Não foi preciso muito, apenas duas colheres daquela espessa bebida esverdeada, o sabor não era dos melhores, mas aguentaria o amargor na boca pois já estava acostumada com o amargo. Seu gosto estava sempre lá, em qualquer lugar, em todos.
O amargo que toma minha boca não era mais do que todo o tempo que vivi, transformado numa solução. A bile já não vinha à minha garganta, mas sim um suspirar contido e meus olhos apertando-se sem meu consentimento. Queria poder ver o que viria a seguir; o quão amargo poderia ser, sei que mais do que as frutas mais amargas que existem. A natureza as fez assim, amargas por mais maduras que estivessem (não estavam prontas). E eu me fiz assim, amarga por mais pronta que estivesse. Fui doce... O melhor mel, que foi se dissipando, o tempo levou o doce olhar.
Me tornei agridoce, algumas vezes era apenas acre, noutras doce e raramente agridoce... Entretanto, era bom, até viciante o sabor, perguntava-me como podia ser doce e acre. Dentro da boca o doce, o amargo e o ácido divertiam-se com a minha confusão Aquela seria a solução para o amargo, logo viria a calmaria... Uma grande onda que te leva para um lugar escuro, no fundo do oceano onde não há lugar exato; é só mar. "É só o mar" repeti de olhos abertos olhando o nada e sentindo o quão amargo era. Até que veio a lentidão, a doce inconsciência, a doce paz.

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Bluebird
PoesíaProsa e verso. Um compilado de contos, crônicas, poemas e cartas sem um destinatário especifico, e com um remetente qualquer. Alguns dos textos também estão no meu blog.