Capítulo 8

5.8K 646 270
                                    

Quando soube que o castigo seria ficar a noite toda na piscina eu não tinha ideia do que isso realmente significava. Colocaram uma espécie de âncora lá dentro, que foi presa em uma de minhas pernas, a fim de me manter longe das bordas. Eu não tinha em que me apoiar. Teria que ficar ali a noite toda se quisesse permanecer nos jogos. O nome das outras duas garotas que haviam ficado nas posições finais, antes da minha, já tinham sido eliminadas automaticamente, e sendo a última eu tinha uma segunda chance, que aparentemente era mais uma forma de torturar a pessoa e fazer implorar para sair.

Mesmo que, normalmente, a água faça parecer que somos mais leves, a cada minuto que eu ficava ali, fazendo força para flutuar, sentia meu corpo pesando um pouco mais conforme o tempo passava. Tentei manter a calma me concentrando no porquê de estar ali. Pensei em casa e na garota que eu havia ajudado a completar a prova, Beatriz. Eu havia a encontrado pouco antes de ser levada para a piscina naquela noite e ela parecia diferente quando não estava se afogando.

Uma das sensações mais estranhas que já senti foi ouvi-la agradecendo por minha ajuda. Eu estava acostumada a trabalhar seguindo ordens dos outros e quando seu trabalho é servir as pessoas não existem agradecimentos ou qualquer reconhecimento por seus esforços. Somos invisíveis. Entramos na casa das pessoas, fazemos o que devemos fazer e saímos. Na casa dos Lopes as coisas não eram tão assim, mas eles são uma exceção. Pelo menos ele é. Então ouvir Beatriz me agradecer por tomar uma ação que ninguém mais teve, arriscando minha permanência nos jogos foi, ao mesmo tempo, bom e desconcertante.

Eu sabia que aquilo era um jogo e ajudar os outros não podia se tornar uma rotina. Querendo ou não somos oponentes e tudo isso me fez chegar à conclusão de que, talvez, eu não fosse a melhor pessoa para estar em um jogo desse. Não sei se conseguiria pensar só em mim, não levar os outros em consideração. Provavelmente essa é uma qualidade que nos jogos se torna uma fraqueza.

Enquanto eu andava do meu quarto até a piscina podia quase sentir as câmeras me acompanhando. Havia as dos jogos em pontos estratégicos, mas, além delas, havia as câmeras de vigilância do palácio, que Adam disse estarem escondidas em todos os lugares. Era estranho pensar em mais de milhões de olhos te observando, e mais estranho ainda saber que isso não é só uma impressão.

Enquanto eu lutava para me manter flutuando, uma das câmeras dos jogos, que andava sozinha, me encarava e Adam montava guarda ali perto, para me tirar da água caso eu desistisse, o que eu estava quase pra fazer, já que uma dor tomou conta das minhas pernas. Mas, antes que eu pudesse fazer algo tão estúpido quanto, a câmera simplesmente desligou, com as lentes abaixadas, encarando o chão.

— Adam? — chamei.

Ele não respondeu, mostrando que algo de errado estava acontecendo. No entanto, outra voz surgiu por detrás de mim.

— Showzinho interessante o seu hoje cedo.

— Showzinho? — perguntei ao me virar, mas a baixa iluminação não me deixava saber com quem estava falando.

— Sim. Ou prefere chamar aquilo de ato heroico?

Seja lá quem fosse, estava me provocando. Dava para notar no tom da voz. Um tom crítico e nojento, que parecia querer deixar claro o julgamento que tinha tomado a iniciativa de fazer, mesmo que ninguém tivesse perguntado sua opinião sobre o assunto. Era um homem petulante demais para ser um dos funcionários. Só então eu, burra, juntei as peças do quebra-cabeça. Eu fiz merda! Ajudei uma garota durante uma prova. E se fosse proibido e só não fizeram nada comigo na hora para não passarem vergonha em rede nacional? Eu havia assinado algumas coisas, mas não conseguia lembrar se havia algo sobre isso. A câmera na piscina estava desligada. Nada estava registrando aquela conversa. Eu estava ferrada!

Jogos da Ascensão - Livro 1 da Duologia Jogos da AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora