De Repente você

Prólogo

Um ano atrás.

Saí correndo em direção a porta, estava com o rosto coberto de sangue, desci as escadas da minha varanda gritando para ver se alguém escutava. Desci a rua em direção a esquina de baixo, onde ficava a casa da minha mãe, ela poderia me ajudar, pois nunca concordou que eu vivesse essa vida de violência, mas eu sempre quis tentar mais vezes, do que largar Cláudio, que era meu primeiro namorado e pai dos meus dois filhos.

Batendo na porta gritei:

- Mamãe, abre pra mim, socorro!!!!! - Não posso mais ficar com Cláudio, ele não merece que eu tente mais uma vez.

Minha mãe abre a porta chorando, me abraça e me leva para dentro. Ela mais do que ninguém sabe como tentei continuar nesse casamento fracassado a muito tempo. Naquele momento eu percebo que minha vida nunca mais vai ser a mesma, mas nunca vou cansar de correr atrás dos meus sonhos!

Naquela tarde eu vou a delegacia, faço minha denúncia contra a violência do meu marido, peço uma medida judicial para que meu ele nunca mais me agrida de novo, busco as crianças na escola e vou para casa da minha mãe onde vou passar uns dias até me decidir que rumo tomar.

Depois de alguns dias separada e já com a cabeça mais fresca eu decido dar um rumo na minha vida. Antes de casar me formei em pedagogia, pois amo crianças e queria ser professora, então decido que vou começar a procurar emprego. Mas como os tempos estão difíceis e estamos em março eu não consigo que nenhuma escola me contrate.

Em uma tarde de domingo recebo uma ligação de minha grande amiga Samira que mora em uma cidade pequena no interior, chamada Pirassununga.

-- Oi Alicia como vc está? - diz minha amiga empolgada.

-- Estou bem na medida do possível tenho muitas coisas pra te contar! -- Me separei a pouco tempo do Claudio, e agora estou morando na casa da minha mãe com as crianças.- Falo com pouca animação.

-- Ah já era hora de você largar esse homem grosso que nunca te deu valor e só soube te bater.

-- Não fala isso Samira, amei muito ele, por um tempo fomos felizes e ele é o pai do Matheus e da Mariana.

--Bom isso não posso negar, vocês têm filhos lindos, mas vamos falar a verdade ele nunca foi um pai para essas crianças!

É verdade, éramos um casal apaixonado quando no casamos, mas quando Mariana nasceu Claudio se tornou um homem muito diferente, no começo achei que era a responsabilidade de ser um bom pai, mas com o tempo fui percebendo a disputa dele com a própria filha pela minha atenção, o ciúme que ele tinha era doentio, ele se igualava a filha. Quando descobri que estava gravida de Matheus ele me tratou muito mal, disse que o filho não era dele e que eu tinha ficado gravida de outro, eu fiquei gravida por um descuido devido a uns antibióticos fortes que tomei para infecção de garganta. Naquela tarde eu apanhei dele pela primeira vez, ele bebeu muito e chegou em casa bêbado. Desde esse dia ele ficou um homem cada vez mais agressivo e eu fiquei com a responsabilidade de educar sozinha meus filhos.

Graças a Deus fui forte e criei eles com educação, pois todos que me conhecem elogiam meus filhos, apesar de serem um pouco barulhentos.

Samira me tira de meus pensamentos:

-- Alicia o que você vai fazer agora?

--Eu não sei Samira, já procurei emprego em todas as escolas daqui de São Paulo e não consigo achar nada. Estou muito desanimada, acho que vou ter que aceitar qualquer coisa que aparecer, preciso ajudar minha mãe nas contas de casa.

-- Sua sorte mudou minha amiga!! - Fala Samira empolgada, gritando no telefone e me deixando tonta.

O que foi que aconteceu Samira? - Perguntei nervosa.

-Ontem minha irmã veio me falar que uma das professoras da escola que ela é diretora pediu demissão, vai se casar e fazer a mesma burrada que você, vai viver às custas do marido.

- Não fala assim Samira eu amava o Claudio quando me casei, ou achava que amava!!! Falei nervosa para que ela sentisse que eu estava chateada.

- Tudo bem, não vamos mais tocar nesse assunto, vamos falar sobre sua nova vida e seu novo emprego!

- O que???

- Meu novo empregooo??- falo espantada, com Samira.

- É boba, seu novo emprego, minha irmã está precisando de uma ótima professora e você de um emprego, você não acha que tudo se encaixa?

- Mas como vou mudar de cidade Samira?

- Fácil, você vem para cá e mora comigo, se tudo der certo você traz seus filhos depois.

Fico pensando, será que vai dar certo, eu vou conseguir deixar meus filhos por algum tempo?

O que será que o futuro me reserva?