Não quis acreditar no que estava vendo. Estava acontecendo em todo o reino. Ataques seguidos de mais ataques, em todas as capitanias. Quando perguntei para Aliena sobre eles, ela pegou um controle no bolso e um holograma apareceu em frente a uma parede lisa no quarto.
Estava no noticiário e um repórter mostrava os estragos de um desses ataques em Aires, capitania no sudoeste de Etama. Uma escola tinha sido explodida naquela madrugada. O que não fazia muito sentido. Por que explodir uma escola?
Congelei ao lembrar que aquela era a capitania de Victória e sem pensar duas vezes fui em direção ao quarto dela, mas antes de chegar lá, Beatriz me segurou pelo braço e perguntou onde eu estava indo.
— Preciso falar com Victória.
— Não acho uma boa ideia...
Eu sabia exatamente o que ela queria dizer com aquilo. Eu a tinha magoado, e o pior de tudo era que eu nem queria aquilo. Não queria Thomas, nem queria estar naquela confusão toda com Willard. Tudo o que eu queria era resolver os problemas lá de casa, mas o que consegui foi acumular mais problemas. Eu nem sequer havia conseguido falar direito com eles na noite anterior.
— Olha, eu sei que fiz besteira, sei que ela está zangada, mas eu preciso explicar as coisas pra ela.
Lutei com Beatriz para soltar meu braço, mas ela não me soltou nem quando eu a arrastei pelo corredor em direção ao quarto de Victória. Nessa agonia, esbarramos em um guarda que passou por nós o fazendo derrubar os itens na bandeira de uma criada que estava ao seu lado.
Outros guardas correram para ver o que havia acontecido, assim como todos que estavam nos quartos próximos. Quando me virei para a porta de Victória, Thomas estava nos encarando como se fôssemos alguma espécie de tapetes mal-assombrados.
— Thomas?
A única coisa que passou pela minha cabeça era que talvez eu tivesse errado de corredor, mas Victória apareceu bem atrás dele.
— Vocês estão bem? — ela perguntou.
— Queria falar com você...
— E por isso se jogou no chão?
O que Thomas estava fazendo no quarto dela? O que eu estava fazendo no chão? Por que eu queria falar com a Victória mesmo? Essas perguntas ficaram rolando em minha mente e eu não sabia como respondê-las.
— Minha cabeça tá doendo... — reclamei baixo esfregando minha testa.
— Eu te ajudo — Thomas disse me ajudando a levantar e se oferecendo para me levar até a enfermaria.
Eu expliquei que estava bem, até mesmo tentei ajudar a criada a limpar a bagunça, mas ele insistiu para que eu descansasse e fosse à enfermaria se a cabeça continuasse doendo. No fim das contas, eu estava de novo trancada naquele quarto, já de saco cheio com a vida.
Almocei ali, lanchei ali, além de ter que aguentar Aliena rindo da minha irritação por Thomas ter dado ordens para que eu ficasse no quarto, como uma velhinha doente. Era só uma dor de cabeça, e mesmo que eu tenha ficado com cólica depois, não que alguém tenha contado para ele, não havia motivos para ficar de cama.
Quando Willard chegou, no fim da tarde, eu estava largada em cima da cama, me afogando no tédio.
— Fui informado que você estava indisposta — comentou assim que sentou em minha cama.
— Cala a boca!
Sua risada tomou conta do quarto e por mais que eu quisesse ficar zangada, era impossível com ele ali. Minha cara emburrada se transformou em um sorriso frouxo e toda a frustração e irritação do dia se tornaram em paz no momento em que ele me puxou para sentar com as costas apoiadas em seu peito. Um beijo doce foi depositado em meu ombro enquanto seus dedos procuravam os meus para se entrelaçar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Jogos da Ascensão - Livro 1 da Duologia Jogos da Ascensão
RomanceO mundo de Danitria já foi dividido em camadas. Mesmo que essas teoricamente já não existam, ela e sua família ainda vivem como formigas: trabalhadores braçais, que formam a base da sociedade, destinados a servirem os membros das camadas mais altas...