Felino
O felino esticado em minha cama encara-me. Talvez esteja esperando algo mais.
Daqui posso apenas observa-lo de volta ou dizer algo, posso repreende-lo por um motivo qualquer; por algo que seja culpado ou não. Ele vai continuar me olhando com esses olhos entediados quase sonolentos, esbanjando toda a sua preguiça e ainda assim com sentidos tão atentos.
Mantendo seus olhos atentos a cada movimento meu, aconchega-se languidamente aos lençóis como se lhe pertencesse. E quem sabe lhe pertencesse...
Lhe caia tão bem aquele lugar e parecia tão confortável, nunca me senti tão fora de meu lugar. Não desviei meus olhos daquelas frestas e também não me pronunciei, o silencio nunca foi um problema entre nós, Mas senti que devia falar algo, ao mesmo tempo em que queria ver até quando ficaríamos daquele jeito.
Podia-se ouvir apenas o som do ronronar e de minha respiração.
Ele levantou-se parecendo cansado de me olhar, esticando as pernas pude ver o quanto ele era grande, era de fato um grande felino, não se parecia em nada com o felino da vizinha, que tinha como diversão derrubar os vasos da minha janela. Não... O meu felino, meu grande felino gostava de observar os pingos de chuva que escorriam pela janela, ele sorria quando eu chegava do trabalho , vinha ao meu encontro e se alinhava a mim. Meu felino não é frio, distante e calculista; ele é apenas imperturbável. Ou pelo menos eu pensava que era imperturbável, até o dia em que estive em perigo.
Não foi um perigo que colocasse minha vida em risco, mas era um perigo. Estava na área de serviço e fui atacada por um inseto, um enorme inseto, um verdadeiro monstro natural que encarou-me, tenho certeza que estava planejando voar em minha direção, atacar-me. Pensei rapidamente, não havia nada para eu me proteger, então fiz o que a humanidade vem fazendo desde os primórdios para sobreviver, os que conseguiram sobreviver tiveram que tomar a mesma decisão que eu: tentar lutar ou fugir?
Talvez seja isso que diferencie os que sobrevivem dos que morrem, os corajosos dos covardes. Mas o que é melhor, ser um covarde vivo ou um corajoso morto?
Bem já devem saber a minha decisão. Como a mulher corajosa que sou, corri gritando até chegar a um lugar seguro dentro de casa.
Meu felino veio correndo com uma expressão atenta, tentei pega-lo para que não fosse até a área de serviço, onde estava aquele horrendo ser. Mas ele escapou de meus braços cuidadosamente e se livrou do que eu temia.
Ele nunca trouxe um pássaro de presente, como se espera de um caçador, mas em alguns momentos parece o mais selvagem dos felinos. E também tem seus momentos de calmaria, como quando chega sem ser percebido e sutilmente toca meu pescoço com seu nariz... Tão doce.
Meu felino é um mistério.
Acompanhem "No próximo verão" e deem opiniões.

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Bluebird
PoetryProsa e verso. Um compilado de contos, crônicas, poemas e cartas sem um destinatário especifico, e com um remetente qualquer. Alguns dos textos também estão no meu blog.