Capítulo 22

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Depois de um tempo sentada no sofá, encarando o vazio, levantei-me, fui até a varanda e tranquei a porta. A música da festa persistia em invadir meu quarto, o que só dificultava ainda mais a complicada tarefa de pensar.

Alguns dicionários definem limite como uma linha que marca o fim de uma área, uma fronteira. Limitar é o mesmo que determinar um limite, não ir além de alguma coisa.

Na noite que fui avisada sobre qual seria meu futuro, limites foram impostos, limites esses que nem precisavam ser citados. E como meu futuro esposo era um príncipe, a onça herdeira de Etama, a falta de fidelidade a ele era não somente uma descarada traição a um homem. Traindo Thomas eu trairia a casa real, trairia Etama. Eu traí Etama!

O mais irônico de tudo era que eu tinha feito isso com o homem que havia me colocado na situação de ter que obedecer tais limites. Willard Liam de Bragança Ravache Persiles. Willard. Liam.

As engrenagens de minha cabeça lutavam para entender como eu tinha conseguido ser tão cega para com meus próprios sentimentos. Estava ali o tempo todo e eu já não tinha certeza se eu tinha consciência de que estava me enganando.

Era fato que me senti atraída a ele no momento em que me tirou da piscina. Também não era segredo para mim a aproximação dele me causar sensações estranhas e eu gostava de estar com ele, mesmo que me irritasse na maioria das vezes. Era certo que se ele não tivesse me dito todas aquelas coisas eu nunca me daria conta que aquilo era mais, muito mais que pensamentos confusos.

Ele gostava de mim. Confessou ter sonhado comigo e ter ciúmes. Não era loucura e nem fantasias de uma garota apaixonada. Ele havia dito, e mais que isso, ele tinha me beijado. Claro que eu o beijei primeiro, o que foi insanidade, mas ele me puxou de volta e deixou com que aquilo confirmasse tudo o que havia me dito.

Nunca imaginei ter sentimentos tão conflitantes ao mesmo tempo. Não era a primeira vez que ele fazia isso comigo. Ele era um contraste ambulante, o que fazia quase ser lógica a minha estranha sensação de vergonha e animação, medo e encanto, uma louca sensação resultante da luta entre o desejo e a consciência.

Eu me apressei em trocar de roupa antes que Willard voltasse. Ele teve que dar as caras novamente na festa, mas disse que voltaria. Corri para um banho rápido de chuveiro, já que não poderia contar com a ajuda de Aliena.

Quando Liam entrou no quarto, eu estava coberta dos pés à cabeça. Não havia sido proposital. Simplesmente tinha vestido a primeira coisa confortável que tinha achado. Acabou dando a impressão de que era uma forma de manter as mãos dele longe de mim.

— O que aconteceu? Não achou as luvas? — ele perguntou com um sorriso desajeitado em seus lábios.

Eu nunca tinha visto ele tão perfeitamente fofo como naquele momento. Ele estava sem jeito de verdade. Ele que sempre parecia confiante e cheio de si, mas, naquele momento, parecia pisar em ovos, com medo de fazer alguma bobagem. Senti como se tudo dentro de mim tivesse derretido.

— Danitria? Sente-se bem?

— Sim. Estou bem. Eu acho...

— Eu — começou enquanto se aproximava com cautela, mantendo ambas as mãos nos bolsos da calça — eu queria pedir desculpas pelo meu comportamento.

— Seu comportamento?

— O beijo.

— Não... — respondi sem pensar.

Eu não queria que ele se desculpasse por aquilo. Tinha sido incrível. Mais que incrível. Aquele beijo tinha sido um dos melhores momentos da minha vida e, mesmo que tivesse sido um erro, era um erro pelo qual valia a pena pagar.

Jogos da Ascensão - Livro 1 da Duologia Jogos da AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora