Thomas apareceu naquela manhã. Foi gentil e atencioso como sempre, o que fez com que eu me sentisse mal por estar praticamente o traindo, mas não era como se eu tivesse prometido amor eterno a ele. Eu não o amava, e ele sabia disso, assim como eu sabia que ele também não me amava.
— Você parece tensa. Tem alguma coisa lhe incomodando?
Ele pegou minha mão, deixou um beijo ali e lembrei-me de sua promessa, de tentar ser o melhor marido do mundo para mim. Eu não merecia aquilo.
— Estive preocupada com a situação do reino. Fiquei sabendo que houve mais revoltas.
Não era bem uma mentira. Aquilo vinha me preocupando, mas não era o motivo pelo qual eu estava tensa.
— Sim... As coisas estão bem difíceis. Parece ser algum grupo rebelde revolucionário que está descontente com o governo. Ric está enlouquecendo tentando achar uma solução para tudo isso, mas as coisas não estão indo bem. Temo que o pior possa acontecer.
— O que seria esse pior?
— Lei marcial. Se for provado que esses tumultos são provenientes de um grupo organizado, eles serão considerados procurados e a lei marcial garante que a captura deles se torne prioridade em toda a nação.
— Tipo... Uma guerra?
— Exatamente como uma guerra.
Meu corpo estremeceu àquela possibilidade. Essa era uma das coisas que conhecíamos só na teoria. Quando nossos soldados iam para a guerra era para ajudar alguma nação aliada, mas a ideia de ver aquilo de perto não me parecia nem um pouco agradável.
— O que eles querem?
— Não faço ideia. Parece só um bando de gente querendo anarquia — confessou parecendo verdadeiramente derrotado.
Eu nem queria imaginar o tipo de preocupação com as quais ele tinha de lidar todos os dias.
— O que é anarquia?
— É quando ninguém governa ninguém. Cada um faz o que bem entende — explicou enquanto brincava com a xícara de café.
— Parece uma confusão.
— E é.
Comecei a pensar em como seria em Etama se essa tal lei marcial começasse. Guerra parecia um sinônimo de morte, fome, doença e tristeza, coisas que nós formigas conhecíamos bem, e com uma guerra, tudo ficaria pior ainda.
Parte de minhas aulas com Aliena falava dessas coisas. Pouco antes do grande país do norte atingir o oriente com uma bomba nuclear, aquela área estava há anos em um conflito sem fim. O governo lutava contra um grupo rebelde que insistia atacar civis enquanto em outro pedaço dois povos lutavam pela posse de uma terra que chamavam de santa. As coisas se tornaram tão insuportáveis que as pessoas chegaram a fugir a pé para outras nações. Milhares de pessoas fugindo da guerra que acontecia nas ruas de suas casas.
Para onde fugiríamos? Para o norte? A parte central do continente não aguentaria nem um terço da população de Etama, e no norte talvez acolhessem muitos de nós, mas e as capitanias do sul? Como elas atravessariam um país em guerra para poder fugir pelas fronteiras? Os outros continentes estão tão longe...
— Danitria? Tem alguma coisa de errado com sua água?
Levantei a vista meio confusa pela pergunta dele é só então dei por mim que estava encarando meu copo, enquanto pensava sobre as possíveis rotas de fuga para uma futura migração em massa.
— Só estava pensando.
— Está melhor da cabeça? Fiquei preocupado ontem.
— Não era nada sério. Eu só caí e a cabeça doeu um pouco com a queda, só isso. Vou viver bastante ainda — expliquei com um toque de humor que fez com que ele risse, e por mais estranho que fosse, seu sorriso me lembrou de Liam.
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Jogos da Ascensão - Livro 1 da Duologia Jogos da Ascensão
RomanceO mundo de Danitria já foi dividido em camadas. Mesmo que essas teoricamente já não existam, ela e sua família ainda vivem como formigas: trabalhadores braçais, que formam a base da sociedade, destinados a servirem os membros das camadas mais altas...