Jogos da Ascensão - Livro 1 da Duologia Jogos da Ascensão

Capítulo 11

Já havia passado duas semanas desde que descobri que os jogos desse ano eram nada menos que uma farsa. Bem, não tão farsa assim. Haveria um vencedor, os prêmios e tudo mais. Só que esse não era o foco. O verdadeiro jogo era enganar todos com uma novelinha romântica.

A verdade é que estava sendo um tanto difícil começar com essas coisas toda com o Príncipe Thomas tão distante. Depois daquela sessão de fotos, só o vimos no dia da segunda prova e uma vez ou outra eu tinha que dizer para mim mesma que não devia ser nada pessoal, mas uma vozinha lá no fundo dizia que ele poderia não estar muito feliz com a escolha. Então passei essas duas semanas tentando não pensar nisso enquanto participava de provas e estudava com Aliena.

Além das duas eliminadas da primeira prova, a convidada da Alemanha e o Príncipe Felipe perderam uma participante cada. Uma coisa que eu havia percebido com o passar do tempo, fosse por ouvir o Príncipe Willard falando ou até mesmo Aliena, era a forma como eles se chamavam entre si. Ric, Tommy, Liam, Call e April, variações ou pedaços de seus verdadeiros nomes, Heitor Ricardo, Thomas Henrique, Willard Liam, Felipe Callaway e Sara April.

Aprendi sobre como me referir a eles de maneira correta de acordo com seus títulos. O rei, obviamente, tinha que ser tratado como Vossa Majestade, mas havia um diferencial entre ele e a rainha. Ela não era de sangue nobre e nem uma onça por nascimento. Foi então que descobri que até entre eles havia diferenças, até dentro das camadas mais altas havia separações. Os da família real eram as onças de ouro, a tão conhecida onça pintada que já quase havia sido extinta de nossa fauna. Poderosa, forte, cheia de elegância e beleza. Nosso rei, a Onça de Etama, havia dado títulos a alguns de seus irmãos, fazendo de Thomas a Onça Herdeira, até que ele conseguisse um filho para assumir o trono após sua morte, e de Willard as Garras de Etama. Aliena não explicou muito bem o motivo disso, mas foi um título que pessoalmente havia me chamado atenção.

A Rainha Cassandra não era nada além de rainha, já que era real pelo casamento e não pelo sangue, o que para mim já parecia uma grande coisa, e abaixo de todos esses títulos havia os jaguares, que era só outro nome para onça, o poder militar de nossa nação.

Além disso, tive que aprender um pouco sobre a história de Etama, o que incluía saber mais sobre a guerra que nos levou até ali. Grupos terroristas se voltaram contra a antiga potência mundial, que revidou com um bombardeio nuclear que ficou para a história. Muitos inocentes morreram e o mundo todo ficou chocado com as medidas drásticas daquela nação. Em resposta, o mundo se reuniu numa guerra contra a potência sanguinária, para evitar que aquilo se repetisse. Mas claro que muito mais gente inocente morreu no meio disso tudo. No fim das contas, as nações aliadas aos perdedores foram divididas como espólio de guerra entre as vencedoras. Etama surgiu da unificação de grande parte da América do Sul. Noventa e cinco por cento do litoral Atlântico e grande parte do Pacífico pertenciam a nós, a maior potência de todo o continente.

Enquanto a Ásia e a Europa lucravam com tecnologia eletrônica, Etama era a principal fornecedora de celulose, produtos agrícolas, avícolas e pecuários. Do algodão em nossas roupas a carne em nossas mesas, tudo era produzido e dentro de nossa nação e exportado para todo o mundo. Nosso único grande concorrente era a Oceania, na pecuária, e a agricultura feita em muitos países da África.

Por algum motivo a Grã-Ásia não gostava muito de Etama e nossa recente união com a Alemanha vinha justamente de termos força suficiente para não precisarmos ter medo.

As camadas surgiram como uma forma de organizar o povo e ter um controle de população. A sexta grande onça de Etama, o avô dos atuais onças de ouro, aboliu essa separação por camadas, mas ninguém se livrou delas de verdade. Todos, por motivos culturais que parecem convenientes, continuam as usando como referência. Bandeiras e insígnias eram usadas com orgulho por membros da onça, arara e mico. Só nós, formigas, não tínhamos essas formas de identificação. Nossa função era trabalhar e não importava se nos orgulhávamos disso ou não.