Te vi num quadro ontem a tarde. Estava calor, o sol ofuscou tua imagem, mas sei que era você... Sei que era.
Pela pressa não te levei, me culpo por isso.
Parecia tão feliz e tão distante, talvez aquele sorriso fosse um engano, um efeito.
Me olhava meio de canto, um encanto me tomou. Estático permaneci, enquanto todos passavam você sorria de olhos brilhantes .
Nossa sombra e luz, nosso artifício tão válido, Por tanto tempo tivemos apenas técnicas para parecer mais belo... Talvez impressionista, surrealista, cubista em suas formas tão certas. Mas talvez... Só talvez você esteja pronta, mas não para mim, nunca foi. Não ficaria bem na sala ou no quarto, precisaria trocar o carpete e provavelmente o papel de parede. Sei como detesta o carpete, mas ele permanece lá, já é de casa.Você nunca se adaptou, sequer tentou, e o clima por aqui nunca te fez bem. Reclamava do teu incenso que não queimava e do meu cigarro que parecia tomar todo o lugar, das sementes que não germinavam no jardim e de mim... Que nunca fui muito persistente.
E a falta de persistência era o maior dos problemas, era o que te frustrava. Não eram os cômodos que geravam incômodos, mas minha comodidade. Sofro de um grave quadro de comodidade crônica.
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Bluebird
PoesiaProsa e verso. Um compilado de contos, crônicas, poemas e cartas sem um destinatário especifico, e com um remetente qualquer. Alguns dos textos também estão no meu blog.