Capítulo 28

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Uma vez cortei meu pé brincando na rua com os meninos. De início eu nem percebi, mas foi só meu corpo esfriar para a dor crescer. Samuel chorou com medo da tia Mercedes brigar com ele por ter me empurrado e eu chorei simplesmente por está assustada.

Algo parecido aconteceu comigo no momento que Aliena me colocou debaixo do chuveiro. Minhas mãos tremiam, meu coração acelerou e eu desabei chorando no chão. Quanto mais eu pensava no que aconteceu e no que poderia ter acontecido, maior se tornava o pânico. Quando eu fechava os olhos eu o via sobre mim, e meu rosto ainda estava doendo onde ele tinha me batido.

Aliena não fez perguntas, nem disse nada. Ela sentou no chão do banheiro comigo e me abraçou à medida que eu desabava. Eu nem tinha a deixado tirar minha roupa direito. Eu estava ali, encharcada, vestida dos pés à cabeça, e o penteado completamente destruído.

A sensação era de que tudo dentro de mim estava arrebentando, como se tudo em mim fosse feito de fios. Os minutos pareciam horas, ou talvez até mesmo poderia ter passado todo aquele tempo, já que meus dedos já pareciam enrugados. Foi quando ouvi o som da maçaneta do banheiro girar. Meu coração saltou na esperança de ser Liam, mas não foram seus olhos que apareceram ali para me socorrer.

Quando me viu vestida debaixo do chuveiro com Aliena, Thomas se aproximou e me puxou para ele, se sentando ali mesmo no chão, comigo em seu colo. Nada de perguntas. Ele só me deixou chorar e me apertava em um abraço sempre que achava necessário. Eu me agarrei a ele e não soltei, nem mesmo quando as lágrimas pararam de rolar.

— Tira ela daí. Ela já deve estar toda enrugada — Felipe disse ao irmão, com um olhar assustado, fazendo com que eu ficasse envergonhada. Talvez fosse melhor se ninguém soubesse o que aconteceu. Não queria ninguém me olhando daquele jeito, com pena de mim.

Thomas se levantou e me puxou no colo me tirando dali. Eles estavam tão encharcados quanto eu e seu cabelo caía sobre seus olhos. Enfiei o rosto em seu pescoço e percebi que ele cheirava a melão.

— Você está bem? — ele perguntou com todo o cuidado existente no mundo.

Eu fiz que não com a cabeça.

— Ena? — Felipe chamou. — Traz água pra ela, por favor.

— Está com fome? — Thomas quis saber.

— Não...

— O que houve? — Felipe perguntou. — Só mandaram nos chamar... Meu Deus. Seu rosto. Onde se bateu?

Eu me encolhi antes que Felipe pudesse tocar meu rosto, que ainda latejava. Eles não sabiam. Isso era bom, mas como eu explicaria tudo aquilo?

— Um guarda me contou sobre Nero ter agredido você. Eu já mandei o colocarem sobre custódia e eu vou fazer com que ele pague pelo que fez com você. Ninguém mais vai te machucar. Ninguém!

Ouvir aquilo de Thomas, sentir o beijo que ele deu em minha testa. Aquilo deveria fazer eu me sentir melhor, segura, mas não foi bem assim.

Naquela tarde, Thomas mandou Aliena arrumar minhas coisas e me levou para seu quarto. Fiquei ali sozinha, até ele voltar do estúdio dos jogos. Ele tomou um banho, vestiu um short solto, uma blusa, e me puxou para o lado dele na cama. Era diferente da última vez que estive ali. Ele não tomou liberdades, só me manteve ali, junto dele, para que me sentisse segura.

— Hoje minhas últimas peças foram eliminadas. Não quero ir com os outros. Vamos pra casa, vou providenciar que nosso casamento seja feito o quanto antes.

— Victória? Ela foi eliminada? — perguntei com uma mão sobre o peito.

— Sim — e foi tudo o que disse, arrumando meu cabelo atrás da orelha.

Jogos da Ascensão - Livro 1 da Duologia Jogos da AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora