Capítulo 6

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Eu tinha um quarto só meu e ele era tão delicadamente lindo que era de tirar o fôlego. As paredes eram brancas com alguns detalhes de mármore, mas os lençóis, toalhas e coisas do tipo eram azuis, como a cor de nosso time, equipe, sei lá como íamos chamar aquilo. Eu nem ao menos sabia para o que olhar. Havia alguns pequenos vasos de flores por todo o quarto e um espelho enorme todinho meu.

Não tinha o que me fizesse dormir. Fiquei rolando por horas na cama até que decidi levantar e procurar alguma coisa para fazer. Já passavam das quatro da manhã e algo me dizia que, para cuidar de um lugar tão grande como aquele, já devia ter um número considerável de gente trabalhando a todo vapor. No gueto o dia começa cedo e provavelmente todos em casa já estavam acordados a essa hora. Um único problema era que eu não estava mais em casa e eu não era uma criada para trabalhar em algo por ali àquela hora da madrugada. Eu estava acordada, não iria conseguir dormir de jeito nenhum e não estava nem um pouco a fim de ficar sem fazer nada até sabe lá que horas, quando fossem servir o café da manhã.

Peguei um roupão que estava dobrado numa poltrona, o vesti e fui até a porta, me guiando apenas pela luz que passava pelas cortinas da varanda. Tive medo fazer barulho ao abri-la chamado a atenção de todo mundo, mas isso não aconteceu. Acabou que peguei um susto quando dei de cara com um rapaz do lado de fora da minha porta.

— Onde pensa que está indo?

A iluminação do corredor estava fraca e de repente foi aumentando gradativamente. A expressão de seu rosto parecia tão confusa quanto eu estava.

— Quem ligou as luzes? — perguntei apontando para o teto, que curiosamente não tinha lâmpadas. Ele apenas era claro, como um céu marfim.

— Sensores de presença. Detectaram você, então iluminaram o ambiente — disse ainda me olhando de maneira confusa.

— Mas você estava aqui, por que estava escuro?

— São quatro da manhã. Depois da meia-noite eles reduzem a luz que desligam se o ambiente ficar quieto por muito tempo — explicou. — O que está fazendo acordada?

— Sou de Campina. Tenho que acordar esse horário se quiser chegar a tempo em meu trabalho — comecei a explicar, mas a expressão no rosto dele dizia que aquilo por si só não respondia sua pergunta. Então bufei e tentei outra coisa. — Tô sem sono e não quero ficar aqui dentro sem fazer nada. Será que posso dar uma volta ou algo do tipo?

Ele concordou com a cabeça, o que pra mim foi o mesmo do que dizer que havia entendido, e então ele levou uma das mãos a lateral do rosto. Achei que ele iria coçar o cabelo ou algo assim, mas daí ele começou a falar com a mão colada ao rosto.

— Dias, uma das garotas está com insônia. Vou levá-la para dar uma volta pelo palácio — disse olhando para o corredor. — A peça para a qual fui designado. Aham. Certo. — Então ele abaixou a mão da orelha e fez um sinal indicando o corredor.

Por mais que tentasse não olhar, eu estava mais que curiosa pra saber o porquê de ele estar falando com a mão. Quando ele percebeu que eu estava olhando pelo canto dos olhos, abriu um sorriso, parou e levantou a mão para que eu visse. Na verdade não tinha muito para ver. Era uma mão normal. Grande e masculina.

— Já viu algum telefone celular? — perguntou ainda sorrindo para mim.

Fiz que sim com a cabeça. O Sr. Lopes tinha um. Um tipo de pulseira comunicadora e um fone no ouvido, que parecia um brinco discreto. Pelo que eu tinha entendido, a mensagem era gravada pelo aparelho no pulso e você ouvia o outro lado através do fone, mas eu nunca tinha pegado um para confirmar. E não havia nada no braço do guarda e nem vi brinco fone algum em suas orelhas. Foi então que ele pegou minha mão e passou em seu pulso, fazendo com que eu o sentisse, bem onde a mão encontra o antebraço. Era da mesma cor da pele e até tinha o desenho de digitais, mas aquilo não era uma pulseira.

Jogos da Ascensão - Livro 1 da Duologia Jogos da AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora