouco normal. Limpo a garganta para que eles percebam a nossa presença e parem.

— Lexie! — Ele diz indo ao seu encontro.

— Está cada vez mais parecida com você. — minha mãe diz emocionada. E eu estou enjoada, por ter que presenciar esta cena.

— Eu vou cuidar de você, prometo.

Ela se afasta do abraço e o encara.

— Por que ficou longe por tanto tempo?

— Não podia ficar com você, minha querida. Por mais que eu quisesse. Mas prometo lhe explicar tudo outra hora.

Ela assente com a cabeça, parecendo... Satisfeita com aquilo. Argh, vai entender.

— Vai com calma, já são duas promessas, hein. — digo, me achando no direito de ser desaforada.

— Já essa aqui, puxou ao avô.

Franzo a testa com o comentário dele. Mas ele ignora.

— Preciso conversar com a mãe de vocês, então vou levá-las aos aposentos.

Ele pega um aparelho minúsculo do bolso.

— Megan, venha até a sala de recepção. — ele pausa para ouvir. — Preciso que seja rápida, daqui a pouco dará a hora do toque de recolher.

Olho no relógio. São nove da noite. Megan, a garota que me deu água na primeira vez que vim, chega e nos leva da sala.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora