Em ordem

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Pela quinta vez Alice lavou as mãos apenas por senti-las sujas, sua pele tinha textura macia; seus trinta anos não eram denunciados pela aparência. O tempo parecia não passar para ela, seu rosto ainda era o mesmo de quando tinha dezessete anos, os cabelos ainda eram perfeitamente loiros, o sorriso permanecia claro e o corpo ainda era magro e delicado.

Alice olhou o relógio pendurado na parede, olhando daquele ângulo ele não parecia estar no lugar certo e isso era inadmissível. Rapidamente ela pegou seu paninho com álcool e subiu numa cadeira para pegar o relógio, limpando-o e por fim passando o paninho na parede que era azul; um azul claro e impecável.

Já sem sentir-se mal, ela colocou a cadeira de volta no lugar, sentiu como se sua missão estivesse cumprida e foi sentar-se em seu sofá para ver alguma noticia no jornal.

Depois de algum tempo ela já estava distraída vendo as noticias em quanto mordiscava seu indicador e mexia o pé esquerdo sem parar.

Ian, seu marido sempre brincava dizendo que ela era hiperativa, as manias da esposa sempre foram motivo de piadas; ele não se incomodou nem quando ela disse que sua camisa completamente branca não era tão branca assim, ela insistiu que não era tão branca quanto deveria ser.

"Você é um medico e deve usar branco, mas essa camisa não está branca... Espere um pouco pegarei outra", ela disse em quanto corria até o armário, que contia roupas organizadas por cor.

"Alice, eu estou atrasado..." Ian falou sem animo, mas com um pequeno sorriso.

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Ela já havia até despedido empregadas, por dizer que elas não faziam o trabalho corretamente, e sempre acabava limpando tudo novamente quando chegava em casa.

Alice olhou para o relógio que já estava limpa e lembrou-se da torta que havia deixado no forno. Correu até a cozinha pensando que já estava tarde de mais e que a torta estaria arruinada; o que não aconteceu... A torta estava pronta, se passasse mais um minuto teria queimado.

Com um sorriso no rosto ela desenformou a torta com calma e correu para lavar a forma, durante a lavagem da forma observou o triturador da pia, ele pareceu um pouco entupido e isso a incomodou muito.

Alice foi até a área de serviço e procurou qualquer coisa que coubesse naquela abertura, acabou encontrando um fio e voltou para a cozinha. Ela tentou tirar o que estava atrapalhando o triturador, mas não deu certo.

Com uma agonia que não conseguia se livrar, Alice decidiu tentar tirar aquela maldita sujeira com sua mão.

"É só ter cuidado", ela pensou em quanto dobrava a manga de seu casaco e tentava encontrar a forma mais cuidadosa para por a mão dentro do buraco do triturador.

Seu indicador coube perfeitamente na abertura que estava com algo que impedia o perfeito funcionamento do triturador. Ela concentrou-se procurando a melhor forma de limpar aquilo, quando encontrou uma posição não muito desconfortável e sentiu que o que impedia o funcionamento do triturador era algo parecido com um osso e que já estava na ponta de seu dedo.

Alice esboçou um sorriso imaginando que estava perto de conseguir livrar-se daquele empecilho. Ela usou sua unha como um gancho para puxar o osso, impulsionou uma vez sem conseguir desprende-lo, na segunda vez ouviu um estalo e ela deduziu que o osso estava se quebrando. Na terceira ele se desprendeu.

Ela assustou-se com o barulho que saiu do triturador e sentiu o ardor do corte em seu dedo, não era muito profundo, mas era o bastante para fazer seu sangue pingar no chão.

Rapidamente Alice abriu a torneira e colocou sua mão na agua, logo depois pegou um pano e enrolou e em seguida pegou um pano para limpar as gotas de sangue de seu chão que era perfeitamente branco e não poderia ficar manchado de vermelho.

A cada vez que foi passando o pano no chão, ele lhe parecia ainda mais sujo, o sangue parecia estar escorrendo mais e mais. Cada vez mais vermelho.

Tentou esfregar o chão mais rápido e cm mais força, seu coração acelerou e o suor começou a escorrer por seu pescoço.

Em seu rosto uma expressão aflita e a determinação em seu olhar...

No chão via intermináveis rastros em vermelho, ele escorria entre seus brancos azulejos.

Em desespero, Alice pegou um balde de baixo da pia e torceu o pano. As grossas gotas pingaram fazendo o fundo desaparecer.

Suas mãos tremiam, mas não se permitiu parar de limpar, não em quanto as manchas vermelhas continuassem ali.

Ela ouviu uma voz distante chamando, mas não desviou sua atenção; sentiu braços agarrando-a pelas costas e tentou se desvencilhar para continuar secando o sangue e torcendo o pano, mas os braços a seguraram com mais força.

Alice piscou algumas vezes percebendo que a voz que a chamava era a de Ian, seus músculos relaxaram um pouco e pode sentir dor.

Não viu sangue espalhado pelo chão, viu apenas um corte um pouco profundo em seu dedo e alguns arranhões por suas mãos e seus joelhos .

Ouvia a voz preocupada ao longe, mas não quis olhar o rosto de que falava, queria apenas tirar aquele pano do chão e guarda-lo no lugar certo.

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