Fui vencida pelo cansaço e quando acordei percebi que a criada que cuidava de meu quarto havia sumido. A senhora de idade havia sido substituída por uma mulher mais jovem que estava arrumando a mesa de café da manhã e que sorriu para mim quando percebeu que já tinha acordado. Explicou que agora seria a responsável por meu quarto e que não deveria hesitar em pedir a ela qualquer coisa que estivesse precisando.
Ela também havia preparado um banho para mim, mas eu disse que preferia o chuveiro, já que ainda sentia meu corpo enrugado por ter passado tanto tempo de molho na noite passada e não estava muito a fim de deitar em uma minipiscina.
Quando saí do banheiro, nem tive cabeça para opinar no que queria vestir. Acabei dentro de um vestido que eu nunca teria escolhido se não tivesse tão concentrada na mesa no meio do meu quarto. Folheados, bolo, pães, suco, café, bolachas, torradas e até frutas. Tinha de tudo ali e eu estava bem dividida entre ficar feliz, chateada ou triste.
Feliz por motivos óbvios, eu nunca em toda minha vida me imaginaria com uma mesa daquela toda para mim. Chateada por saber que não iria conseguir comer tudo aquilo, e triste porque queria poder dividir aquilo com minha família, mas com um abanar de mão eu espantei os pensamentos ruins. Eu sei que o que todos diriam é que eu deveria deixar de ser besta e aproveitar tudo aquilo o máximo possível e foi o que eu fiz. Convidei a criada para comer alguma coisa, mas ela recusou todos meus convites e eu já estava na quarta fatia diferente de bolo quando a porta do quarto foi aberta e minha felicidade quase acabou.
O Príncipe Willard entrou no quarto sem esperar convite, sentou na cadeira vazia do outro lado da mesa e ficou olhando cada coisinha ali, como se o quarto não fosse bom o suficiente para ele.
Caramba, aquela era a casa dele!
Se isso não bastasse, naquele momento até a respiração dele me parecia petulante. O cabelo estava bem penteado e até mesmo vestia colete e gravata. Gravata! Quem se veste assim para o café da manhã? E foi então que reparei no vestido azul que eu estava usando. Não era muito elegante, principalmente quando eu estava descalça e com o cabelo bagunçado por ter priorizado a comida a uma escova de cabelo.
Olhei para a criada para ter certeza de que eu não era a única pessoa ali achando a situação um tanto estranha, mas como eu não sabia como aquela gente agia, vai que fosse isso mesmo.
— É um bom quarto — ele comentou se servindo de alguns pãezinhos. — Prefere suco ou café? Talvez goste de chá, mas vejo que não tem na mesa.
— Suco...
— Aliena, mandaram meu leite?
— Já está servido, Alteza — a criada respondeu levando uma caneca de porcelana até ele.
Eu me senti um pouco mal naquele momento, estava tão perturbada pela falta de sono e depois por toda aquela comida que nem me dei o trabalho de perguntar seu nome.
— E tomei a liberdade de pedir seus pãezinhos.
— Muitíssimo obrigado — agradeceu parecendo um pouco exagerado demais para mim. — Eu realmente não sei o que faria sem você.
— Posso fazer uma lista.
Fiquei impressionada com o que vi. Não achei que uma criada poderia ter essa liberdade com um senhor, pelo menos eu não me atreveria àquilo, mas não durou muito. Ela nos deixou para arrumar minha cama, me deixando sozinha com ele, que parecia realmente interessado nos tais pãezinhos.
— Experimente. Não irá se arrepender. São meus favoritos desde criança — explicou dando uma mordida no que estava em sua mão.
— O que quer de mim? — acabei perguntando, porque era a única coisa que vinha na minha cabeça naquele momento. Pra que ficar me perseguindo? Se ele não queria dormir comigo, não podia acreditar que ele só quisesse alguém com quem tomar café da manhã.
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Jogos da Ascensão - Livro 1 da Duologia Jogos da Ascensão
RomansaO mundo de Danitria já foi dividido em camadas. Mesmo que essas teoricamente já não existam, ela e sua família ainda vivem como formigas: trabalhadores braçais, que formam a base da sociedade, destinados a servirem os membros das camadas mais altas...